De acordo com a empresa de análise de dados, IHS Markit, o crescimento da economia mundial sofreu uma desaceleração para 2,6%, menos 0,6 pontos percentuais do que o registado em 2018. Para o ano que acaba de estrear, antecipa-se uma maior estabilidade dos mercados internacionais, potenciada pelos «gastos dos consumidores e melhores condições financeiras», aponta Nariman Behravesh, economista-chefe da IHS Markit, que compila as 10 principais previsões económicas para 2020.
- EUA em rota ascendente
A subida do produto interno bruto (PIB) real dos EUA situou-se acima da tendência verificada entre 2017 e 2019, graças aos estímulos fiscais proporcionados pela política governamental, evidencia Nariman Behravesh. No entanto, à medida que os efeitos destes incentivos se extinguem, a economia americana parece estar a subsistir, com taxas de crescimento de 2% e 2,1% no segundo e terceiro trimestres, respetivamente. «Para o quarto trimestre, estimamos uma taxa mais baixa, de 1,6%», revela o economista.
Observando a recuperação da produção da General Motors, o «acordo comercial [com a China] da primeira fase ajudará alguns», afirma Behravesh, assim como o aumento previsto para 2020 de 2,7% relativamente aos gastos dos consumidores – que representam 70% do PIB – irão «sustentar o crescimento da economia em geral».
A IHS prevê que o PIB real suba 2,1% em 2020, 2%, em 2021, e uma média de 1,6% em 2022 e 2023.
- Europa estabiliza e recupera
«O abrandamento do crescimento da Zona Euro em 2019 para 1,2%, comparativamente a 2018 (1,9%), foi alarmante, com algumas grandes economias, como Alemanha e Itália, a chegarem perto da recessão», admite Nariman Behravesh. «No entanto, há alguns sinais de o pior pode já ter passado», reconhece.
Por consequência, a IHS Markit espera que o crescimento da Zona Euro se estabilize nos 0,9%, aproximadamente, em 2020, antes de ganhar ritmo até aos 1,1%, em 2021.
Por outro lado, apesar dos resultados das recentes eleições legislativas, o Reino Unido enfrenta vários desafios macroeconómicos, antecipando-se uma queda do crescimento de 1,2%, em 2019, para 0,6%, em 2020. No ano seguinte, deverá recuperar para 0,8%.
- Impostos controlam dívida japonesa
No Japão, a taxa de crescimento do PIB real subiu para 1,1%, em 2019 (mais 0,8 pontos percentuais do que no ano anterior). No entanto, no quarto trimestre, é provável que esta variável registe uma queda, dado o aumento dos impostos sobre as vendas de 8% para 10%.
«As boas notícias prendem-se com o facto de que a subida dos impostos sobre as vendas irá ajudar a estabilizar a dívida do Governo do Japão, a maior no mundo desenvolvido», aponta o economista. «Depois de abrandar para 0,3%, em 2020, o progresso do PIB real japonês está projetado para recuperar para 0,5%, em 2021», explica.
- China em derrapagem superior a 5%
A taxa de crescimento da China tem vindo a desacelerar progressivamente desde 2010 – altura em que se situava nos 10,6%. Em 2019, o crescimento previsto de 6,2% será o mais lento registado em quase 30 anos.
«Atualmente, os legisladores estão num ponto de equilíbrio», afiança o economista, acrescentando que «gostariam de reduzir a dívida pública ou, pelo menos, impedir o respetivo aumento, enquanto proporcionam estímulos suficientes para impedir que o crescimento abrande tão depressa».
O IHS Markit prevê uma desaceleração do PIB para 5,8%, em 2020, e 5,6%, em 2021.
- Emergentes em dificuldades de expansão
Apesar do abrandamento da taxa de crescimento chinesa representar, por um lado, uma enorme vantagem para a nova concorrência, os países emergentes enfrentam ainda dois grandes desafios: um mundo desenvolvido em fase de recuperação, que oferece fracas condições para receber os novos concorrentes, e a redução do preço das commoditys.
«A frágil recuperação do mundo desenvolvido e a queda dos preços das commoditys, acompanhadas por uma guerra comercial fervorosa e um declínio contínuo na taxa de crescimento da China, significa que há pouca margem para expandir o mundo emergente, se é que há alguma», analisa Beharavesh, que ainda destaca «o nível recorde da dívida dos países emergentes, incentivado por taxas de juro globais reduzidas».
- Preços das commoditys deslizam
As forças que contrabalanceiam o mercado das commoditys permaneceram em pleno vigor ao longo de 2019, com os preços a aumentar no primeiro semestre e a cair no segundo.
Em particular, o mercado petrolífero tem sido atormentado por uma série de notícias com efeitos divergentes que apontam para um crescimento global fraco, cortes na produção por parte da OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo, aumento da produção por membros externos à OPEP, ataque às instalações de produção da Arábia Saudita e guerras comerciais. A IHS espera que o preço médio desta matéria-prima diminua para 57 dólares por barril em 2020, menos 7 dólares do que o observado este ano.
- Inflação controlada
Há já algumas evidências que mostram que as taxas de inflação de preços e salários podem estar em rota ascendente no mundo desenvolvido. Contudo, as hipóteses de atingirem flutuações muito discrepantes são mínimas. «O fraco crescimento e a redução do preço das commoditys irão manter a inflação sob controlo», garante o economista.
A inflação global de 2020 deverá chegar aos 2,6%.
- Ciclo de flexibilização monetária perto do fim
O Sistema de Reserva Federal dos EUA reduziu a taxa de fundos federais três vezes ao longo do último ano, enquanto o Banco Central Europeu iniciou um programa renovado de compra de títulos e mais cortes nas taxas de juro. Nariman Behravesh acredita que o ciclo de flexibilização monetária a que assistimos contribuiu para suportar o crescimento em diversas partes do globo, mas deverá estar prestes a atingir o seu prazo de validade.
- O dólar vai valer mais
Ajustado pela inflação e pelo câmbio comercial, o dólar aumentou cerca de 9%, desde o início de 2018. «A economia americana tem vindo a crescer mais rapidamente do que qualquer outra do mundo desenvolvido e os diferenciais das taxas de juro entre os EUA, de um lado, e a Europa e o Japão, do outro, favorecem os ativos contabilizados em dólares», esclarece o economista. «No futuro, é provável que estas dinâmicas continuem a exercer influência, mas com menor intensidade», considera.
Os especialistas da IHS Markit esperam uma valorização do dólar de 3%, durante os próximos dois anos, antes de iniciar um processo de regressão gradual e longo.
- Recessão improvável
Apesar dos níveis historicamente elevados de incerteza política, a recessão já não se afigura o cenário mais provável. «O medo de uma recessão foi generalizado no início de 2019», refere Behravesh. «No verão, a IHS Markit avaliou os riscos de uma recessão [que deveria situar-se] próxima dos 30%. Não obstante, a economia global parece ter-se esquivado – a atividade de produção dá sinais de ter atingido um volume mínimo e as condições financeiras melhoraram consideravelmente», o que «conduziu à diminuição do risco de recessão dos EUA e do resto do mundo para cerca de 20%», elucida.
No entanto, o economista sublinha que «se mantém uma grande ameaça à economia global, quer seja pela via de um agravamento do conflito comercial entre os EUA e a China, quer pela sua expansão potencial para outras partes do mundo, nomeadamente a Europa. Um outro erro que poderá surgir durante a formulação de políticas prende-se com a hesitação de vários governos, especialmente dentro da Zona Euro, de oferecer mais estímulos fiscais».