Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Depois de fazer fortuna com as marcas Von Dutch e Ed Hardy, o designer francês Christian Audigier volta ao jogo: vai tentar levar para o mundo a brasileira Pretorian

Ruy Drever (de boné), fundador da empresa, ao lado do novo sócio: o plano é convencer as celebridades a vestirem (Foto: Claus Lehmann)

Depois de quase quatro anos de férias, Christian Audigier vai voltar ao trabalho. Quando vendeu por US$ 62 milhões a marca de roupas Ed Hardy, em 2011, o empresário francês resolveu comprar um barco e viajar pelo mundo – da Tailândia ao México, gastou o tempo mergulhando em incontáveis paraísos perdidos. Antes, é verdade, a vida estava corrida. Nem ele tinha previsto o sucesso explosivo da grife que criou a partir das tatuagens do artista californiano Don Ed Hardy. As vendas tinham sido boas desde as primeiras coleções (em 2008), mas simplesmente saíram do controle após celebridades como Madonna e Chris Brown serem clicadas com camisetas da marca.

“Nunca gastei com marketing, meu mar­keting foram os paparazzi”, ele diz. “Começaram a chegar tantos pedidos que eu reajustava o preço a cada segunda-feira e as lojas continuavam comprando.” Um boné da marca chegou a custar US$ 150. Nessa espiral, em quatro anos, o faturamento da Ed Hardy foi de quase nada para US$ 650 milhões. Então Audigier vendeu o negócio e saiu para navegar. Seis meses atrás, ele caminhava pelo Rio de Janeiro quando bateu o olho numa camiseta preta e amarela da marca brasileira Pretorian, especializada em artigos de luta. As férias prolongadas estavam para terminar.

As cores, aliás, provocaram o primeiro interesse. “Grandes marcas usam preto e amarelo, como Black & Decker e Caterpillar.” Audigier também gostou do nome, que lembra guerreiro, gladiador. Num camarote do carnaval carioca de 2014, ele comentou com Roberto Scafuro, sócio da rede de casas noturnas Café De La Musique, que gostaria de conhecer o dono da tal Pretorian. Scafuro fez a ponte. Audigier foi então passar um dia em São Paulo para conversar com Ruy Drever, uruguaio radicado desde os 10 anos no Brasil que, em 2009, havia fundado a Pretorian. Foi um dia produtivo. “Eu mostrei a loja da rua Oscar Freire e algumas revendas a ele. Depois rascunhamos num papel umas ‘contas de padaria’ para formatar o negócio”, diz Drever. “Cheguei a contratar um helicóptero para levá-lo ao aeroporto, só para ganhar uma hora a mais de conversa. No fim, quando ele foi embora, a gente tinha chegado a um acordo.”

Roberto Scafuro, o terceiro sócio, que fará o contato com os famosos (Foto: Claus Lehmann)

Audigier e Drever viraram sócios numa joint venture que, na prática, será a operação da Pretorian nos Estados Unidos, na Europa e em outros países. A marca – que nunca tinha vendido uma camiseta fora do Brasil – tentará reviver o sucesso da Ed Hardy, com uma linha de roupas desenhadas pelo francês. (Antes da Ed Hardy, Audigier foi designer da Von Dutch, no período em que a marca estourou globalmente.) Cada um tem 45% do negócio. Os 10% restantes são de Scafuro, cuja missão será convencer as celebridades a vestirem. O empresário afirma ter amigos como Mick Jagger e Gerard Butler – aliás, ele diz que quem o apresentou a Audigier, cerca de 15 anos atrás, foi o ator Jean-Claude Van Damme. O designer francês também terá a opção de comprar futuramente parte da Pretorian no Brasil, onde a marca faturou R$ 70 milhões em 2013, dos quais 90% vieram de equipamentos esportivos.

Audigier já colocou a mão na massa. Redesenhou o logotipo e criou uma nova coleção para a Pretorian. Nas tentativas anteriores de vender roupas da marca, Drever tinha errado a mão no design. “Tentamos fazer um pouco de tudo, até trench coat de couro e roupas sociais. Ao mesmo tempo, bermudas de treino para academia”, diz o empresário. “Foi um equívoco.” Agora a marca terá uma coleção mais coesa e com uma “mensagem” mais simples – as primeiras peças estampam apenas o nome e o logotipo da Pretorian.

Em sentido horário, a partir da foto à esquerda: detalhes da nova coleção desenhada por Audigier; boneco de Júnior Cigano, um dos atletas que a Pretorian já patrocinou; e a fachada da recém-inaugurada loja de Los Angeles (EUA) (Foto: Claus Lehmann)

Vista para Hollywood
A nova identidade vai se afastar da pegada esportiva e se aproximar da street wear, a moda das ruas – a mesma da Ed Hardy e da Von Dutch, vale dizer. Mas as semelhanças terminam aí. Primeiro porque as estampas da coleção inaugural não têm nada a ver com o estilo colorido e caótico da Ed Hardy. Segundo porque a estratégia de preços será bem diferente. “Na Ed Hardy, conforme fui subindo os preços, as pessoas começaram a achar que, porque as peças eram caras, eram exclusivas, e compravam ainda mais”, diz Audigier. “Mas isso foi na década passada. Agora, ninguém mais gosta de pagar caro. A moda caminhou para o fast-fashion”, afirma Drever. As roupas da Pretorian terão um preço “normal”. (Essa suposta “exclusividade” da Ed Hardy foi o que acabou causando a derrocada da marca, após a saída de Audigier. Como o sucesso tinha sido construído sobre esse atributo, ela não resistiu à invasão de camisetas piratas feitas na China e ao fato de que “todo mundo passou a usar”. Deixou de ser cool e acabou sendo fechada pouco depois do negócio. “Vendi na hora certa, quando a marca estava no topo”, ele diz.)

Audigier também está reformulando a produção da marca brasileira. Antes, as roupas eram feitas no Brasil. Agora, serão fabricadas nos EUA, na China e em Portugal. “É mais barato e o algodão e o caimento são melhores”, ele afirma.

A Pretorian está de olho em outros esportes, além do MMA: começou a patrocinar atletas de skate, motocross e corrida

Em julho de 2014, a Pretorian fincou a primeira bandeira nos EUA. No número 918 da North Western Ave, em Los Angeles, numa região descolada e com vista para o icônico letreiro de Hollywood, a marca abriu uma loja de 300 metros quadrados. Nos fundos, também instalou um escritório. A cidade das estrelas será o novo quartel-general da Pretorian. Audigier mora em Los Angeles há mais de dez anos e os outros dois sócios se mudaram para lá. Drever nomeou um diretor-geral (Richard Twidale, ex-HP e Avaya) para cuidar das coisas no Brasil.

Para começar a operação americana, os sócios gastaram surpreendentemente pouco: US$ 2 milhões. “Já tive loja na Melrose Ave, era um aluguel altíssimo, uma bobagem”, diz Audigier. “Agora, tudo será enxuto. Nem vamos gastar com consultores e advogados, porque já conheço os trâmites.”

A marca acaba de fechar os primeiros pedidos. A coleção que chega em abril será distribuída para lojas de departamento, como a Kitson e a Fred Segal. Também terá peças enviadas para Dubai, Japão, Alemanha, França, Itália e Espanha. Ao todo, a primeira fornada vendeu US$ 2,5 milhões – e são quatro coleções desse tipo por ano. A intenção é que, nos próximos pedidos, as grandes varejistas esportivas abram espaço para a Pretorian – como a Sports Authority e a Dick’s. “Se a marca ficar conhecida pelas roupas, depois eu posso vender os equipamentos esportivos por lá”, diz Drever. Na outra frente, os sócios começam a trabalhar naquilo que pode ser a chave do sucesso: fazer a marca se tornar bacana. “Na semana passada eu jantei com o Stallone e falei para ele sobre a Pretorian”, diz Audigier. “Talvez ele faça uns treinos com a camiseta da marca.” A expectativa é que o faturamento nos EUA fique entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões em 2015.

christian audigier Nascido em Avignon, sul da França, tem 56 anos e é casado com a modelo brasileira Nathalie Sorensen. Nos anos 80, ajudou a revolucionar a indústria de sacolas de roupas, bem caretas até então. É conhecido... (Foto: Claus Lehmann)

A Pretorian fará ainda outro movimento importante. A marca se tornou sócia de um fundo de investimentos (o nome ainda é protegido por acordo) para entrar no mercado de suplementos alimentares e barrinhas de cereal. Em março, chegam os produtos “de comer” da Pretorian – e pelo jeito o volume será expressivo. “O fundo já investiu R$ 70 milhões numa fábrica”, diz Drever.

Em cinco anos, a Pretorian tornou-se líder em equipamentos de luta no Brasil, passando a Everlast. Em parte porque as pessoas certas vestiram a marca: lutadores de MMA como José Aldo, Júnior Cigano e Minotauro, patrocinados em algum momento pela fabricante. No ramo da moda e nos EUA, estará entrando em um mercado potencial muito maior. Se funcionar bem, será um golpe certeiro.

http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Acao/noticia/2015/03/bras...

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