Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Com o estilista Raf Simons, a grife francesa apaga o escândalo que a abalou em 2011, reconquista a clientela de luxo e cresce espetacularmente

CHIC DEMOCRÁTICO Os trajes diurnos exibidos pela Dior em Paris (Foto: Dominique Charriau/WireImage e Catwalking/Getty Images)

Os cerca de 1.500 convidados do desfile primavera-verão 2015 da grife francesa Christian Dior mal puderam acreditar no que viam ao chegar, no último dia 26, ao pátio do Museu do Louvre. No lugar de uma tenda branca, uma monumental construção espelhada refletia a fachada do prédio histórico. Durante toda a madrugada, empregados poliam os espelhos para que eles não tivessem mancha. Dentro, quatro salões acomodavam clientes, compradores, jornalistas e celebridades, como a ex-primeira-dama da França Carla Bruni e a atriz brasileira Ísis Valverde.

Olhar-se no espelho e refletir sobre seu papel na indústria bilionária da moda foi o que fez a Christian Dior há três anos e meio, quando seu estilista, o inglês John Galliano, foi sumariamente demitido depois de ser flagrado, bêbado, distribuindo impropérios antissemitas num bar de Paris. Foi o primeiro escândalo ao longo de quase 68 anos de uma história irrepreensível. Galliano atribuiu seu comportamento à pressão de criar seis coleções anuais, opinar nas ações de mar­keting e fazer presença nos inúmeros eventos da marca. Durante um ano e meio, o ex-assistente de Galliano, Bill Gayten, assumiu provisoriamente a direção artística da Dior, com coleções burocráticas e nada inspiradoras, enquanto seu chefe, o empresário Bernard Arnault, procurava um substituto. Alguns se candidataram ao posto sem as credenciais necessárias. Outros recusaram o trabalho por medo da pressão.

 
 
 
 
 
 

Em julho de 2012, o inferno chegou ao fim. O estilista belga Raf Simons desfilou em Paris sua primeira coleção para a Dior e foi recebido de braços abertos pela crítica. Admirado há uma década por suas criações minimalistas na marca alemã Jil Sander e em sua própria grife, Simons tratou de “limpar” os excessos praticados por Galliano. Debruçou-se sobre um guarda-roupa realista, priorizou peças diurnas para uma clientela que não frequenta mais as festas glamourosas dos anos 1950. A Dior pôs os pés no chão.

As primeiras coleções propunham uma ruptura drástica demais. O minimalismo belga de Simons ainda parecia distante das fãs da Dior. Ele decidiu fazer então o que esperavam: em março, começou a mergulhar nos arquivos da maison da Avenida Montaigne para traduzir para o presente os códigos históricos que fizeram da Dior o que ela é hoje. Ao lado de Chanel e Louis Vuitton, forma o tripé do luxo internacional.

Na semana passada, Simons trouxe peças que podem custar até € 200 mil para uma realidade terrena. Adaptou-as a bolsos mais democráticos. “Gosto que as mulheres interpretem minhas roupas como desejem, misturando casacos século XVIII com jeans e T-shirts”, diz ele. A contrário de Galliano, Simons é discreto e pragmático. Veste sempre um suéter de tricô preto e, depois do desfile, dá adeusinho à mãe, presença obrigatória na primeira fila. “Nos ateliês, ele é adorado pelo staff e age quase como um monge, de tão educado e silencioso. A época dos ataques de estrelismo acabou”, diz uma funcionária da Dior.
 

Raf Simons inovou nos acessórios e agradou a jovens como Ísis Valverde (abaixo) (Foto: Jacques Brinon/AP e divulgação (2))
Ísis Valverde (Foto: Pascal Le Segretain/Getty Images)

Os acessórios também ganharam versões modernas: óculos espelhados e arredondados, escarpins de solado de borracha, tênis floridos, bolsas com flores pintadas à mão e cores novas na famosa Lady Dior, usada pela princesa Diana nos anos 1990, outro ícone da marca. “Não imaginava que houvesse tantos vestidos lindos para minha idade”, disse Ísis Valverde em sua primeira incursão na primeira fila de um desfile internacional.

A desaceleração econômica dos países emergentes não parece ter afetado a Dior. O lucro líquido no período de julho de 2013 a junho de 2014 foi de R$ 4,3 bilhões. “Crescemos 7%, segundo o último relatório, e quase 20% desde a entrada de Simons, um índice considerável se levarmos em conta as performances de nossos competidores”, diz Sidney Toledano, CEO da Dior. A grife não admite, mas existem planos para a expansão no Brasil, com mais uma loja em São Paulo e outra no Rio. O crescimento pífio da economia brasileira afetou pouco a indústria do luxo, que deve se expandir entre 4% e 6% em 2014. Fala-se em desaceleração, não em retração. O aperto que a Receita Federal pretende promover nos aeroportos em 2015 promete inibir as compras no exterior e melhorar as vendas das filiais locais. “Quando uma mulher experimenta a excepcionalidade da qualidade do trabalho dos ateliês Dior, dificilmente consegue ficar longe dela”, diz Toledano.

http://epoca.globo.com/vida/noticia/2014/10/dior-brenasceb.html

Exibições: 193

Responder esta

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço