O denim, apesar da aparência bruta e popular, é fruto de uma engenharia têxtil complexa. Embora o algodão continue sendo o fio condutor da maioria dos tecidos jeans, a inserção de outras fibras no urdume e na trama tem sido cada vez mais comum — seja para acompanhar a demanda por conforto, seja por exigências de performance ou por pressões econômicas.
Abaixo, um panorama das misturas mais utilizadas na produção atual de denim, seus impactos e tempos estimados de decomposição:
Algodão 100%
-Decomposição: 3 a 5 meses
-Natural, respirável e biodegradável — porém pode ter seu tempo aumentado quando recebe tingimentos ou amaciantes sintéticos.
Algodão + Elastano (Spandex/Lycra)
-Decomposição: Algodão (3-5 meses) + Elastano (até 30 anos)
-Muito usado em jeans femininos e skinny; confere elasticidade, mas é uma fibra sintética não biodegradável.
Algodão + Poliéster
-Decomposição: Pode ultrapassar 200 anos
-Poliéster adiciona resistência ao tecido, mas compromete drasticamente sua sustentabilidade.
Algodão + Poliéster + Elastano
-Decomposição: Entre 200 e 400 anos
-Mistura comum em jeans de alta performance; pouco reciclável.
Algodão + Viscose / Modal / Tencel (Lyocell)
-Decomposição: Entre 3 e 8 meses
-Fibras de celulose regenerada com toque macio, fluidez e maior conforto térmico; biodegradáveis e com produção mais limpa, no caso do Tencel.
Algodão + Linho ou Cânhamo
-Decomposição: 2 a 6 meses
-Opções naturais, com aparência rústica e alto apelo sustentável.
Algodão + Nylon (Poliamida)
-Decomposição: 30 a 40 anos
-Fibra sintética leve, comum em misturas técnicas; dificulta a reciclagem e a degradação.
Algodão + Lã / Seda
-Decomposição: 1 a 5 anos
-Usadas em blends premium e de inverno; são naturais, mas seu descarte deve ser cauteloso.
Algodão + Acrílico
-Decomposição: Mais de 200 anos
-Baixo uso no denim, mas altamente poluente.
Não é só a fibra: o acabamento também pesa
Mesmo quando falamos de tecidos com fibras biodegradáveis, o processo de decomposição pode ser comprometido por elementos como:
-Tingimentos com metais pesados ou fixadores sintéticos
-Acabamentos com resinas e impermeabilizantes
-Etiquetas e costuras feitas com poliéster
-Botões, rebites e zíperes metálicos que permanecem no solo
Esses componentes não apenas dificultam a degradação, como também prejudicam a reciclabilidade da peça, aumentando a pegada ambiental do jeans.
E para quem produz denim, o que pode ser feito?
Para profissionais da cadeia produtiva do jeans — desde tecelagens e lavanderias até marcas e confecções — há caminhos viáveis e crescentes para atuar com responsabilidade sem abrir mão da estética ou da performance. Alguns deles:
-Priorizar misturas com fibras naturais ou regeneradas
-Optar por elastanos biodegradáveis (já existentes no mercado)
-Investir em lavagens com menor uso de água e produtos químicos
-Substituir etiquetas e aviamentos por materiais recicláveis ou orgânicos
-Desenvolver peças com design pensados para a circularidade (como costuras fáceis de desmontar ou tecidos mais puros)
No Brasil, algumas tecelagens já vêm se destacando por incorporar fios sustentáveis em seus tecidos denim. Empresas como a Vicunha, Santista, Canatiba e Cedro Têxtil têm investido em tecnologias que permitem o uso de algodão reciclado pós-consumo, elastanos biodegradáveis e fibras como o Tencel™ e o Refibra™, produzidas com menor impacto ambiental. Essas iniciativas não só reduzem a pegada ecológica da produção, como também mostram que é possível alinhar inovação têxtil à responsabilidade socioambiental.
E para o consumidor?
A informação é a primeira ferramenta para um consumo mais consciente. Ao entender o que há por trás de uma calça jeans — não só em estilo, mas em composição e ciclo de vida — o consumidor ganha poder de escolha.
-Prolongar o uso das peças
-Comprar de marcas transparentes
-Buscar brechós ou iniciativas de reuso
-Diminuir as lavagens das peças
-Apoiar ações de logística reversa
Pequenas decisões que, somadas, podem encurtar o tempo de impacto que um jeans deixa no planeta.
Fonte: Cottonique – How Long Will It Take For Fabrics to Decompose | Foto: Divulgação
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