Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Com 165 anos de idade, a empresa alemã mantém um ritmo de inovações comparável ao de uma startup. Entenda como essa velha senhora, que começou produzindo couro, mantém a jovialidade

 

Um forasteiro no comando: o iraniano Mohsen Sohi, atual CEO, segura um retentor. Ele é o segundo executivo sem vínculos familiares com os Freudenberg a ocupar o cargo, e o primeiro não nascido na Alemanha ( foto: Uwe Anspach/dpa)

 

 

Nos laboratórios da empresa alemã Freudenberg, maior fabricante de retentores e vedações do mundo, engenheiros trabalham em um equipamento que parece uma máquina de algodão-doce, dessas de circo. Ela produz um material que, de fato, leva matérias-primas utilizadas pela indústria de alimentos. Mais especificamente, um tipo de gelatina usada para fabricar as famosas balas de goma em formato de ursinho da Haribo, companhia alemã especializada em guloseimas. O algodão-doce da Freudenberg, porém, não tem fins alimentícios. O produto é uma espécie de tecido que pode ser utilizado como curativo internamente, para facilitar a recuperação pós-cirúrgica em operações invasivas.

Sua grande vantagem é não precisar ser retirado, pois é completamente absorvido pelo corpo humano. Além disso, é possível agregar medicamentos ao tecido, evitando que o paciente erre a dosagem. O produto está pronto para ir ao mercado, aguardando apenas as certificações dos órgãos reguladores na União Europeia. A área médica entrou para o radar da Freudenberg há pouco tempo. Trata-se de uma nova fronteira que a companhia pretende ultrapassar, transformando-a em mais um capítulo na sua longeva trajetória de inovações e mudanças de rumo.

Aos 165 anos, completados em 2014, a Freudenberg, cujo comando está nas mãos da mesma família desde o início, tem uma qualidade rara entre corporações de capital fechado: ela sabe se reinventar. “O ambiente aqui é perfeito para a inovação”, disse à DINHEIRO Mohsen Sohi, porta-voz do conselho de administração da companhia, cargo que equivale ao de CEO. Saber entrar em novos mercados, e também a hora certa de sair de alguns deles, tem sido a chave da sobrevivência da companhia que em sua história conviveu com episódios marcantes como duas guerras mundiais, a ascensão e queda do nazismo e do bloco soviético, uma dezena de crises da economia mundial, entre outros.

Entre suas inovações estão desde um processo para curtimento de couro, inventado antes da Primeira Guerra e usado até hoje, até o famoso piso emborrachado com pequenas elevações circulares, muito comum em áreas de grande circulação de pessoas, como aeroportos e rodoviárias. A lista de novidades inclui, ainda, panos para limpeza doméstica ultra-absorventes, filtros para ar-condicionado e sistemas antivibração para suspensões de carros e caminhões. Essa estratégia é balizada por um sistema de incentivo à inovação eficiente, que abre a qualquer funcionário da empresa a possibilidade de contribuir com ideias novas.

“Temos uma linha telefônica exclusiva para que os funcionários nos apresentem suas ideias”, afirma Wolfgang Schneider, CEO da Freudenberg New Technologies, braço de novas tecnologias do grupo, responsável pela criação do curativo feito de gelatina. Segundo o executivo, ainda não surgiram novos produtos sugeridos pelos funcionários. Mas algumas ideias produziram mudanças importantes em processos produtivos. A responsabilidade de Schneider, no entanto, não é só pensar em inovações, ele precisa produzir resultados. A exemplo do que acontece em empresas inovadoras, como a americana 3M, atualmente cerca de um terço das receitas globais do grupo vêm de produtos lançados há menos de dois anos.

A meta é manter esse ritmo, garantindo o futuro da empresa mesmo em momentos de crise. Os negócios da centenária empresa alemã se estendem por diversos mercados. Na área de retentores, ela é a principal fornecedora da cadeia automotiva. “Não há um carro no mundo que saia da fábrica sem um dos nossos produtos”, afirma Sohi. Ela também fornece para as indústrias de máquinas, petrolífera e naval. O grupo é dono da Vileda, fabricante de equipamentos e produtos de limpeza, líder no mercado alemão e muito forte nos Estados Unidos. Seu portfólio inclui, ainda, lubrificantes, filtros de ar, produtos de mecatrônica e revestimentos.

No ano passado, essa complicada rede de mercados gerou um faturamento de € 6,6 bilhões. No Brasil, são sete fábricas, que, somadas, resultaram em uma receita de cerca de R$ 700 milhões, em 2013. Neste ano, a empresa deve ultrapassar a barreira dos R$ 800 milhões no País. No Brasil, as inovações costumam levar um tempo maior para ganhar um espaço nas linhas de produção da empresa. “Começamos sempre importando os novos produtos, e produzimos quando há mercado suficiente”, afirma o argentino Juan Carlos Borchardt, responsável pelas operações do grupo na América Latina.

O ponto forte da Freudenberg no País está na cadeia automotiva, com o fornecimento de retentores e filtros para praticamente todas as montadoras. É aqui que os alemães encontram, também, um dos seus maiores concorrentes globais, a fabricante de retentores Sabó, com sede em São Paulo. Uma das poucas multinacionais brasileiras, a empresa controlada pela família de imigrantes húngaros Sabó, comprou, em 1993, a Kako, segunda maior empresa de retentores da Alemanha, que estava em processo de concordata. A competição promete se acirrar a partir do próximo ano.

Isso porque a Sabó vendeu o controle da Kako para o grupo chinês ZhongDin, um conglomerado industrial com atuação nos ramos de vedação, fluídos, borracha e plásticos, metais e motores para o mercado de automóveis. A empresa chinesa também vai incorporar as operações da brasileira nos Estados Unidos, o que dá ao grupo sino-brasileiro um tamanho próximo ao da Freudenberg. Somente na área de vedação, a ZhongDin fatura US$ 1,3 bilhão. A desaceleração da economia atrapalhou os planos da Freudenberg no Brasil. A queda na venda de automóveis deve prejudicar os resultados neste ano.

A previsão é de crescer entre 5% e 10%. No ano passado, o aumento na receita foi de 8%. Ainda assim, os alemães seguem investindo. Em novembro, a empresa inaugurou uma nova linha em sua fábrica de não tecidos em Jacareí, na região do Vale do Paraíba, em São Paulo. Com isso, ela dobrou sua capacidade. Em Valinhos, na região de Campinas, a principal cidade do interior paulista, está sendo construída uma nova unidade, que vai substituir outra fábrica de não tecidos, instalada na região. Nesse projeto, o investimento será de R$ 60 milhões.

“Os planos para o Brasil são de longo prazo”, afirma Borchardt. Apesar do controle familiar, a Freudenberg funciona como se fosse de capital aberto. Isso porque ela é controlada pelos seus mais de 300 herdeiros. Eles não participam diretamente das operações, mas atuam como acionistas. Cada ramo da família elege seus representantes no conselho, que é responsável por escolher os gestores profissionais. Nos últimos anos, a empresa vem se preocupando em se tornar mais globalizada. O iraniano, naturalizado americano, Sohi, o atual CEO, é apenas o segundo forasteiros, sem vínculos familiares com os Freudenberg, a ocupar o cargo, e o primeiro não nascido na Alemanha.

A abertura mostra que, definitivamente, a Freudenberg não é avessa a mudanças. Isso vem desde o seu início, em 1849, quando o alemão Carl Johann Freudenberg decidiu instalar um curtume na pequena cidade de Weinhein, de pouco mais de 40 mil habitantes. Na época, ali funcionava um dos mais importantes polos produtores de couro da Europa. Para superar a forte concorrência, o primeiro Freudenberg investiu na criação de novas formas de tratar o couro. Mas foi seu filho, Hermann Ernst Freudenberg, quem fez a empresa dar um grande salto, ao desenvolver um processo de curtimento a partir do sulfato de cromo.

Até hoje, 80% do couro produzido no mundo utiliza o mesmo processo desenvolvido por Hermann, ou variações dele. Antes mesmo do início da Segunda Guerra Mundial, a Freudenberg já ocupava a posição de maior fabricante de couro da Europa, exportando seus produtos para diversos países, inclusive o Brasil. Na década de 1930, uma crise no mercado de couro levou a companhia a desenvolver seu primeiro retentor. Essa habilidade em enxergar oportunidades em meio a crises está no DNA da Freudenberg. Hoje, ela faz parte do seleto grupo de empresas centenárias alemãs, que correspondem a apenas 7% do total de companhias do país.

FONTE: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20141209/freudenb...

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