Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Uma das lojas Gucci em Floren\u00e7a, na It\u00e1lia, em 1969.

Intrigas familiares, o forte apelo sexual trazido por Tom Ford, disputa pesada entre holdings de luxo e o rico mix de referências de Alessandro Michele são alguns dos capítulos que marcaram o primeiro século da marca italiana.

  • Guccio Gucci era porteiro do Hotel Savoy, em Londres, quando decidiu ter a sua própria marca de malas. Em 1921, ele cria a Gucci.
  • Durante os anos 1950, Aldo, Vasco e Rodolfo Gucci, filhos do fundador, trabalham para expandir o império familiar pela Itália e para os EUA. A primeira loja em Nova York é inaugurada em 1953.
  • Após a morte de Rodolfo, seu filho Maurizio Gucci arquiteta para tirar o resto da família da jogada e assume a liderança da empresa. Em 1993, ele vende a maison para a Investcorp, encerrando a ligação da família com a empresa homônima.
  • Tom Ford é nomeado diretor criativo da Gucci em 1994. Sob seu domínio, ela chega a valer 10 bilhões de dólares.
  • Desde 2015, Alessandro Michele é o nome à frente da maison de luxo, que vem reiventando o significado da palavra luxo.

Uma das etiquetas mais desejadas do mundo, a Gucci completa 100 anos em 2021. Porém, a sua história tem uma origem um pouco mais distante, em 1897. É nesse ano que o italiano Guccio Gucci, filho de artesãos, passa a trabalhar como porteiro no grande Hotel Savoy, de Londres. Uma de suas distrações favoritas era ficar observando as malas riquíssimas dos hóspedes passarem de lá pra cá.

Apaixonado por esse acessório, ele volta à sua cidade natal, Florença, determinado. Em 1902, começa a trabalhar para uma fabricante de couros, a Franzi, e vai amadurecendo o sonho do negócio próprio. E ele acontece: em 1921, a Gucci nasce. Naquele momento, como uma fábrica de malas que produz, sobretudo, artigos de luxo de couro para viagens e, um pouco depois, equipamentos equestres.

A EXPANSÃO DO IMPÉRIO GUCCI

Uma das lojas Gucci em Florença, na Itália, em 1969.

Marka / Getty Images

Por causa das sanções que a Liga das Nações fez à Itália, entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, o couro vira um material escasso no país – e é bastante em função disso que Guccio Gucci começa a integrar ao catálogo de sua marca outros tecidos, como malharia e seda. Ou seja, a casa expande para vestuário.

É por volta dessa época que ele inicia também a produção de acessórios, como sapatos e bolsas, e introduz alguns detalhes que viram assinaturas da label, incluindo o monograma com o logo de G duplo e a icônica faixa de duas tiras verdes interrompida por uma vermelha ao meio, em referência às selas dos cavalos. Em 1947, surge a hoje clássica Bamboo Bag, um twist dentro do mercado de luxo, com a inserção do bambu japonês na alça de uma bolsa, que igualmente recupera um shape de inspiração equestre.

A partir da década de 1930, o negócio começa a ter a participação dos filhos de Guccio: Aldo, Vasco e Rodolfo Gucci. Vale dizer que ele também tinha uma filha, Grimalda Gucci, que foi dispensada dos negócios por ser mulher, e também um enteado, Ugo Gucci, filho de sua esposa Aida Calvelli, que seguiu por outro rumo no trabalho.

A principal missão dos herdeiros Aldo, Vasco e Rodolfo era expandir a etiqueta, primeiro em Roma, depois Milão e, por fim, ao longo da década de 1950, por todo os Estados Unidos. E, de fato, eles conseguiram. Em 1953, é inaugurada a primeira boutique da Gucci em Nova York, no então The Savoy Plaza Hotel, uma homenagem a Guccio Gucci em referência a onde tudo começou. O fundador, no entanto, morre poucos dias depois desse lançamento.

Bamboo Bag

Divulgação

 

A faixa de duas tiras e o monograma

Divulgação

QUERIDINHA DAS CELEBRIDADES

Os anos 1950 seguem como uma era de ouro para a Gucci e a marca vira uma das favoritas das celebridades de Hollywood. Elizabeth Taylor, Peter Sellers e o dramaturgo Samuel Becket vivem caminhando para cima e para baixo com a bolsa hobo, que, já naquela época, era vendida como unisex. Mas quando Jackie Kennedy apareceu com uma no braço, a label logo tratou de mudar o nome do seu acessório: a hobo virou The Jackie, uma das it bags mais desejadas até hoje.

Grace Kelly, a princesa de Mônaco, foi outro ícone de moda que influenciou o design da casa. Quando ela decidiu comprar uma Bamboo Bag, Rodolfo Gucci decidiu presenteá-la com um lenço floral de cores vivas. A ilustração virou a hoje tradicionalíssima estampa Flora. Outro item que caiu na graça das estrelas, e que até hoje é um clássico, é o mocassim Horsebit, aquele com dois anéis dourados interligados na parte de cima, como os freios colocados no cavalo.

Jacqueline Kennedy usando a bolsa da Gucci que ganhou seu nome, The Jackie.

Getty Images

 

Uma das novas versões da bolsa The Jackie, imaginada por Alessandro Michele: míni e em novas cores.

Divulgação

OS CONFLITOS INTERNOS DA FAMÍLIA GUCCI

Os primos Roberto, Maurizio e Georgio Gucci participam de evento em 1983

Laurent MAOUS / Getty Images

Na década de 1960, a Gucci segue conquistando a América e lançando cada vez mais hits comerciais, incluindo óculos, relógios e joias. Mas, ao passo que a grife agora se expande até a Ásia, com novas butiques em Tóquio e em Hong Kong, os conflitos entre a família só aumentam. Brigas entre os irmãos, entre os sobrinhos e entre pai e filho colocaram a Gucci diversas vezes à beira da falência.

Dentre as tretas mais marcantes – que a label hoje em dia prefere não comentar – vale destacar uma em que Maurizio Gucci é protagonista. Ele era filho único de Rodolfo e começou a trabalhar com o tio Aldo nos Estados Unidos. Em resumo, ele conseguiu não só tirar os demais primos Paolo, Roberto e Giorgio da jogada como também derrubou o próprio tio da liderança do negócio, a ponto de assumir toda a empresa em 1984, um ano após a morte do pai. Em 1993, ele vende sua parte do império para a Investcorp, dona da outra metade, encerrando, assim, toda a relação da família Gucci com a sua empresa homônima. Mas o drama familiar não para por aí...

FILME SOBRE O ASSASSINATO DO HERDEIRO DA GUCCI

Em 1995, Maurizio é baleado e morre. O mandante do assassinato? A sua ex-mulher, a socialite Patrizia Reggiani. 25 anos depois da tragédia, esse conflito está para virar filme. As informações iniciais são de que o longa contará com Lady Gaga interpretando Patrizia Reggiani e será dirigido por Ridley Scott, de Blade Runner e Thelma & Louise.

Outros atores escalados são: Adam Driver, Jared Leto, Al Pacino, Jack Huston, Reeve Carney e Robert De Niro. O roteiro é baseado no livro Casa Gucci: uma história sensacional de assassinato, loucura, glamour e ganância, de Sara Gay Forden, e a data prevista de estreia é 24 de novembro de 2021.

A ERA TOM FORD NA GUCCI

Como é de se imaginar, entre disputas familiares, acusações de sonegação, assassinato e a venda da grife a investidores estrangeiros, a Gucci não andava muito bem das pernas entre os anos 1980 e 1990. Em 1989, a superexecutiva de moda Dawn Mello, então presidente da Bergdorf Goodman, foi nomeada a diretora criativa da label para tentar colocá-la nos eixos.

Ela não teve uma passagem tão impactante como diretora, mas ajudou a colocar uma preciosidade na maison: Tom Ford. O norte-americano foi contratado em 1990 para ser estilista de ready-to-wear e, com a saída de Mello que voltou à Bergdorf em 1994, ele vira o novo diretor criativo da casa.

E é aí que se inicia toda uma nova era da Gucci. Sob o comando de Tom Ford, a marca recupera a sua relevância. Ele simplifica a identidade da grife, navegando entre o minimalismo da época, restaurando a opulência e o desejo em volta do nome e injetando muita – mas muita mesmo – sexualidade. Ford coloca o vestido colado no corpo, o cós baixíssimo na cintura, o salto agulha vertiginoso nos pés... Isso era algo que não se via em nenhuma outra label e atiçava os consumidores.

Com o fotógrafo Mario Testino, ele fez campanhas publicitárias que ficaram na memória – seja por motivos bons ou péssimos. Em uma das imagens mais emblemáticas, o estilista desenhou o logo da maison nos pelos pubianos da modelo Carmen Kass. Em outra foto com Carmen, bastante problemática, colocou o modelo Adam Senn batendo no seu bumbum.

Tom Ford deixa a Gucci em 2004 por desavenças nas decisões criativas, mas deixa um legado e tanto: naquele momento, a casa era avaliada em 10 bilhões de dólares e ícones como Gwyneth Paltrow, Jennifer Lopez e Madonna amavam usar Gucci nos tapetes vermelhos.

CAMPANHAS POLÊMICAS DA GUCCI NA ÉPOCA DE TOM FORD

Mario Testino para Gucci

A polêmica foto da modelo Carmen Kass com o G de Gucci nos pelos pubianos

INÍCIO DOS ANOS 2000

Ao longo dos anos 1990, o grupo LVMH compra várias ações da Gucci em uma tentativa de acumular assentos no conselho da empresa. Mas em 1999, após movimentações internas da label, o investidor François Pinault, da então Pinault Printemps Redout (PPR), adquire 42% do negócio, iniciando uma disputa entre as duas pelo controle do negócio. Em 2001, a PPR vence comprando 8% das ações da rival e assumindo 53% da empresa. Mais tarde, o grupo de Pinault passa a se chamar Kering – e é lá que a Gucci se mantém até hoje.

Depois de Ford, Alessandra Facchinetti passa a assinar a coleção feminina. Mas é Frida Giannini, ex-designer de bolsas da Fendi, que acaba assumindo a direção criativa da Gucci em 2006. Após um período sem grandes abalos, mas também sem tantos auges, ela deixa a casa em 2014. Dentre o seu legado, é preciso destacar que Giannini colocou a Gucci na TV, com campanhas assinadas até mesmo pelo cineasta David Lynch. Ela também deu uma injeção de ânimo nos perfumes da marca e até estrelou um documentário, o The Director, de 2013, que examina o seu trabalho de perto.

A GUCCI SOB O COMANDO DE ALESSANDRO MICHELE

Mas é a entrada de um outro nome que vai abalar mais uma vez as estruturas da maison. Em 2015, chega Alessandro Michele mudando completamente tudo. A crítica especializada estava tensa, porque Michele não era um grande conhecido da mídia. O estilista havia trabalhado na Fendi, mas tinha feito carreira mesmo dentro da Gucci, passando por vários cargos diferentes ao longo de mais de 12 anos, não necessariamente nos holofotes.

Porém, na primeira coleção, ele já mostrou a que veio. Para a temporada masculina de inverno 2015, Michele coloca garotas na passarela com seu olhar de antiquário, mas nada antiquado, em uma coleção inteira executada em menos de uma semana, de acordo com o The New York Times.

A temporada seguinte, a primeira feminina sob o seu comando, é considerada também um sucesso estrondoso, com a crítica cada vez mais encantada por seu mix de teatro, acervo, memória, gênero, kitsh, drama, terror, opulência, romance e futurismo. O designer é descrito pelo próprio grupo Kering como alguém que é capaz de unir "dandismo, Renascimento italiano, imagem gótica e atitude punk".

Queridinho de Alessandro Michele, Harry Styles é um dos embaixadores da Gucci

Harmony Korine

Pode parecer um exagero tantas descrições, mas é que o maximalismo de Michele não se esgota na manga bufante de sua roupa, ou nos óculos gigantes de cristais incrustados que ele faz: ele está presente também em movimentos dentro da casa. A Gucci não apenas entra para as rimas de rappers como Cardi B e Kanye West, como um desejo de ostentação bling bling para o hip-hop, mas também vira um case de marketing a ser estudado, transformando os seus próprios canais e redes sociais em veículos de comunicação.

Em 2017, a grife anuncia a iniciativa de cortar a produção de peles e promete reduzir o seu impacto ambiental e social até 2025 na nova plataforma criada pela marca, a Gucci Equilibrium. Em 2019, ela lança sua linha de maquiagem, a Gucci Beauty, além de uma fragrância unissex, a Mémoir dÚne Odeur, continuando algumas ações pioneiras na desgastada divisão de gênero na moda.

O PRIMEIRO GUCCI FEST

Silvia Calderoni, Jeremy Oh Harris e o diretor Gus Van Sart conversam nos bastidores da gravações do Gucci Fest.

Divulgação

Em maio deste ano, veio o anúncio oficial: a Gucci não está mais no calendário tradicional de moda e passa a trabalhar com uma sazonalidade própria, a de duas apresentações por ano, em formatos ao sabor da criatividade de Alessandro Michele. De acordo com o diretor criativo: "Nós temos um grande público. Pessoas que nunca estiveram em nossas lojas, mas que nos seguem. Não somos apenas roupas. Nós estamos apoiando também diálogos".

Nesse sentido, entre os dias 16 e 22 de novembro de 2020, a maison apresentou a sua mais nova coleção por meio do festival digital GucciFest, um evento que se dividiu entre moda e cinema para explorar novas maneiras de apresentar uma temporada ao público. Os curtas dirigidos por Gus Van Sant e Michele formavam uma série, a Overture Of Something That Never Ended, com participações especiais de Billie Eilish, Harry Styles e Florence Welch – reforçando a vontade da marca de juntar cada vez mais o universo da cultura com o da moda.

Entre os looks, a nova coleção divide o styling com peças recuperadas de temporadas passadas, todas coexistindo e confirmando a vontade da Gucci, de interromper essa noção de sazonalidade tradicional na moda, de que a estação passada deve ser jogada de lado para a nova ocupar o lugar. Além disso, o GucciFest também aproveitou para divulgar o trabalho de quinze novos estilistas independentes, entre eles Stefan Cooke, Mowalola e Bianca Saunders.

De maneira geral, o que fica de toda essa história é que, cada vez mais, a Gucci tem desenhado um universo, uma ideia de juventude e, consequentemente, de sociedade possível. Os meninos, meninas e menines Gucci, claro, vestem as roupas vintage da casa, estranha e descoladamente amontoadas, mas também conversam e se expressam de maneiras que estão conectadas com o mundo atual e o futuro.

No primeiro episódio, logo de início, falas do escritor e filósofo Paul B. descrevem papéis sociais dentro da realidade patriarcal e colonial na qual vivemos, e como isso afeta as noções sobre gênero e sexualidade de uma maneira condicionante. A marca dá uma cutucada dizendo que é possível sim uma "revolução do amor", se essas caixinhas forem quebradas.

A saída da Gucci da semana de moda tradicional de Milão, para manter apenas duas apresentações anuais e não mais cinco, como antes, também impulsiona uma discussão sobre a produtividade nessa indústria tão pouco sustentável. E, apesar de ver seu crescimento desacelerar desde 2018, a grife segue, ao lado da Balenciaga, no posto de mais lucrativa do grupo Kering, que detém ainda Saint Laurent e Alexander McQueen.

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https://elle.com.br/moda/a-historia-da-gucci/particle-20

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