10 perguntas para Anastasia Charbin, diretora global de moda da Lectra, empresa francesa de tecnologia para a indústria fashion
Por: Bruna Borelli
Poucos setores da economia enfrentam tantas mudanças com a internet quanto a indústria da moda. Seduzir o consumidor se torna mais ardiloso a cada dia, com o arsenal de opções a poucos cliques e a competição acirrada com a China. Para Anastasia Charbin, especialista em tecnologias para o setor têxtil e diretora global de moda da Lectra, empresa parisiense de tecnologia para a indústria fashion, é preciso inovar para sobreviver:
Como a sra. vê a indústria de moda no mundo?
A indústria fashion está mudando muito e rapidamente. Os consumidores estão mais entendidos, conhecem as últimas tendências, as marcas, os preços e as liquidações. É necessário trabalhar pesado para conseguir convencer esse consumidor a fazer uma compra.
O e-commerce mudou o setor?
Sim. O comércio online deu controle aos consumidores, uma vez que permite as mais variadas opções. Agora, com a internet, o consumidor é quem decide o que comprar e quanto pagar.
Quem se destaca nesse cenário?
Até então, os mercados costumavam ser dominados por marcas locais. Isso também está mudando com a expansão de marcas e varejistas de moda internacionais. A nova categoria premium é outra que está crescendo, pois oferece produtos com uma qualidade maior que fast fashion, mas com um valor mais acessível que o setor de luxo.
Como está o mercado mundial para as marcas de luxo?
Geralmente, as grifes de luxo ditam não apenas as tendências de moda, mas também o modo de trabalho. Porém, elas precisam ser extremamente cuidadosas para aumentar o faturamento sem se expor muito.
Qual é o futuro do mercado de moda?
Há tantas opções hoje em dia que a moda precisa ser interessante e inovadora. O fast fashion vai continuar tendo seu lugar de destaque no mundo, mas o slow fashion também vai crescer. A nova geração se preocupa com o impacto ambiental e, nesse sentido, o slow fashion agrada mais que o fast fashion, uma vez que o conceito fast fashion é de roupas descartáveis e o slow fashion pede peças duradouras.
E quanto ao mercado brasileiro de moda?
Os consumidores brasileiros são abertos e curiosos para novidades, mas a manufatura no Brasil ainda é muito cara. É difícil competir com a China ou com o sudeste da Ásia em termos de preços para o consumidor final.
Como é a relação entre Brasil e China nesse setor?
A China é um competidor de peso não apenas para o País, mas também para todo o mundo. Ainda assim, o Brasil consegue se manter na terceira posição do ranking mundial de confecção. Tanto o Brasil quanto a China estão procurando maneiras de inovar. A China, por sua vez, também tem sentido uma pressão com o aumento de custos na sua manufatura.
Grandes fusões, como a que pode acontecer entre Renner e Marisa, são uma boa estratégia?
Sim, mas apenas se elas souberem trabalhar em time. Muitas grandes companhias não se beneficiam atualmente da economia de escala. É difícil fazer uma consolidação entre os diferentes recursos, pedidos, talentos, etc.
Nos últimos anos, algumas marcas, como Zara e M. Officer, têm sido acusadas de usar trabalho escravo. O que fazer?
Isso é um problema que muitas empresas, mesmo de outros setores, enfrentam atualmente. A melhor maneira de lidar com isso é ter certeza de quem são seus fornecedores e ter uma relação o mais transparente possível com eles.
Mas como ter um preço competitivo sem apelar para um modelo condenável como o trabalho escravo?
É preciso ser o mais eficiente possível. Ter a tecnologia adequada e usá-la corretamente pode fazer com que uma empresa ganhe milhões de dólares por ano, além de poupar tempo útil e aumentar a qualidade e a inovação.
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Os consumidores brasileiros são abertos e curiosos para novidades, mas a manufatura no Brasil ainda é muito cara. É difícil competir com a China ou com o sudeste da Ásia em termos de preços para o consumidor final.
A inovação é o caminho brasileiro para sobreviver na indústria de confecção do vestuário. A produtividade, embutida nesta inovação, é de toda empresa, não apenas das costureiras, como muitos empresários do ramo apregoam. A primeira atividade a se reinventar, deve ser o desenvolvimento de produtos, que hoje leva de 90 a 120 dias para gestar e parir uma coleção. Num período destes, os chineses estão chegando com o contêiner no destino. Temos clientes que já equilibraram este tempo, entre a concepção e a entrega do pedido, para 120 dias.
Tadeu, vou um pouco além. Se por um lado os produtos chineses são mais baratos, a QUALIDADE tem deixado MUITO a desejar. É um conceito de moda empresarial de venda de volume que não se sustenta quando pensamos em fidelização de clientes. Hoje, várias marcas nacionais produzem no Brasil, conseguem preço e qualidade e estão começando a ganhar uma fatia do mercado em aberto por causa da qualidade duvidosa dos produtos made in china.
Um outro ponto é que os empresários da moda devem se aperfeiçoar no que tange GESTÃO. Muitos ainda estão trabalhando em cima de conceitos da década de 60 e 70, quiçá 80! Também é importante repensar alguns conceitos neste quesito!
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