Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Trabalho da estilista Helen Rodel ©Reprodução

Ao vencer a Palma de Ouro em Cannes, o diretor Ken Loach disse: “Um outro mundo não é apenas possível, mas necessário”.

Não há dúvidas disso e quero usar essa frase no contexto da moda, já que as transformações sociais e mudanças de comportamento pelas quais o mundo passa também afetam diretamente esse mercado.

O FFW tem publicado algumas iniciativas que surgem moldadas para o momento atual e futuro, já que grandes mudanças levam tempo até se consolidarem.

Novas marcas e projetos mostram uma energia forte e crescente que representa esse novo momento. A moda vem caminhando a passos largos e urgentes, traçando uma trajetória que alcançou seu ápice de individualismo e pressão, a era dos resultados e planilhas. Muita competição, pouco diálogo. Muita exibição, pouca discrição, muito consumo, pouca responsabilidade, muita produção, pouco cuidado. Com as mudanças atuais, entramos na era da incerteza, que tem virado o sistema de cabeça pra baixo. E é no meio dessa bagunça que abriu-se espaço para que um movimento de oposição surgisse: profissionais que têm tido a coragem de se posicionar contra esse ritmo e contra as regras impostas pela indústria para se obter sucesso.

Hoje, esses códigos estão se mostrando insustentáveis e isso gerou um novo pensamento pra moda que inclui a otimização de tempo e dinheiro, a criação de algo durável e autêntico, a humanização dos processos e o não desperdício (de tempo, material, trabalho, mão de obra, ansiedade, etc.).

Pessoas inspiram umas as outras, se juntam, se reconhecem por um ideal em comum e, a partir daí, surge um movimento. A força do coletivo é, a gente sabe, poderosa.

Aqui no Brasil temos ótimos exemplos de estilistas e iniciativas que trabalham o tempo de outra maneira: a seu favor e não contra. Que atuam de forma horizontal, quebrando normas e hierarquias antigas; que se apoia no saber do outro e oferece apoio.

Backstage de Paula Raia durante o SPFW N41 ©Agência Fotosite

BACKSTAGE DE PAULA RAIA DURANTE O SPFW N41 ©AGÊNCIA FOTOSITE

Paula Raia, por exemplo, descobriu que seu verdadeiro processo não faz sentido desfilando duas vezes por ano. Ela precisa de mais tempo, já que seus processos são artesanais, orgânicos, como se viessem de dentro (dela) pra fora. E, pasmem, é essa lentidão o que torna sua marca especial e única.

+ O processo por trás do desfile de Paula Raia

Paula desfila apenas uma vez ao ano, em sua própria casa, para um público escolhido a dedo e que representa nada mais que seu target. O que é necessário está lá. Ela tem uma única loja que recebe novidades em um tempo que agrada sua consumidora em vez de a enlouquecer. Suas coleções de passarela são de tamanha riqueza e beleza, que evidencia, uma constante evolução. Sem fórmulas, sem exageros.

A designer Caroline Baum e a estilista Flavia Aranha estão no mesmo caminho. Carol acabou de abrir sua marca de acessórios especiais, de sapatos e bolsas a mangas e golas, com acabamento primoroso e que não têm para pronta entrega.

Peças da nova marca Baum & Haut ©Divulgação

PEÇAS DA NOVA MARCA BAUM & HAUT ©DIVULGAÇÃO

“Você acha a bolsa linda. Resolve comprá-la, mas não vai levá-la na hora. A partir daí, começa um processo que envolve receber por e-mail a imagem e as informações da procedência do couro sustentável com o qual será confeccionada a sua peça, observar o artesão costurar a estrutura num curto vídeo gravado para você. Depois de um tempo, que varia de duas semanas a um mês, dependendo da complexidade do produto, ele fica pronto e você o recebe em casa”, conta Carol Vasone na matéria sobre a nova marca.

“Você vai gestando a sua peça com a gente. A ideia é criar algo que a pessoa vá ter para sempre”, diz a designer. O termo “para sempre” vai totalmente contra a onda de fast fashion que invadiu a moda.

Imagine como era a regra há uns 15 anos: a pessoa lança sua marca, tem que ter loja em shopping ou num ponto nobre da cidade, produz várias peças para vender na loja, faz acordo com multimarcas para estar presente pelo país, faz campanhas, anuncia… O quanto de dinheiro não vai pra criar essa estrutura da competitividade e do sucesso? Hoje, não há estrutura que te garanta o sucesso.

Onde você compra as lindas bolsas da Baum & Haut? Por enquanto na casa de “anfitriões” que recebem seus amigos para apresentar a grife e receber os pedidos. Carol produz o que for encomendado.

Feche os olhos e pense numa imagem que retrate o momento que escrevi acima.

Abra os olhos.

Agora feche de novo e relembre as imagens das pessoas invadindo a H&M no dia do lançamento da coleção da Balmain como se fossem esfomeados atrás de comida. É certo que há algo que precisa mudar, não? Nós precisamos mudar.

http://ffw.uol.com.br/blog/moda/a-moda-e-o-tempo-o-novo-tempo-da-moda/

Exibições: 289

Responder esta

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço