Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Luis Ushirobira/Valor / Luis Ushirobira/Valor
 

À primeira vista, a relação corpo e moda parece regida por uma simples questão de interdependência. Seres civilizados se vestem e ponto final. Mas uma análise mais demorada de certos fenômenos da moda deixa transparecer outra realidade: a moda redesenha o corpo. Sobre o assunto, escreveram Kathia Castilho e Claudia Garcia Vicentini no texto "O Corte, a Costura, o Processo e o Projeto de Moda no Re-Design do Corpo", que faz parte do livro "Corpo e Moda" (Estação das Letras e Cores): "São os elementos da moda que redesenham, recortam, fragmentam ou esticam determinadas partes do corpo construindo diferentes maneiras de estarmos no mundo". E, se estar no mundo é uma atitude cada vez mais complexa, a moda está pronta a auxiliar nesse processo, principalmente a moda íntima.

Não parece ser por acaso que um tipo de lingerie vem ganhando cada vez mais espaço entre as calcinhas e sutiãs de todos os dias: a lingerie modeladora. Uma rápida pesquisa entre os maiores fabricantes do mercado comprova isso. Antes restrito ao universo das cintas - terror de 10 entre 10 homens por seu poder de desfazer romances - esse tipo de lingerie evoluiu para modelos mais tecnológicos, confortáveis e um tanto mais bonitos. "As mulheres e os homens estão perdendo o preconceito, graças à melhora na modelagem e na aparência das peças", diz Ron Horovitz, diretor da Plié, marca de lingeries que se apoia no conceito "modelador" por perceber seu potencial de mercado. Desde então, a empresa investiu em máquinas italianas, mão de obra e em fios nobres para construir peças com diferentes graus e localização de compressão.

"A promessa de entregar um corpo modelado sem esforço é irresistível", diz Dario Caldas, diretor do Observatório de Sinais, escritório especializado em análise de tendências sociocomportamentais e de consumo. Segundo Dario, a precursora dessa tendência é a marca americana Spanx, da empresária Sara Blakely, integrante da lista de bilionárias da "Forbes". A marca, criada em 1998 quando sua proprietária percebeu que não tinha a lingerie certo para usar com um vestido de festa, possui mais de 200 produtos, inclusive para homens. De acordo com o sociólogo, essa febre tem tudo a ver com a epidemia de obesidade, com o pânico do envelhecimento e o com o fato de que muito pouca gente consegue seguir o padrão de beleza ideal. "Com esse tipo de lingerie, a mulher se sente no controle da situação e, o que é melhor, isso se dá de forma instantânea."

Com cerca de dez anos de mercado, a Plié tem 35 modelos somente na linha "control", ou seja, que modela o corpo, diminuindo as medidas. São sutiãs, body, macaquinhos, calcinhas e outros artigos que comprimem as regiões "problemáticas" do corpo, como culotes e barriga, e modelam seios e bumbum. A linha vem conquistando a simpatia de grifes de moda, como Gloria Coelho, que já vendem os artigos em suas lojas. "Eles melhoram o caimento da roupa", diz Horovitz. "Há toda uma engenharia na construção das peças, para que elas sejam confortáveis", diz Horovitz que, por meio de relatos das clientes, concluiu que suas peças são capazes até de melhorar as cólicas menstruais. "Quem usa não larga mais."

Segundo Margaret Lewinski, diretora de produto da Darling, é difícil precisar o que veio primeiro: a demanda ou o aumento da oferta de produtos do gênero. "O fato é que a linha shapewear, como chamamos os produtos modeladores, não para de crescer", diz Margaret.

A "mágica" desse tipo de lingerie - que é aposta de outras marcas além da Plié e da Darling, como a Scala e a Lupo - está em melhorar, ou mesmo "recriar" aquilo que não é adequado ao padrão de beleza. A medida é menos radical e mais econômica do que partir para processos cirúrgicos, mas os objetivos parecem os mesmos. "A moda reafirma a liberdade do homem de recriar a própria pele, não a primeira dada biologicamente mas a segunda gerada por sua imaginação e fantasia e tornada real por sua engenhosidade técnica", diz Norval Baitello Júnior, doutor em ciências da comunicação e em literatura comparada pela Universidade Livre de Berlim (1987) e fundador do Centro Interdisciplinar de Pesquisas em Semiótica da Cultura e da Mídia (Cisc), no livro Corpo e Moda.

E essa engenhosidade técnica não tem limites. Entre os fios mais alardeados pela indústria de lingerie está o Emana, criado no Brasil pela Rhodia. O produto, diz o fabricante, tem como propriedade "emanar raios infravermelhos longos, que ajudam a reduzir a celulite". O fio tem alcançado vendas da ordem de 50 toneladas, por mês e é o carro-chefe de linhas como a Control Emana, da Plié, e a Biofir, da Scala, que prometem "reduzir as medidas e melhorar a aparência da pele".

Sem poderes sobrenaturais, mas com funções que podem ser comprovadas em curto prazo, os lingeries modeladores saem cada vez mais do armário. "Mesmo que eles não tenham o apelo de sedução dos lingeries de renda, certamente aumentam a satisfação da mulher com o próprio corpo", diz Caldas. E os homens sabem que isso não é pouca coisa.

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Interessantíssima a reportagem.

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