Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Saiba como aprender desde técnicas tradicionais francesas até o bordado artístico contemporâneo.

Natalia Rios acaba de se mudar para seu novo ateliê na Vila Olímpia. Por lá, ela dá aulas de bordado para arquitetos, artistas plásticas, designers e estudantes de moda, entre eles homens e mulheres que já tinham muita ou nenhuma prática no ofício. Seu Atelier & Escola de Bordados surgiu depois de uma temporada em Paris, quando estudou na École Lesage, ligada à Maison Lesage, que produz bordados para a alta-costura desde 1924 e tem clientes como a Chanel. Apesar do estudo refinado, a ligação com a artesanalidade já estava presente em seu trabalho muito antes do foco na alta moda.


Em contato com as atividades manuais através de técnicas de sua família, que é de Floripa, ela cursou moda na esperança de conseguir produzir peças 100% artesanais. “Todos os meus trabalhos eram feitos à mão. Criava vestidos gigantes de crochê, por exemplo”, conta ela. Mesmo criando um ateliê de vestidos de noiva e festa com esse trabalho slow fashion, descobriu que sua paixão era, na verdade, a dedicação aos detalhes — e o alto nível de expertise que envolve esse lado da moda.

Quem assiste às produções dos bordados de casas tradicionais como a Chanel e a Dior, por exemplo, entende a hipnose do ofīcio, que leva tempo, prática e dedicação, itens que as roupas produzidas pelas grandes marcas de fast fashion não podem garantir. “Fiquei na Lesage 6 meses fazendo aula todos os dias. Dormia uma hora por noite. Mas não tinha sono, estava plena, aquilo me satisfazia. Foi um encontro de tudo o que eu desejava”, descreve Natalia.

Quando voltou ao Brasil, trabalhou com Sandro Barros, Fernanda Yamamoto e Emanuele Junqueira. Com o ateliê, descobriu que além de produzir para marcas e designers, tinha a possibilidade de ensinar as técnicas da alta-costura e também de interpretar a cultura brasileira e sul-americana através do bordado contemporâneo. “Eu me especializei na técnica de Luneville, tradicional do norte da França, de 1810. Trouxe para cá misturando com outras técnicas”, descreve ela.

Seu curso profissionalizante, de 273 horas, é separado por uma introdução e oito níveis, que envolvem interpretações da cultura América do Sul, por exemplo, onde aparecem a lã e o feltro. “Cada um que passa por aqui, com sua própria bagagem, constrói sua própria visão disso tudo.” Ela garante que todos podem conseguir bordar com perfeição: Beatrice Costa, estudante de moda da Belas Artes, começou o curso sem nunca ter produzido um bordado e hoje trabalha no ateliê. “Penso até mesmo em trocar a tradicional profissão de estilista pelo bordado”, conta ela.

Em parceria com a Swarovski, marca da qual é embaixadora no Brasil, Natalia em breve estará oferecendo versões de seu curso em faculdade de moda São Paulo. Sobre a valorização da técnica que acontece tanto no Brasil quanto no mundo, ela finaliza: “acho que temos esse momento fast fashion, que é importante para que sempre estejamos atualizados. Mas talvez isso não nos satisfaça mais.

Juntamente com a valorização do tradicional, surgem cursos de bordado que exploram tanto o emponderamento feminino como a customização das próprias roupas e a expressão artísticas. Conheça:

Bordado empoderado

Bruna Antunes, de Porto Alegre, aprendeu a bordar com a avó, mas tinha deixado o ofício de lado durante a adolescência, só produzindo peças para presentear amigas e pessoas próximas. A relação com a artesanalidade mudou quando descobriu, lá em 2015, através do Instagram, meninas inglesas e americanas que estavam usando o bordado para expressar ideias feministas. “O Bordado Empoderado tem como objetivo unir mulheres interessadas nesse fazer manual, e que também tenham em comum o engajamento com o feminismo. Decidi criá-lo porque participava de vários grupos feministas em redes sociais e sentia falta de discussão presencial, de conhecer as pessoas por trás dos discursos”, conta ela. Em 18 meses de projeto ela já teve mais de 700 alunas.

Bruna aponta que as técnicas podem ser consideradas delicadas demais ou símbolo de passividade, mas na verdade não apenas reaparecem de forma importante na atualidade como resgatam uma história desconhecida do bordado: “ele contribui com a união das mulheres, pode diminuir a ansiedade e é expressão artística e política. Além disso, ao produzir peças do zero, com nossas próprias mãos e conhecimento, estamos praticando o mindfulness. O bordado também pode ser empoderador pois permite que cada pessoa veja em seus pontos um reflexo do momento em que vive”, descreve Bruna.

O curso mais popular de sua escola é o de Bordado Livre para Iniciantes, mas os cursos especiais, que podem envolver a criação de patches sustentáveis e como inserir a pintura no bordado também sempre tem demanda. “Vou criando de acordo com o que as alunas pedem e a partir do que minha criatividade permite”, finaliza.

Estúdio Ona

Priscila Casna sempre se envolveu com atividades manuais através de conexões familiares, mas foi depois de se formar em moda e trabalhar durante três anos com a designer Paula Raia que ela resgatou o contato com o bordado. “Sempre aprendi que o bordado é uma atividade introspectiva que nos permite uma lenta imersão em um universo onde a pressa do dia a dia cede lugar ao tempo das memórias, espaço propício à expressão da criatividade”, conta ela.

Foi a partir dessa perspectiva que ela criou o Estúdio Ona, no qual oferece oficinas de Processos Criativos para todas as idades. Através de pontos essenciais do bordado — mas sem gráficos ou desenhos tradicionais — ela explora também materiais e linhas diversos.

Além dos cursos, Priscila ainda aplica seu bordado na moda e conta que a técnica pode ser usada para as mais diversas expressões artísticas: recentemente ela criou uma colaboração com a marca Resgate Fashion, que recicla roupas que poderiam ser descartadas através de intervenções únicas. “Acredito que qualquer atividade manual tem um efeito terapêutico, que acaba automaticamente proporcionando um recolhimento natural, extremamente necessário nos tempos atuais”, finaliza.

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À esquerda, peça produzida por Priscila Casna, e no meio a peça feita por Camila Gomes Lopes, do Clube do Bordado, para a Resgate Fashion (Resgate Fashion//A nova era do bordado/Divulgação)

Juliana Mota

Bordar não é difícil. Sempre falo que é uma forma de expressão e que cada pessoa tem um jeito de se expressar através do bordado”, conta Juliana Mota. Designer por formação e sempre interessada pelas artes manuais, o bordado surgiu em sua vida durante a produção de um cenário para um curta de animação. “Comecei experimentando alguns pontos, vendo vídeos no youtube e me apaixonei!” As encomendas e seu projeto foram crescendo tanto — mesmo que sem planejamento — que ela criou um ateliê no qual dá aulas e oficinas de bordado livre.

Uma vez por mês ela dá aulas em uma oficina para iniciantes, e os temas das outras oficinas vão desde o bordado em roupas até como incorporar a caligrafia. Como saber se o bordado é para você? Ela conta que não existe regra: “muita gente participa dizendo que tirou um tempo só pra si, pra descansar a cabeça do trabalho, casa, problemas em geral. Tem algumas histórias muito emocionantes e me sinto muito motivada a dar aula e ajudar um pouquinho nesses processos”, conta Juliana.

Belô Cami

“O bordado, assim como a ilustração, não têm um limite muito claro. A união dos dois te dá infinitas possibilidades, seja em um trabalho com moda, seja em um trabalho no papel, seja em um objeto...”, conta Camila Belotti, ilustradora e criadora do Belô Cami. Ela conhecia o bordado desde pequena através de sua avó, mas foi há quatro anos que resgatou a técnica por interesse artístico. Em seu trabalho, ela criou uma interseção entre desenho e linhas que apaixona seus seguidores no Instagram.

“O bordado, como outros trabalhos manuais, é um resgate de tempo”, conta ela, que tem uma clara identidade visual nos seus bordados. Através dos seus cursos, ela faz com que seus alunos e alunas tentem explorar livremente a interseção entre e arte e o ofīcio. As próximas turmas, voltadas para essa união, começam em setembro e se dedicam durante dois meses nas acontecem em seu ateliê na Pompeia.

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  “O bordado, como outros trabalhos manuais, é um resgate de tempo”, conta ela, que tem uma clara identidade visual nos seus bordados.

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