A startup que vende embalagens para moléculas

[Romildo de Paula Leite]

Em Santa Catarina, a Nanovetores está transformando em negócio uma tecnologia capaz de encapsular e preservar princípios ativos de cosméticos, tecidos e até de alimentos

A nanotecnologia é o ramo da ciência que explora as propriedades moleculares e atômicas da matéria. A Nanovetores, uma startup de Florianópolis, está disposta a empregar esse conhecimento na criação de novos negócios para os mercados têxtil, odontológico, de alimentos  e, principalmente, de cosméticos. A empresa é especializada no armazenamento de substâncias ativas – como vitaminas, por exemplo – em moléculas que podem ser agregadas a cremes, fragrâncias, tecidos e alimentos, conferindo a eles propriedades surpreendentes.

A cientista Betina Zanetti Ramos e o marido, o administrador Ricardo Ramos, fundaram a Nanovetores em 2007. A ideia surgiu depois de uma temporada de estudos na França. Com graduação e mestrado em Farmácia pela UFSC, Betina cursou o doutorado em Nanotecnologia na Université Bordeaux e trouxe de lá a expertise em encapsulamento de subtâncias moleculares. No retorno ao país, ela e o marido criaram um empreendimento para fornecer o serviço às indústrias locais de cosméticos. Até então, ele só existia fora do Brasil.  Durante dois anos, Betina se dedicou a pesquisas com materiais alternativos para comprovar a viabilidade científica e clínica das técnicas de encapsulamento. Hoje, instalada no polo de incubação Celta, em Florianópolis, a Nanovetores é a única empresa do mundo que oferece as tais cápsulas (conhecidas como vetores) com base aquosa, sem solventes orgânicos. Para isso, a startup catarinense utiliza elementos alinhados ao conceito de “química verde”.

Em 2008, a Nanovetores foi contemplada com uma subvenção da Fapesc em associação ao Sebrae e à Finep. Ao todo, a empresa recebeu R$ 300 mil para desenvolver sua tecnologia. “Só iniciamos as atividades comerciais em 2009. Hoje, temos parcerias com multinacionais e exportamos nossos serviços para a Europa”, relata Betina. A Nanovetores, atualmente, é uma S/A com investimentos do BNDES, do Fundo Criatec e do Banco do Nordeste. Nos próximos dois anos, a meta é estabelecer uma sede definitiva no Sapiens Parque, no norte de Florianópolis. O portfólio da Nanovetores conta com mais de 100 empresas – entre elas, estão marcas como O Boticário e L’Oréal.  

A catarinense Malwee também está na carteira de clientes-parceiros da Nanovetores. A fabricante de roupas está elaborando, agora, uma linha “fitness” cujos tecidos trazem partículas capazes de liberar substâncias hidratantes, relaxantes e anticelulíticas ao contato com a pele. O usuário percebe o efeito uma hora depois de vestir as peças. “Queríamos levar um diferencial para a Malwee porque nosso mercado têxtil tem sofrido muito com a concorrência chinesa”, explica Betina.   Protegido por nove patentes, o processo da Nanovetores já foi aplicado em clareamentos dentários, na cura de deformidades das unhas, em produtos veterinários e na otimização de suplementos alimentares. Ao todo, 23 funcionários atuam no desenvolvimento da tecnologia – quase todos são mestres ou doutores. A qualidade da Nanovetores também brilhou na In-Cosmethics, maior feira mundial do setor, realizada na França. “Imaginava que encontraríamos uma concorrência acirrada, mas não. A forma como conduzimos o nosso trabalho agradou muito”, exalta Betina.

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