Na busca por seu lugar ao sol, uma grande parte – gigantesca, na verdade – das indústrias de moda quer reduzir custos de produção sacrificando justamente a parte mais importante, que dará vida às criações: a própria produção. Isso vale para qualquer porte de empresa ou localidade, aqui ou no exterior, espremendo o valor pago por peça pronta, deixando em décimo plano o custo da mão de obra.
Seria a baixa remuneração um dos fatores para a falta de interesse em trabalhar na área de costura? Claro que há exceções, mas que a falta de profissionais no setor é grande todos sabemos, e a coisa se complica mais quando se fala em trabalhar em maquinários mais tecnológicos e com operação automatizada.
A questão é complexa e não pode ser vista por apenas um lado do prisma, pois existem vários outros. Rubens Nunes, consultor de gestão industrial da Megatech Consultoria, diz que, observando dezenas de confecções com as quais trabalha Brasil afora, percebe que os empresários, quando adquirem novos maquinários, o fazem com o objetivo de agilizar processos para ganhar.
produtividade, porém existe outro motivo, que é a real intenção na maioria das vezes, de deixar de depender da mão de obra de costura e ter operadores de máquina. “Esse desejo oculto fica cada vez mais claro quando se toma a decisão de fazer novas aquisições. Isso se dá pela constante falta de comprometimento dos colaboradores quanto aos resultados da empresa, e essa relação precisa ser mais bem analisada”, pondera Nunes.
Em sua percepção, o segmento de jeanswear é um dos mais sensíveis à falta de qualificação dos colaboradores por ser muito concorrido, no qual confecções e facções procuram ter máquinas mais rápidas e modernas, mas nem sempre conseguem tirar delas o melhor proveito. “Isso ocorre, no meu entender, pelo problema decorrente da falta de um treinamento mais aprimorado da mão de obra. Existem muitos colaboradores que não sabem operar nem um quarto do potencial da máquina. Muitos foram treinados por seus antecessores, ou seja, muito do treinamento passado pelo fabricante ou por seus representantes se perdeu”, conclui.
Quem tem autoridade para falar sobre o assunto é o empresário José Eduardo Nahas Filho, diretor do Grupo Zune Jeans. Localizado no bairro do Brás, em São Paulo (SP), o grupo detém as marcas Zune Jeans, Rodrigo Faro by Zune, Rock & Soda, Über Jeans e Disparate, e vende para todo o país.
Ele conta que, internamente, a confecção faz apenas o corte das peças, mas a costura e o acabamento são terceirizados, sendo uma parte feita no Brasil e outra na China. No entanto, quando compara a qualidade da costura e da mão de obra no que é feito aqui e no que é feito lá fora, vê uma diferença muito grande a favor dos chineses. “Acho que isso é fruto de algumas coisas, e uma delas é o sucateamento das oficinas de costura nacionais. Momentaneamente, como o mercado brasileiro está mais recessivo, a oferta de mão de obra, mesmo a de melhor qualidade, aumentou. Então, agora não estamos tendo tanto problema como tivemos no passado recente, mas isso é uma questão de tempo: é só o mercado reaquecer um pouquinho que voltaremos a enfrentar grande dificuldade de encontrar bons prestadores de serviços na área de costura”, afirma.
Para José Eduardo, além da lei de mercado, no qual só fica quem tem competência para oferecer mão de obra mais qualificada, há o fator da dificuldade de investimento por parte das oficinas de costura, principalmente devido aos baixos valores pagos pelo trabalho. “Acho que, na cadeia produtiva da confecção, o prestador de serviços na oficina de costura é a parte mais achatada e, muitas vezes, ele tem dificuldade até de fechar a conta nas operações do dia a dia, não conseguindo fazer investimentos em renovação de equipamentos, em máquinas. Acho que esse é um componente importante”, salienta.
O consultor Rubens Nunes vê isso de perto. Para ele, os empresários estão procurando modernizar o máximo possível seu parque industrial frente à competitividade de mercado, mas esbarram também nos altos custos de impostos e taxas governamentais. “Acredito que poderíamos estar mais adiantados se não fosse pelo custo Brasil, que torna muito caro esse investimento. Mesmo assim, temos empresários ousados que buscam, no mínimo, a substituição constante por máquinas mais modernas”, diz.
É o que vem fazendo Paulo Vieira, diretor-presidente do Grupo PW Export, responsável pelas marcas Missbella, Missbella Princess, Vide Bula e Vide Bula Jr. Ele está montando uma nova unidade industrial na cidade de Baixo Guandu, no Espírito Santo, a 49 km de Colatina, onde fica a sede da empresa, e a prioridade é o investimento em automação e maquinários tecnologicamente mais avançados, além do programa de lean manufacturing e da forte capacitação interna em parceria com o Senai e o Instituto Federal do Espírito Santo. No entanto, sente fortemente a falta de profissionais de confecção capacitados e disponíveis no mercado para operar de modo eficiente os equipamentos mais tecnológicos da empresa.
“O parque industrial de confecções, salvo exceções, carece de fortes investimentos tecnológicos para suprir a defasagem de muitos anos causada pela desindustrialização do setor de vestuário no Brasil. Os investimentos são absolutamente necessários para melhorar a produtividade, mas fundamental é termos profissionais disponíveis e qualificados por meio de uma educação profissional adequada, hoje escassa no mercado”, ressalta Vieira.
Outras empresas de grande porte também vêm sentindo o mesmo problema, como a Dudalina, que encontra dificuldades em achar mão de obra especializada tanto para a área de costura quanto para equipamentos automatizados. A solução tem sido fazer treinamentos internos em suas plantas fabris conduzidos por instrutores que abordam, além da operação dos equipamentos, o padrão de qualidade, a produtividade e a segurança.
Gerson Schuhardt, diretor de operações da Dudalina, conta que, para enfrentar essa questão, a empresa contratou um especialista internacional chamado Antonio Baliarda, que já atuou em mais de 50 países e desenvolveu a padronização dos métodos no sistema produtivo. “Por termos um sistema de treinamento baseado em métodos descritos e filmados, percebemos que as pessoas possuem um aprendizado mais efetivo, tendo maior aderência por parte dos colaboradores”, comenta Gerson. A Dedeka, de Caxias do Sul (RS), tem feito o mesmo: investido em treinamentos internos para suprir a carência de mão de obra em geral, principalmente quando se trata de equipamentos tecnológicos. O resultado tem sido bastante positivo, de acordo com o diretor da empresa de moda infantil, Sérgio Moacir Rosa. “Se a pessoa tem dificuldade, mas tem interesse em aprender ebom comportamento, procuramos ser pacientes e persistir para a evolução do aprendizado”, afirma Sérgio.
ENSINO E FAIXA ETÁRIA: AGENTES INFLUENCIADORES
Dois pontos em comum entre as confecções entrevistadas chamaram atenção: todas disseram que falta uma ênfase maior em maquinários mais tecnológicos nos cursos profissionalizantes, ou que às vezes não são bem divulgados, além de o fator idade influenciar nesse aprendizado. “Sentimos que os gargalos para melhorar a competitividade da empresa também passam por problemas como carga fiscal, taxa de juros, retração do mercado, insegurança jurídica, relações de trabalho burocratizadas e infraestrutura. Mas uma educação de qualidade, com melhor escolaridade, influenciaria positivamente a produtividade no trabalho”, avalia o empresário Paulo Vieira.
Gerson Schuhardt, da Dudalina, diz que também tem percebido essa lacuna no mercado, a falta de estruturas de ensino propícias para treinar ou capacitar iniciantes de costura, e essa reponsabilidade acaba ficando com as empresas, como exemplifica Sérgio Rosa, da Dedeka. “Percebo uma contínua evasão dos profissionais do setor em função de a maioria procurar por outras áreas, como administração, informática etc., ou seja, por mais inovação tecnológica que a indústria do vestuário tenha tido – como máquinas de costura eletrônicas, máquinas de corte automáticas, estamparia digital, entre outras. Na concepção das pessoas mais jovens, especialmente, a atividade continua sendo considerada simples. A função de costureira, por exemplo, é menosprezada pelos mais novos. Assim, acredito que, na maior parte das empresas, as pessoas que operam essas máquinas são mais velhas e acabam tendo mais dificuldades com as novidades. Por outro lado, procuramos reforçar para essas pessoas que, apesar de as máquinas terem evoluído muito, ainda assim é necessário alguém para operá-las, diferentemente do que ocorre em outros ramos, onde basta apertar um botão e a peça sai pronta”, destaca Sérgio.
Quem relata situação semelhante é Cairo Benevides, diretor da Liebe, grife de lingerie sediada em Fortaleza (CE). Ele conta que, com a dificuldade de encontrar profissionais, criou uma “escolinha” dentro da fábrica, onde as supervisoras, que já foram costureiras no passado, conhecem todo o processo e recebem treinamentos no Senai, repassam seus conhecimentos aos novatos e acompanham sua evolução. Também contam com consultorias contratadas para dar treinamentos internos na empresa.
“Se você procurar um profissional pronto no mercado, é muito difícil, não aparece. No corte, por exemplo, você precisa de profissionais com conhecimento em corte de tecidos, de renda, encaixe… A empresa que não investir hoje em treinamento e desenvolvimento de seus funcionários terá muita dificuldade. Infelizmente, o Brasil não é um país que investe tanto em cursos, em educação, então a empresa tem que ter esse papel também”, diz Cairo.
Segundo ele, a questão da idade também influencia no aprendizado para trabalhar com máquinas mais sofisticadas. Enquanto uma costureira com um pouco mais de idade fica mais receosa para costurar numa máquina eletrônica, uma mais jovem já toma isso como um desafio. O segredo é manter os dois perfis misturados. “Na minha fábrica, as costureiras com um pouco mais de idade às vezes têm dificuldade e, se elas não fizerem esse trabalho, podem até ficar fora do mercado, pois estão vindo mais tecnologias, máquinas eletrônicas, e elas têm que ter esse interesse. Temos que observar que algumas costureiras se dão melhor com um tipo de máquina do que com outro, mas a resistência você só quebra com a experiência, aí elas acabam vencendo essa barreira.”
Para Marcelo Matheus, gerente de produção da marca esportiva Natural Sports, de São Paulo, capital, ocorre o mesmo. Com uma produção anual de 720 mil peças, ele diz que encontra dificuldades na célula de produção interna, que conta com seis profissionais, e também na externa, onde 25 facções costuram 90% de sua demanda. “As costureiras internas que temos hoje são aquelas mais antigas que resolveram voltar ao trabalho. Por isso a dificuldade com o maquinário mais avançado. No entanto, temos todo o suporte de nosso representante de máquinas. Com o treinamento deles, as dificuldades estão diminuindo dia a dia.” Na Dudalina, esse suporte por parte dos fabricantes e fornecedores de máquinas e equipamentos é fundamental. Gerson conta que essa parceria tem se mantido ativa, na qual, além do suporte, recebem também o treinamento operacional.
Na área de educação profissionalizante no setor de confecção, especialmente de maquinário, o Senai é uma referência nacional. Com o questionamento por parte de confeccionistas, fabricantes e distribuidores de máquinas sobre a falta de mão de obra na área que atenda a demanda por capacitação tecnológica, Luisa Meirelles, coordenadora de Tecnologia em Produção de Vestuário do Senai/Cetiqt, no Rio de Janeiro (RJ), unidade totalmente voltada à cadeia têxtil e confeccionista, diz que, no momento, estão com um grande investimento em modernização das plantas de confecção, tecelagem e inovação, buscando o que há de mais moderno no mercado para formar seus alunos.
conta que procuram incluir nos currículos dos cursos a modernização tecnológica exigida pelo mercado de trabalho em todas as pontas, como a modelagem, por exemplo. “O Senai/Cetiqt está atento a todas as mudanças tecnológicas, tanto que adota os programas de modelagem Lectra, Audaces, Gerber e Moda 01 na grade curricular do curso de Tecnologia em Produção de Vestuário. Outros CADs são empregados para a representação técnica do vestuário, seja nos cursos de graduação, seja nos cursos técnicos. Além disso, ofertamos cursos de extensão que possibilitam o aprendizado de modelagem de vestuário nesses programas”, explica Luisa, que constata o interesse dos mais jovens por formação em CAD/CAM, e das pessoas mais maduras por cursos de costura. “Percebo certa resistência por parte dos alunos mais velhos em maquinários mais tecnológicos, pois têm dificuldade com a informática.”
A direção do Senai Francisco Matarazzo, localizado no bairro do Brás, em São Paulo (SP), e especializado em formação técnica na área têxtil e do vestuário, também foi procurada para falar sobre o assunto, mas até o fechamento desta edição não respondeu a entrevista.
O MAQUINÁRIO VISTO COMO INVESTIMENTO
Para que o Brasil avance na qualidade da prestação de mão de obra nas confecções e ganhe mercado, além de investir na formação e qualificação dos profissionais, antigos e novos, é preciso também pensar na escolha do maquinário como investimento, pois ele ajudará sobremaneira no ganho produtivo e na excelência de produto. Já parou para pensar na economia gerada ao ter um maquinário eficiente, que não precise parar tantas vezes para consertos ou ajustes, aumentando a produtividade e o interesse do operador em trabalhar nele? Fora a economia na reposição de peças, em visitas técnicas de mecânicos e mesmo no consumo de energia elétrica. No entanto, uma parte dos empresários ainda não pensa dessa forma e prefere investir seu dinheiro na compra de um maquinário com preço e qualidade reduzidos, só para atender a demanda instantânea. É completamente compreensível a falta de verba para grandes investimentos atualmente, devido às condições internas de economia e mercado, mas também é preciso pensar em médio e longo prazos. Vale a pena sacrificar a qualidade de seus produtos e o rendimento da produção, bem como causar o desgaste dos funcionários e de um maquinário que precisará ser reposto em pouco tempo, por não investir um pouco mais num equipamento de ponta?
Para José Eduardo, da Zune, não, vide o exemplo da calça jeans fabricada aqui e na China. “Acho que estamos no meio dessa transição, é uma questão de tempo. Acredito que muito em breve começaremos a viver uma realidade totalmente diferente em termos de qualidade de acabamento e de mão de obra aqui”, ressalta. Em sua opinião, está começando a haver a conscientização de que vender um produto mais acessível não quer dizer que ele tenha que ser de baixa qualidade, pelo contrário.
Foto: Kakau Santos/Divulgação. EDSON JOSÉ DE SOUZA, DIRETOR COMERCIAL DA SILMAQ.“O Brasil precisa entender que investimento em equipamento de qualidade não é custo. O equipamento de qualidade reduz o custo do produto final, pois normalmente vem com um pacote de vantagens agregado, como maior produtividade, confiabilidade, durabilidade e qualidade de produção, revertendo todo o investimento em lucro. O treinamento operacional também influencia positivamente no rendimento dos equipamentos. Antes de reclamarmos da qualidade da mão de obra nas fábricas, devemos olhar para o que oferecemos aos nossos colaboradores em termos de equipamentos e de formação para a operação deles”, destaca o engenheiro Edson José de Souza, diretor comercial da Silmaq.
Para ele, questionar a “falta de mão de obra especializada” é, de certa forma, querer justificar um investimento malfeito. “Se o empresário compra um equipamento e seus operadores só aproveitam 50% de sua capacidade produtiva, esse equipamento está custando praticamente o dobro do preço. O fator decisório não pode se basear somente em preço. Um equipamento de primeira linha pode exigir até 30% a mais de investimento, mas, se ele tem produção 30% maior que o outro, já custa o mesmo preço; se exige menos manutenção, custa mais barato. O que percebemos é uma avalanche de oferta pela oferta, e não de benefícios para tornar a indústria mais competitiva”, aponta Edson. De acordo com ele, a Silmaq mantém essa constante preocupação em só trabalhar com produtos de alta qualidade e tecnologia, além de oferecer um serviço diferenciado que possibilite ao cliente ter total aproveitamento do dinheiro investido no equipamento adquirido. “Quando vendemos nossos equipamentos, a formação dos operadores e a formação da manutenção básica estão inclusas no custo do maquinário. A Silmaq investe muito na formação de seus técnicos para que eles possam formar bem a mão de obra que vai operar as máquinas instaladas nos clientes. Temos um departamento de qualidade que cuida da verificação dos resultados do trabalho de nossos técnicos e da satisfação do cliente, e tudo isso agrega valor aos nossos produtos”, destaca. Augusto Pereira, consultor de vendas da Andrade Máquinas, ressalta que o problema da falta de mão de obra especializada e qualificada não é exclusivo do setor têxtil e confeccionista, mas generalizado no Brasil. Segundo ele, pesquisas recentes mostram que essa taxa em nosso país é quase o dobro da média mundial. Os fatores são diversos, mas principalmente a formação básica de baixa qualidade e a falta de cursos técnicos específicos. “Em todo o país, temos visto que a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada tem sido preponderante para que muitas empresas deixem de investir em novas tecnologias e busquem produtos manufaturados em mercados que as dominam”, adverte Augusto.
O consultor confirma que o desenvolvimento de novas tecnologias para a indústria de confecção nos últimos anos trouxe uma série de benefícios às empresas do setor, como a padronização da qualidade, o aumento da produtividade, a diminuição do consumo de energia, entre outros. Mas, se por um lado essas inovações têm dado melhores condições para quem lida com esses equipamentos, por outro tem exigido uma qualificação mínima necessária para que todos os recursos sejam explorados. “Com o apoio dos principais fabricantes e desenvolvedores de tecnologia do setor, a Andrade Máquinas, ao longo dos anos, tem promovido diversos treinamentos internos e itinerantes para revendedores e confecções, que propiciam maior entendimento dos recursos tecnológicos dos equipamentos. Dessa forma, nossos clientes podem aproveitar ao máximo a capacidade de cada equipamento e mantê-los em perfeitas condições de uso e segurança e cada vez mais competitivos.”
Particularmente no que diz respeito ao setor de corte das confecções, uma área altamente automatizada, José Roberto Neubauer, diretor comercial da Optikad do Brasil, relata sua experiência com a visita frequente aos clientes interessados em seus produtos. Ele constata a real escassez de profissionais qualificados no mercado por todos os motivos já listados anteriormente, inclusive o problema recorrente da falta de compromisso e assiduidade dos profissionais, que compromete o planejamento produtivo das empresas, mas também destaca que a maioria das confecções no Brasil está muito atrasada quando se fala em automação industrial. “Hoje, temos um grande número de encarregados de trabalhos excessivamente mecânicos, que, como já não se encontram disponíveis no mercado, são substituídos por um técnico especializado, como ocorre no corte de tecidos. Em nosso caso, esse técnico é treinado pela própria Optikad em regime de produção. Nossa automação, além dessa profunda substituição de mão de obra, reduz o tempo operacional e proporciona total precisão do corte, o que aumenta a produtividade dos setores subsequentes de fabricação”, salienta.
Quem também se mostra favorável à automação é Silvio Nazario Sobrinho, sócio proprietário da Mega Máquinas, de Içara (SC). Ele destaca que um dos focos da empresa para solucionar o problema da falta de mão de obra qualificada em maquinários mais tecnológicos em determinadas funções na linha de produção foi encontrar máquinas especiais desenvolvidas no exterior. “Hoje, existem máquinas de alta tecnologia que podem, em diversos casos, suprir a falta de mão de obra especializada e, assim, apenas um operador de máquina pode manuseá-la obtendo o resultado final desejado, ou até melhor, pois a máquina mantém sempre o padrão de qualidade em uma linha de produção.” Para Franco Coin, gerente de vendas das marcas Vibemac, Maica e Framis, a mão de obra qualificada e a automação de maquinário no Brasil são pontos convergentes no que diz respeito à sobrevivência da empresa.
Foto: Silvia Boriello. FRANCO COIN, GERENTE DE VENDAS DA VIBEMAC, MAICA E FRAMIS.Ele lembra que, há 30 anos, os empresários brasileiros do setor de confecção só compravam maquinário de qualidade. Ao mesmo tempo, nesse mesmo período, o país esteve fechado ao comércio internacional, o que criou certo comodismo interno, pois as empresas daqui não tinham que competir com as de fora. Mas não há mais espaço para essa mentalidade há tempos.
Um exemplo é uma passagem que Franco teve por Bangladesh. O que pôde ver foi que, num país onde os salários e custos com funcionários são os mais baixos do mundo, existe muito mais automação do que no Brasil. “É um absurdo!”, indigna-se. Mas ele sente que os empresários estão começando a mudar o pensamento, e a atual situação, por pior que seja no mercado confeccionista nacional, está fazendo com que repensem sua produção, para onde vai o mercado e como se estruturar para o futuro. A alta do dólar também está tendo esse efeito de retomada da produção interna, movimento que vem acontecendo fortemente também na Europa, com o intuito de ter uma resposta mais rápida do produto no ponto de venda em vez de fazer um pedido na Ásia com seis a oito meses de antecedência. A China, mais expoente país no cenário mundial, está deixando de ser fornecedor para ser consumidor, comprando de Bangladesh.
Segundo Franco, o problema é que a mão de obra no Brasil está ficando cara e escassa, então as empresas têm que se estruturar para ser mais competitivas. “O mercado do futuro não permitirá mais que uma empresa não tenha uma estrutura que possa melhorar a produtividade. Para isso, não basta ter só tecnologia, tem que ser tecnologia boa. Tem confeccionista que não compra máquinas de maior qualidade porque diz ser difícil trazer para o Brasil. Mas, se ele pensa em montar uma empresa para 20 anos pelo menos, não pode pensar desse jeito. Comprando um maquinário mais barato, ele pode ter três meses de felicidade e o resto do tempo mais complicado pela frente. Hoje, ele pode ter uma fábrica com 60 pessoas fazendo 300 peças por dia, mas já com prazo de validade, ou ter uma fábrica com 60 pessoas fazendo 2 mil peças por dia, essa, sim, saudável e com futuro, enquanto a primeira não sustenta o custo que tem. Por absurdo que seja, quando você tem um equipamento de automação, ele já eleva a qualidade dos produtos. Se os números não batem, a fábrica fecha. É a lei da sobrevivência.”
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