A tradição e a qualidade ainda seduzem os homens

[Romildo de Paula Leite]

Acima e abaixo, criações do estilista Rodrigo Fraga: camisaria com padrões chamativos, cuja sofisticação é garantida pela alfaiataria caprichada

Entre as frases célebres atribuídas a Coco Chanel há uma bastante emblemática e atual: "Só quem não tem memória insiste na originalidade", disse a estilista francesa, em um de seus tantos momentos proféticos. Pois a mais recente temporada de moda masculina parece ter levado a sua previsão ao pé da letra: entre trajes tradicionais e releituras de estilos consagrados, o que se viu nas passarelas foi um pouco de tudo que costuma deixar o homem chique. Simples assim.

Teve terno risca de giz e xadrez; teve costume de veludo e sobretudo de lã - no caso da Emporio Armani, de lã com efeito de pelo de astracã. Para os mais extravagantes, surgiram casacos inteiramente de pele, como numa volta ao tempo das cavernas, feito esse, da Prada. Tanto luxo e riqueza não parece ser outra coisa senão um sinal de otimismo de que o consumidor anda gastando bem - e deverá gastar ainda mais para satisfazer a própria vaidade.

O designer Rodrigo Fraga é um dos que percebe o apego do homem pelo bem vestir. "A minha experiência com o seguimento de roupa sob medida mostra que existe uma maior valorização e encantamento pela exclusividade", afirma Fraga. "E isso não ocorre somente em ocasiões especiais". Segundo o estilista, o homem contemporâneo quer a moda cada vez mais incorporada ao dia a dia.

Looks coordenados, um uso mais frequente de acessórios variados e de cores fortes são alguns dos sinais de uma vaidade crescente. "O consumidor está mais tranquilo na hora de fazer as suas escolhas e os tabus vão sendo quebrados", afirma Fraga, cujo trabalho, autoral e alinhado aos novos tempos, foi publicado recentemente no site "Creative Boys Club".

E por falar em novos tempos, a revista masculina GQ listou as tendências mais importantes para 2014. Entre elas, está a jaqueta estilo "baseball". Mas não se trata daquelas usadas pelos jovens colegiais americanos. E sim modelos de tecido mais nobre e superfície lustrosa, como a da Ermenegildo Zegna. Usada com camisa de botão casual, é uma combinação podre de chique.

Ao centro, dois momentos dos desfiles Armani, ladeados por modelos da Prada (esq.) e Ermenegildo Zegna: casacos como numa volta ao tempo das cavernas

Enquanto se retorna aos clássicos nos ternos, blazers e calças de alfaiataria, quando o assunto é camisaria a ousadia está liberada. Padrões chamativos, portanto, virão com tudo, aponta o ranking de estilo da GQ. Dessa forma, consegue-se o melhor dos dois mundos: parecer sofisticado (graças à alfaiataria caprichada) e irreverente.

Os ternos com padronagem xadrez perderam o mofo e foram eleitos os mais elegantes do momento. Jogando com diferentes tamanhos dos quadriculados, como fez a Ermenegildo Zegna, a chance de se destacar na multidão é grande. Outro retorno triunfal foi feito pelos costumes de anarruga. O tecido, à base de algodão, ganhou acabamento mais sofisticado e novas cores, como azul-marinho e cinza escuro. O resultado é um traje fresco e elegante.

Mas qualquer que seja o caminho rumo ao coração do consumidor de moda, algumas coisas permanecem a respeito de seu comportamento de compra. A qualidade e a durabilidade, por exemplo, são características que o homem não está disposto a abrir mão. "Ele não consome o descartável e faz questão de conforto", diz Fraga.

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Por Vanessa Barone | Para o Valor, de São Paulo