Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI


Em Minas Gerais, indústrias têxteis estão adequando processos produtivos às leis de proteção ambiental. No varejo, no entanto, poucos consumidores estão atentos à causa

BETO MAGALHÃES/ EM/D.A PRESS

Nas fábricas, a lavagem do índigo envolve o gasto de muita água, além de diversos produtos químicos
A produção de uma calça jeans consome, em média, 50 litros de água, além de muita energia e litros de diversos produtos químicos. Tais números vem caindo a partir de 1984, quando surgiram as primeiras leis ambientais brasileiras. Desde então, a indústria têxtil procura adequar-se às normas que exigem a produção com menor gasto de recursos, além do tratamento de efluentes líquidos, emissões atmosféricas de efeito estufa e demais resíduos que podem poluir água, ar e solo.
 
Em Minas Gerais, estado onde a legislação é considerada rígida, algumas empresas saíram na frente e hoje são referência. Exemplo, segundo a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), vem da Cedro Cachoeira. Com as adequações mais recentes, a fabricante de denim, moda e tecidos profissionais para forças armadas, área médica e industrial trocou o combustível fóssil pelo biomassa para reduzir a emissão de gases e diminuiu em 50% o consumo de água, entre outras ações. Também a DTA, com sede em Betim, na Grande Belo Horizonte, construiu uma estação de tratamento (ETE) própria e se orgulha de um novo projeto: está prestes a lançar o jeans less water, cuja lavagem não modifica muito as características do tecido e reduz o consumo de água em 90%.
Já no varejo, há poucas mudanças. A maioria dos consumidores ainda desconhece o impacto ambiental causado pela indústria fashion. Num futuro próximo, no entanto, esse comportamento tende a mudar, como afirma Sylvio Napoli, gerente de capacitação tecnológica da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). “Fazemos parte do mundo. Mais dia, menos dia, a opção pelo consumo sustentável será uma ação natural. Nesse sentido, nossa participação é ainda muito tímida. Ao contrário dos mercados japonês, europeu e norte-americano, ainda temos muito o que aprender.”
Indústria consciente
Napoly explica que a legislação ambiental é competência do Ministério do Meio Ambiente e das Secretarias Estaduais e Municipais. Em Minas Gerais, as atribuições do licenciamento ambiental e da Autorização Ambiental de Funcionamento (AAF) para indústrias são exercidas pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) e entidades relacionadas. Para a regularização ambiental, considera-se a classificação dos empreendimentos nos termos da Deliberação Normativa Copam 74 (DN 74), de 2004, por meio da qual as fábricas são agrupadas em classes de acordo com o potencial poluidor, tipo de atividade, área que ocupa, número de funcionários e outros termos. Essa classificação varia de classe um (pequeno porte e pequeno ou médio potencial poluidor) à classe seis (grande porte e grande potencial poluidor).
No mesmo ano da DN 74, a Cedro começou a agir para aprimorar os processos de produção e implantou a Norma de Sistemas de Gestão Ambiental NBR Iso 14001 em todas as quatro unidades, nas cidades de Sete Lagoas, Caetenópolis (duas) e Pirapora. “A partir daí, realizamos o gerenciamento sobre todos os aspectos ambientais da fábrica, inclusive aqueles gerados por prestadores de serviços”, revela Márcio Alvarenga, gerente ambiental da empresa.
Entre as ações, ele relaciona a mudança da matriz energética das fábricas de Sete Lagoas e Pirapora com a substituição de derivados de petróleo (óleo e gás natural) por biomassa (bagaço de cana e resíduos de madeira). “Com a troca deixamos de emitir 50 mil toneladas de CO2 para a atmosfera anualmente”, registra. A estação de tratamento de efluentes (ETE) da Cedro tem a capacidade de remoção de 96% da carga poluidora da água (remoção de DBO) que, reaproveitada, já responde por uma redução significativa no volume gasto para a fabricação de um quilo de tecido: de 115 litros para 50 litros. Ele cita ainda o sistema que reaproveita gases de exaustão da caldeiras, usado para a neutralização química dos efluentes, o que significa economia de quase 100 toneladas de ácido sulfúrico por mês.
Entre os projetos recentes, Alvarenga conta que a Cedro investiu R$ 10 milhões em um novo sistema de tratamento de efluentes em Pirapora a partir de uma tecnologia alemã de membranas, projeto que deve entrar em operação até o fim do ano. “O futuro só será possível se produzirmos mais com menos recursos”, afirma. 
Jeans amigo da natureza
Em Betim, a DTA utiliza cinco milhões de litros de água por mês para fabricar as coleções que abastecem a loja própria, em Belo Horizonte, e centenas de multimarcas em todo o país. Boa notícia é que, graças ao investimento em uma ETE própria, em 1998, o volume volta para a natureza com pelo menos 75% de pureza. “Na época, o investimento em uma ETE própria seria um caminho natural, precisaríamos fazer no futuro, mas não esperamos o último momento. Consumimos milhões e milhões de litros de água, nosso DNA é jeans, e nossas lavagens bem elaboradas. Com isso, pensamos que a responsabilidade de garantir a qualidade da produção sem agredir o meio ambiente é mesmo nossa”, lembra a empresária Regina Matina.
A fábrica também possui lavadores utilizados para diminuir o impacto da emissão de gases poluentes, Há, ainda, um programa para viabilizar a destinação correta de resíduos sólidos, que também é direcionado a Organizações Não Governamentais (ONGs). Tais entidades transformam aparas e retalhos em produtos promocionais que são recomprados pela empresa. Por mês, a DTA fornece a média de 1.720 quilos de lixo reaproveitado. Já o lixo industrial é encaminhado para um aterro certificado. A fábrica dispensa a média de 9.230 quilos mensais. “Acredito na tendência de que leis fiquem mais rígidas. Todo mundo quer que isso aconteça para manter o ciclo de produção com menor impacto para o meio ambiente”, registra. 
Outra proposta da DTA envolve diretamente o consumidor da marca. Trata-se da lavagem less water, que diminui em 90% o gasto de água na produção do jeans. “Não vou trabalhar com grande incremento no visual do jeans, que fica quase original. No entanto, será possível beneficiar a peça por meio da modelagem e anatomia. Nesse caso, caberá ao consumidor decidir se prefere um produto com menos efeitos, porém amigo da natureza”.
REPRODUÇÃO
Menor impacto
Gerente de meio ambiente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Wagner Soares Costa lembra que as leis ambientais brasileiras entraram em vigor a partir de 1981, com a Política Nacional do Meio Ambiente. Elas legislam sobre a proteção de água, solo, e ar, por meio de normas para lançamentos de efluentes, gases poluentes e outras ações que causam impacto ao meio ambiente.
Apenas com a Eco 92, no entanto, houve um verdadeiro despertar para a questão. “Com o evento mundial, acordamos. Tínhamos leis, mas não a consciência. A partir da Eco 92, a questão ficou mais clara para todos e começamos a buscar adequação, como a montagem de aparatos de fiscalização, educação e sensibilização dos empresários. A coisa foi evoluindo com o tempo”, avalia.
Hoje, Costa afirma que a indústria funciona de acordo com a lei, incluindo a têxtil, grande usuária de água e de produtos químicos e que também realiza emissões atmosféricas. Ele informa ainda que a indústria que não cumpre à risca as exigências legais pode ser multada e até mesmo ter as atividades suspensas. E isso vale tanto para fábricas da capital quanto no interior. “Não foi um processo de curto prazo. Desde 1992 até agora as empresas estão se adequando já que o investimento é muito alto. Exemplo é a construção de uma ETE em uma empresa de médio, que não fica por menos de R$ 2 milhões. Algumas também modernizaram processos produtivos. Porém, a indústria têxtil de Minas Gerais já está bastante adequada, tanto no interior quanto na capital. Mesmo porque se não der conta, vai fechar a porta, não terá chance de sobreviver”, garante.
Ainda segundo o especialista, a tendência aponta para uma produção mais consciente. “A Rio 20 veio trazer a ideia da economia verde, do gerar qualidade de vida com o menor uso de recursos naturais possível. É sob essa ótica que todos estamos trabalhando”, revela.
O gerente de meio ambiente informa ainda que a Fiemg, por meio do programa Minas Sustentável, presta assessoria técnica para a adequação ambiental das empresas. “Não existe a chance de zerar o impacto de um processo produtivo, mas é possível fazer mais com menos, além de desenvolver projetos de produção mais limpos, com maior eficiência energética, dar destinação correta para o lixo e outras ações para que o impacto ambiental seja o menor possível”, conclui. 
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