Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Passou da hora de parar com a zombaria a respeito de homens que gostam de moda. Chega do “tem pra homem?”

FLÁVIA YURI OSHIMA
Desfile Dolce & Gabbana na Fashion Week, Coleção 2015, em Milão (Foto: Divulgação)

Há dois anos, publicamos aqui em Época uma reportagem com novos modelos de sapatos para homens. Solados com risca em cores, novos tratamentos de couro e modelos bico fino e bicolores davam respiro aos eternos preto e marrom. O termo em inglês era statement shoes. Traduzimos livremente como os sapatos afirmativos. Eu me recordo menos dos modelos dos sapatos e mais da reação das pessoas. Ouvi o “tem para homem?” dias a fio — enquanto cuidava da matéria e depois de publicá-la, entre amigos, pessoalmente, e em comentários nas redes sociais.

Não acho que eu seja cercada de monstros preconceituosos. Na verdade, a maior parte das pessoas que me fizeram ouvir o “tem para homem?” não tem nenhum problema com a orientação sexual de homem algum. A piadinha serviu para mostrar algo que sempre esteve em nossa cultura, que moda não era coisa de homem.
 

Desfile Dolce & Gabbana na Fashion Week, Coleção 2015, em Milão (Foto: Divulgação)

Por isso, foi com júbilo (acho que nunca tinha escrito essa palavra antes, mas a ocasião pede) que percebi neste último mês que isso é (quase) coisa do passado. Há quatro anos, as grandes grifes desfilam suas coleções masculinas em semanas de moda feitas somente para eles. Este ano, as Fashion Weeks masculinas de Paris, Londres, Milão e Nova York, encerradas em junho, tiveram repercussão como em nenhum outro ano. Os números mostram que o mercado de moda masculina não só está consolidado como é um dos mais promissores filões da área. Para este ano, o Instituto inglês de pesquisas MarketLine estima que a moda masculina mundial alcance US$ 402 bilhões. No Brasil, a previsão é que o mercado de moda masculina cresça de US$ 18 bilhões, em 2013, para US$ 23 bilhões em 2017.


Os números mais recentes do Ibope revelam que, no Brasil, os homens alcançaram as mulheres na frequência ao shopping. Pela primeira vez o público masculino representa metade dos frequentadores de shopping. Nas compras, as mulheres continuam liderando somente no segmento A. Nele, as garotas realizam, em média, seis compras por mês, enquanto os rapazes da mesma classe compram cinco vezes ao mês — estão quase lá.
 

Desfile da Prada para a Fashion Week 2014, em Milão (Foto: Divulgação)

A mídia dá uma boa amostra de quanto o interesse dos homens por moda aumentou. Pela primeira vez em sua história, a revista de moda masculina americana Fashion for Men saiu com 802 páginas. Há blogs exclusivamente para homens divididos por estilos, que atendem desde seguidores do jeitão Charles Bronson até os que preferem o minimalismo londrino. O portal de moda mais rico do mundo, o Net-a-Porter (avaliado em 60 milhões de euros) criou o Mr. Porter somente para eles.

A diversidade que começa a aparecer no mundo da moda masculina revela que o homem está mais exigente e não se contenta só com o marinho, o marrom, o preto e o cinza. Ele quer opções para se traduzir também pela roupa nos diferentes ambientes em que transita. Descobriu que para gostar de moda não tem de gostar de desfiles, ou de shopping centers, ou de fazer compras. Que escolher a própria moda é mais um exercício de autoconhecimento do que uma questão de gastar sola de sapato. Exercício esse que torna os homens mais interessantes (independentemente da roupa que vistam), criativos e bonitos. Nós, mulheres, agradecemos.

http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/Flavia-Yuri-Oshima/noticia/2...

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