A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), com apoio do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) e da Bayer, lançou o Plano de Incentivo ao Uso do Algodão com a campanha ‘Sou de Algodão’ que surge como resposta da cadeia produtiva ao crescente uso de sintéticos na composição de tecidos para fabricação de peças de vestuário. O investimento na iniciativa é de R$ 4,5 milhões.
Metade dos produtos fabricados no Brasil corresponde a fio de algodão, ficando os outros 50% com fibras sintéticas, lã e sizal, diz a Abrapa. “Com a campanha pretendemos elevar esse percentual para 55% a 56% em cinco anos”, afirmou ao GBLjeans João Carlos Jacobsen Rodrigues, presidente da Abrapa. É um processo lento, e a briga não é com a importação: o Brasil é o quarto maior exportador de algodão e o mercado interno importa menos de 10% da matéria prima, apenas produtos especiais de fibra longa adquiridos do Egito e da Califórnia (EUA). O Brasil conta com 600 grandes produtores e 2 mil pequenos que estão principalmente no nordeste.
CERTIFICAÇÃO ABR E BCI
O projeto pretende envolver a indústria têxtil e confecções de vestuário na adoção da etiqueta ‘Sou de Algodão’, incentivando também a difusão do selo de qualidade ABR (Algodão Brasileiro Responsável) e a certificação internacional BCI (Better Cotton Initiative) que hoje são comuns apenas entre os produtores. Segundo dados da Abrapa, 80% dos produtores nacionais de algodão têm o selo ABR e 71%, o BCI, totalizando mais de 1 milhão de toneladas, colocando o Brasil como o maior país com produção certificada. “O selo ABR é bem mais exigente que o BCI, portanto quem tem o primeiro já tem meio caminho andado para o segundo”, afirma Rodrigues. Com a adesão da indústria à certificação, o ciclo se fecha, e a peça de vestuário passa a não ser barrada na ponta, auxiliando a exportação.
O selo ABR garante que a produção respeita os benefícios sociais aos trabalhadores e o meio ambiente, mas não certifica que a produção é orgânica ou livre de produtos químicos e inseticidas. Essa, para Rodrigues, é uma outra batalha que também será travada aos poucos. A partir dos anos 1970 as plantações de algodão foram invadidas por um pequeno besouro norte-americano que provoca prejuízos anuais de milhões de reais aos produtores. “Os Estados Unidos erradicaram a praga ao custo de bilhões de dólares. Aqui a batalha é constante e, por enquanto, entre os grandes produtores o embate só é possível com defensivos químicos”, conta Rodrigues. Existem pesquisas junto à Embrapa para o uso de um inseto transgênico no combate à praga e que está sendo testado com pequenos produtores orgânicos na Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará.
MERCADO POR CONSUMO
Entre as vantagens da produção brasileira de algodão, Rodrigues destaca que 95% não recorrem a irrigação, usando apenas a água que vem das chuvas, sem a necessidade de reservatórios próprios ou da captação de água de nascentes que desertificam regiões como acontece no Paquistão. Segundo a Abrapa, entre os maiores consumidores de fio de algodão no Brasil estão as peças infantis, de cama, mesa e banho, que juntas somam 83%; a moda masculina usa 62%, e a feminina 23%. Em último lugar se posiciona a moda esportiva que consome apenas 11% de algodão.
Ana Luiza Mahlmeister -
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