Acionistas veem conflito na Tavex

[J. J. Torres]

Acionistas minoritários da Alpargatas, dona das sandálias Havaianas, estão  descontentes por conta do fechamento de capital de uma controlada, a espanhola  Tavex, fabricante de tecidos. Gestores da CSHG, Victoire, Studio Investimentos e  Franklin Templeton encaminharam uma carta ao conselho de administração e à  diretoria da Alpargatas pedindo esclarecimentos. Esses acionistas enxergam que a  operação traz um conflito de interesses do controlador da Alpargatas, a Camargo  Corrêa.

No fim de setembro, a Alpargatas informou sobre a criação da holding  A.Y.U.S.P.E, que passará a concentrar as participações da Alpargatas e da  Camargo Corrêa, no grupo têxtil espanhol Tavex. O controle da Tavex é  compartilhado entre Camargo, que detém 37%, e a Alpargatas, com 18,7%. Com a  consolidação das participações na A.Y.U.S.P.E., esta deterá 49,7% do capital da  Tavex e lançará um oferta pública de aquisição de ações (OPA) para o fechamento  de capital desta na bolsa espanhola.

Os minoritários afirmam na carta que o fato relevante não traz informações  "claras e precisas" a respeito do aumento de capital a ser feito na A.Y.U.S.P.E.  Não se sabe o valor da operação, número de ações emitidas, se há diferença de  direitos entre Camargo e Alpargatas, nem o preço de emissão das ações da  holding. Não estão claras para eles as condições e razões para o aumento de  capital, a forma como os acionistas participarão dele, se com bens ou não, e  qual será a destinação dos recursos.

Na noite de ontem, a Alpargatas informou que seu conselho de administração  aprovou a criação da holding com as seguintes condições: a Alpargatas não fará  aporte na A.Y.U.S.P.E. para a OPA de fechamento de capital da Tavex, e até 180  dias após a oferta, o conselho poderá decidir manter a fatia atual na Tavex ou  transferi-la para a Camargo Corrêa, ou ainda reestruturar seu negócio  têxtil.

Os minoritários avaliam que a Tavex "provou-se um investimento mal feito que  há diversos exercícios tem impactado negativamente os resultados da Alpargatas".  Apesar de ter passado por reestruturação que melhorou suas margens operacionais,  toda a geração de caixa da Tavex tem sido consumida pelo pagamento do serviço de  sua dívida, que hoje é de € 363 milhões. A alavancagem da Tavex é a seguinte: a  dívida líquida equivale a 7,2 vezes o Ebtida. Laudo de avaliação do Santander  diz que a Tavex "dificilmente conseguirá pagar o serviço da dívida, fato que  torna o fluxo de caixa perpetuamente negativo para o acionista".

Ainda que o fechamento de capital da Tavex possa ser um primeiro passo para  resolver essa situação, causa preocupação aos minoritários a forma como esse  processo está sendo conduzido. Na carta enviada à Alpargatas, eles veem conflito  de interesses da Camargo, que controla a Alpargatas e a Tavex e é garantidora de  "parte relevante da dívida da Tavex".

Na avaliação deles, ainda que o controlador seja comum, a Alpargatas não se  confunde com a Tavex e cabe aos administradores "zelar para que qualquer decisão  em relação ao investimento na Tavex seja tomada de forma independente dos  interesses de seu acionista controlador". Considerando a situação da Tavex e do  setor têxtil nos países em que ela opera "é muito difícil conjecturar uma boa  justificativa para a manutenção desse investimento", diz a carta.

A Alpargatas informa, em nota, que não há qualquer conflito entre a administração e o acionista controlador. Diz ainda que a administração vem atuando "com independência e buscando atender exclusivamente aos legítimos interesses da Alpargatas em relação ao tema Tavex". Informa que as informações solicitadas pelos acionistas serão divulgadas no momento oportuno, "desde que sua divulgação não traga prejuízos à Alpargatas". E esclarece que a Camargo Corrêa é garantidora da dívida da Tavex e que mais detalhes sobre o montante e condições da garantia poderão ser obtidos junto à própria Camargo Corrêa. Procurada pelo Valor, a Camargo Corrêa informou apenas que é  garantidora de 90% da dívida da Tavex

 

FONTE:

http://www.valor.com.br/empresas/3759804/acionistas-veem-conflito-n...