Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Balint Porneczi/BloombergFatia pessoal de Arnault na Hermès vai cair para 8,5% e seu grupo não poderá comprar novas ações por cinco anos

No ano passado, quando assumiu o comando da Hermès, Axel Dumas declarou guerra à LVMH. Ao prometer acirrar a luta da companhia contra o grupo de produtos de luxo controlado pelo bilionário francês Bernard Arnault, Dumas, de 43 anos, disse que essa seria "a batalha da nossa geração".

Suas palavras, vindas da sexta geração da dinastia à frente da empresa de artigos de couro e de moda sediada em Paris nos últimos 177 anos, exprimiram sua indignação após a LVMH ter acumulado, sorrateiramente, uma fatia de 23,2% do capital de sua empresa.

Ontem, numa inflexão imprevista da rixa que tomou conta do mundo dos artigos de luxo, a LVMH e a Hermès se beijaram e fizeram as pazes. Em comunicado conjunto à imprensa, por si só significativo, os dirigentes das duas empresas declararam ao mundo que não haverá mais brigas.

"Axel Dumas e Bernard Arnault manifestam sua satisfação de que as relações entre os dois grupos, representantes do 'savoir-faîre' da França, estão agora restabelecidas", afirmava o comunicado.

O acordo que instaurou esse armistício prevê que a LVMH entregue a seus investidores uma ação da Hermès para cada 21 ações da LVMH que possuem atualmente. Entre os principais investidores do grupo estão a Christian Dior, que detém 42% da LVMH, e o Groupe Arnault, uma companhia mantenedora familiar, que detém 5%.

A operação, que, segundo os dois grupos, se realizará antes de 20 de dezembro, fará com que a participação pessoal de Arnault na Hermès alcance cerca de 8,5%.

Arnault montou um seleto rol dos maiores nomes do mercado de luxo. Estão entre eles Fendi, Celine, Givenchy e Louis Vuitton, para mencionar apenas alguns. Criou o maior conglomerado mundial do segmento, com receita de € 29,1 bilhões no ano passado. Por seu lado, as receitas da Hermès alcançaram apenas € 3,8 bilhões no período.

O "lobo de cashmere", como Arnault é conhecido no setor, disse na época em que iniciou sua orgia de compras de ações da Hermès que a LVMH tinha apenas "boas intenções", e nenhum plano de assumir o controle - posição que sempre sustentou.

Se isso for verdade, Arnault pode se sentir totalmente satisfeito. A LVMH comprou o grosso de suas ações na Hermès - por meio de swaps de ações - em outubro de 2010, ao preço médio de € 106. Os papéis estão sendo negociados por € 253, mesmo após a queda de 4% registrada ontem. Em decorrência disso, a LVMH vai contabilizar um ganho de capital de cerca de € 2,4 bilhões na distribuição, além do lucro de € 1 bilhão já realizado.

Mas não é segredo que Arnault admira a Hermès há muito tempo, nem que ele cobiça as marcas mais desejadas do mundo. "Ele não consegue ver uma bela marca sem querê-la", disse ao "Financial Times" no ano passado pessoa familiarizada com ambos os grupos. "A exemplo de Casanova, ele precisa possuir todas - é uma compulsão no caso dele."

Luca Solca, analista de artigos de luxo da empresa de investimentos Exane BNP Paribas, argumenta que o acordo de ontem representa uma fragorosa - embora rara - derrota para Arnault. "Ela [a LVMH] se preparou por muito tempo para manter a Hermès sitiada e para esperar que os membros da família mudassem de opinião. Acho que ficou bem claro que ele queria assumir o controle da companhia."

Para a Hermès, o armistício na guerra das bolsas traz várias vantagens, dizem os analistas. Para começar, diz Mario Ortelli, da empresa de pesquisa Bernstein Research, ele permitirá que os preços das ações reflitam melhor os fundamentos da empresa. Até a queda de ontem, o papel vinha trocando de mãos a uma relação preço-lucros futuros de 29 - quase o dobro da média do setor.

Depois da distribuição de ações pertencentes à LVMH, o total de papéis em circulação ("free float") da Hermès praticamente triplicará, o que atrairá mais acionistas e reduzirá o potencial de ocorrência de oscilações especulativas.

Mas o maior benefício para a família controladora é a sensação de que ela sobreviveu ao ataque mais violento da história do grupo. O acordo não apenas determina que a LVMH liquide sua participação na Hermès como também declara que o grupo não comprará as ações de sua concorrente menor por cinco anos.

Isso será recebido como um imenso alívio pela família, que em 2011, em resposta à investida da LVMH, fundou a H51, holding com 50,2% do capital acionário, na tentativa de se proteger contra uma tomada de controle hostil.

Entre outros mecanismos de defesa, a H51 negociou um direito prioritário de comprar mais 12,3% das ações do grupo caso alguns membros da família decidissem vender.

Patrick Thomas, principal executivo da Hermès na época das investidas iniciais de Arnault, resumiu o pavor que tomava conta de muitas pessoas da empresa ao dizer: "Quando você quer seduzir uma mulher bonita, não começa por violentá-la pelas costas".

A indignação da família com a compra de ações por Arnault pode parecer pouco sintonizada com as práticas empresariais atuais - e com a decisão tomada pela Hermès na década de 90 de abrir seu capital. No entanto, a LVMH efetivamente acumulou suas ações de maneira furtiva, tanto é que a autoridade reguladora do mercado de capitais francês multou-a posteriormente em € 8 milhões.

Por enquanto Dumas e os membros de sua família poderão sentir que sua união se revelou mais forte do que o desejo de Arnault. Como disse ao "FT" uma pessoa próxima à empresa, "a Hermès sempre quis que a LVMH reduzisse significativamente sua fatia na companhia, e foi isso que conseguiu hoje [ontem]." (Tradução de Rachel Warszawski)


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Por Adam Thomson | Financial Times, de Paris

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