Não só a indústria da moda emprega 161 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo os dados da FashionUnited, como também tem o poder de reverter a pegada de carbono atual com a implementação de metodologias específicas na origem. As marcas estão a sentir uma pressão crescente para cumprirem metas de sustentabilidade mais restritas com a adoção de práticas de agricultura regenerativa para reconstruir o solo e, por sua vez, melhorar o planeta.
Num painel de debate online na feira Texworld New Yor City, os especialistas do sector discutiram formas através das quais a agricultura regenerativa pode beneficiar o meio ambiente e o porquê de todos os players da indústria deverem estar cientes da capacidade que têm de incentivar e criar mudanças.
«É muito importante que os designers, compradores e executivos da cadeia de aprovisionamento entendam o que está a acontecer no terreno. Eles primeiro precisam de se convencer sobre os benefícios regenerativos da agricultura biológica. Quando isso acontecer, tudo o resto se vai encaixar», afirmou Atul Mittal, diretor executivo da empresa têxtil Pratibha Syntex Ltd, citado pelo Sourcing Journal.
Na perspetiva de Mittal, os consumidores mostram-se cada vez mais conscientes dos hábitos de consumo e do impacto dos mesmos no meio ambiente, uma mudança que deverá ser mais evidente a partir deste ano. Se as marcas e as entidades parceiras das cadeias de aprovisionamento forem informadas em relação à base dos respetivos produtos, serão capazes de os aprimorar e elucidar os consumidores nesse sentido.
Roian Atwood, diretor sénior de negócios sustentáveis globais da Kontoor Brands, proprietária da Wrangler e da Lee, definiu a agricultura regenerativa como métodos agrícolas que podem «reverter as práticas históricas de uso da terra», visto que a agricultura é intrinsecamente prejudicial ao solo.
Como o segundo maior reservatório de carbono da Terra, seguido pela água, em primeiro lugar, o solo tem potencial para ajudar a combater as mudanças climáticas. Rebecca Burgess, diretora executiva da empresa de sistemas de fibra regenerativa Fibershed, referiu-se ao carbono como uma «moeda subterrânea» que sustenta a vida e remove o carbono da atmosfera, sendo que o solo saudável é mais adequado para desempenhar essa função.
Melhorar a origem
Roian Atwood apontou várias práticas regenerativas que a Wrangler aplica atualmente para melhorar a saúde do solo nos EUA, incluindo plantas usadas para retardar a erosão, lavoura de conservação, sistemas de plantação que reduzem a erosão do solo pela água e rotações que envolvem a plantação de diferentes colheitas para melhorar a saúde do solo e combater pragas e ervas daninhas.
[©Wrangler]
Estas informações revelam-se importantes, visto que as origens de uma marca estão profundamente enraizadas na agricultura. «O primeiro par de jeans Wrangler foi criado ao mudar a costura de dentro para fora, para evitar o desgaste em contacto com a sela ao montar a cavalo», explicou Atwood.
A Wrangler conta com parcerias com a Future Farmers of America há mais de 50 anos. Em setembro, a marca convidou produtores de algodão globais que implementam melhorias no carbono do solo e na biodiversidade para solicitar a compra do algodão para uma coleção Retro Premium de jeans.
O objetivo geral é melhorar as cadeias de aprovisionamento que têm um impacto significativo nas mudanças climáticas, garantiu Rebecca Burgess.
«Eventualmente, a própria cadeia de aprovisionamento deve ser a solução viva e respiratória para a crise climática. O vestuário é responsável por retirar mais carbono da atmosfera do que emitir. E, francamente, essa é a única maneira de resolvermos a crise», sublinhou Burgess.