Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Existe um certo "negativismo" inerente à moda. Esse é, afinal, um setor que rotineiramente ressuscita a calça de cavalo baixo, o vestido baby-doll e o casaco Yeti - e espera que mulheres adultas fiquem saltitantes de alegria.

Assim, confrontada com a democratização da imagem movida a Pinterest e Polyvore - que permite a qualquer pessoa velha criar seus próprios "mood boards" e tornarem-se especialistas em identificação de tendências - para não mencionar o surgimento do fotógrafo de "street style", duas vertentes que fizeram os analistas de tecnologia e de mídia declararem "o fim do editor!", o setor, baseado em elitismo, apenas rangeu seus dentes e sorriu.

Mas por quanto tempo você pode ficar parado e nada fazer, quando os rumores de sua morte são enormemente exagerados? Por quanto tempo você pode tocar o violino enquanto Roma (ou Milão e Paris) arde?

Aparentemente, não por muito tempo. Alguns podem encarar dois novos livros - "Vogue: The Editor's Eye" (o olho do editor), publicado pela Abrams, e "Grace", pela Chatto & Windus, um livro de memórias de Grace Coddington diretora criativa da Vogue, como leitura de férias ou decoração ambiental, mas eu os vejo como armas. Eles são argumentos defendendo o mérito do perito e as habilidades necessárias para fazerem o que fazem. Veja bem, o primeiro livro, com 416 páginas e por cerca de 45 libras, certamente machucaria se ele caísse em seu dedão.

Falando sério: como uma resposta à ideia de que "qualquer pessoa é capaz de fazer", esses dois livros oferecem provas de estilo mundial da teoria de Malcolm Gladwell exposta em "Outliers": são necessárias 10 mil horas de prática para tornar-se superior no que se faz. Mesmo se o que você faz é o tipo de coisa considerada fácil de fazer.

Uma breve digressão, neste ponto: note que ao dizer "editora de moda" não me refiro a pessoas como eu, que são críticos ou observadores.

Em vez disso, refiro-me às pessoas assim creditadas em revistas. São as pessoas que produzem as fotos que vão para as páginas: as pessoas que escolhem as roupas, os modelos que as usarão, os profissionais que cuidam de cabelos e da maquiagem, e o fotógrafo que as retratarão, e que conceituam um argumento visual em torno das roupas. Elas são as pessoas de visão. Elas são um mistério para a maioria dos outros, da mesma forma que "visão" é uma palavra imponderável para a maioria, razão pela qual provavelmente parece tão fácil descartá-las, declarar que "já eram": se ninguém sabe o que você faz, então é mais fácil rejeitá-lo.

Ou melhor, deveria eu dizer, essas pessoas costumavam ser um mistério.

O desvendamento dos editores de moda começou, na verdade, há alguns anos, com "The September Issue" (2009), documentário de RJ Cutler sobre a Vogue americana que transformou o perfil público de Grace Coddington. Sua evidente paixão por seu trabalho e sua vontade de lutar por aquilo em que acreditava, mesmo que isso significasse enfrentar sua chefe, Anna Wintour; sua crença em que a moda é o avatar da arte no mundo real; e seu amor pela criação em detrimento do comércio - tudo combinou-se para elevar Coddington, para trazê-la dos bastidores e colocá-la como heroína do povo dedicado à moda.

O sucesso de Coddington pós-filme - houve uma guerra imediata de propostas por seu livro de memórias, vencida pela Random House - e um amplo apelo não passou, evidentemente, desapercebido por Wintour. Com "The Editor's Eye" ela está tentando fazer para o resto de sua equipe, bem como para os editores da "Vogue" anteriores, o que o filme fez por Coddington: imbuí-los de credibilidade e valor aos olhos não só do setor, mas das massas.

É discutível, claro, quanto apelo de massa tem um livro que custa 45 libras, mas tudo é relativo. Ainda assim, ela não está sendo apenas oportunista. Como Hamish Bowles, editora internacional itinerante da Vogue, destaca na introdução do livro, quando Wintour assumiu as rédeas da "Vogue" em 1988, ela decretou que a editora de moda de cada artigo, bem como o fotógrafo, teriam seus nomes publicados. Na época, isso foi revolucionário.

No entanto, sob alguns aspectos, isso não era absolutamente necessário. Como os longos ensaios do livro sobre as oito mulheres retratadas - a maioria das quais, como Polly Mellen, Simpson Lilica e Cerf Carlyne de Dudzeele, são relativamente desconhecidas fora do setor - e os requintados agrupamentos de suas fotos ilustram, o que definiu essas editoras, acima de tudo, foi a consistência de sua visão e sua disciplina de execução. Os resultados - os layouts das revistas - determinaram efetivamente muito de como nós pensamos as roupas em qualquer momento: se vemos um vestido de brocado como romântico ou futurista ou mínimo ou funcional.

Nada disso reflete uma postura "eu uso saias, portanto conheço saias", que é a abordagem do mundo online à moda.

A propósito, as memórias de Grace Coddington foram lançadas na última semana, no dia de Ação de Graças. Se eu fosse adepta das teorias de conspirações, eu acreditaria tratar-se de uma mensagem: dê graças por seus editores, vós mulheres navegando as selvas da moda. Vocês sentirão falta delas, se um dia elas se forem.

Fonte:|http://www.valor.com.br/cultura/2916398/ainda-sao-editoras-que-defi...

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