Os preços do algodão têm vindo a aumentar nos últimos meses, mas embora a especulação esteja a fazer subir os custos, os elevados níveis de produção e de stocks, tanto na China como no resto do mundo, fazem com que as previsões não sejam alarmantes.

[©Flickr/Steve Miller]

A somar aos inúmeros desafios que estão a enfrentar, desde a redução da procura devido à pandemia até ao aumento do custo dos transportes, os atores da indústria da moda estão agora a sentir também a subida dos preços do algodão.

A 20 de setembro, os preços do algodão tiveram a sua última subida para níveis próximos dos 0,89 dólares por libra, o que se traduz, no sistema métrico e em euros, em cerca de 1,70 euros por quilo. Essa queda levou os valores para a tendência mantida pelos contratos de futuros próximos negociados na Intercontinental Exchange (ICE) de Nova Iorque desde abril de 2020, realça a Cotton Incorporated na sua análise mensal publicada em outubro, citada pelo Sourcing Journal.

«A reconfirmação da tendência pode ter atraído a atenção de especuladores», explica a Cotton Inc na sua publicação Monthly Economic Letter. «A atenção foi provavelmente chamada pelo dinamismo dos aumentos dos preços que ocorreram desde então. Embora os padrões dos movimentos de preço possam ter trazido investidores para o mercado de algodão, os dados recentes da procura podem também ter sido atrativos», acrescenta.

Entre outras, tem havido provas de uma forte procura na China, com a retoma da produção têxtil. Os leilões das reservas governamentais no país ultrapassaram o objetivo inicial de 600 mil toneladas, que deveriam ser libertadas entre o início de julho e o final de setembro, tendo o valor total atingido cerca de 630 mil toneladas, ou 2,9 milhões de fardos, segundo a Cotton Inc. A forte procura está ainda a fazer com que os leilões se estendam até este mês de novembro.

A maior parte dos preços de referência aumentaram desde o final de setembro. Depois de ter estado em cerca de 1,03 dólares por libra em grande parte do mês de setembro, o A Index, que revela a média dos preços mundiais de algodão, baixou para um valor abaixo de 1 dólar a 21 de setembro. Desde então, tem aumentado para níveis que já chegaram a 1,20 dólares.

Os preços do algodão nos EUA rondaram, em média, 1,05 dólares por libra na semana terminada a 7 de outubro, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA. Esse foi o valor médio semanal mais alto desde a semana terminada a 15 de setembro de 2011, quando a média foi de 1,08 dólares, salientou o Departamento de Agricultura. A média semanal subiu de 0,972 dólares na semana anterior e de 0,611 dólares na semana homóloga de 2020.

Levi Strauss joga na antecipação

Para já, contudo, este pico nos preços não foi sentido na cadeia de aprovisionamento. O Consumer Price Index publicado a 10 de outubro apontava que os preços do vestuário no retalho subiram 1,1% em termos ajustados sazonalmente em setembro, depois de terem aumentado 0,4% no mês anterior, apesar destes bens terem sido produzidos com algodão comprado há vários meses.


[©Unsplash/Karl Wiggers]

A Levi Strauss Co revelou que negociou a maior parte dos seus custos de produção até ao final do primeiro semestre de 2022 a uma inflação de um dígito baixo e antecipa um aumento de um dígito médio para o segundo semestre.

Chip Bergh, presidente e CEO da Levi Strauss, que chegou à empresa de denim durante o grande aumento de preços no mercado de algodão em 2011, acredita que a empresa, que é uma grande consumidora de algodão, está mais bem posicionada agora para lidar com os custos, graças em parte a uma maior distribuição da sua pegada e ao aumento de 5% nos preços que implementou no segundo trimestre «em antecipação à subida dos custos».

Segundo Bergh, «essa é parte da razão por que estamos a ver estas incríveis margens brutas nos últimos meses, já que passamos antecipadamente alguma desta pressão de preços que nos está a atingir».

Produção e stocks em alta

Entretanto, o relatório da Cotton Inc afirma que «ainda temos de ver até que ponto e durante quanto tempo vai durar o atual aumento nos preços do algodão – a mais recente subida não parece ser apoiada pelos fundamentos do mercado». Como tal, «isso sugere que é pouco provável que o aumento possa ser mantido tempo suficiente para criar preços semelhantes aos níveis experienciados no pico da colheita de 2010/2011», considera.


[©Flickr/Smabs Sputzer]

Segundo a Cotton Inc, desta vez é diferente porque o mundo não enfrenta uma escassez de oferta. Mesmo após as vendas recentes, estima-se que a China tenha nas suas reservas cinco a seis vezes o volume de algodão que tinha no início da época 2010/2011, por exemplo, ao mesmo tempo que os stocks privados chineses estão estimados como sendo cerca de três vezes mais altos do que há uma década. Os stocks mundiais com exceção da China, por seu lado, estarão, no final da época de 2021/2022, no terceiro volume mais alto desde que há registo.

O mais recente relatório do Departamento de Agricultura dos EUA destacou um aumento de 695 mil fardos nas previsões para a produção mundial de algodão, para 120,3 milhões de fardos, e uma descida de 734 mil fardos na utilização pelas fiações, para 123,5 milhões de fardos. Isso significa um aumento de 446 mil fardos na projeção de stocks finais, que deverão ficar em 87,1 milhões de fardos. A Cotton Inc indica que este número sugere que os stocks mundiais vão terminar a colheita corrente num nível equivalente ao sétimo maior de que há registo.

A atual previsão de preço do International Cotton Advisory Council para o A Index de 2021/2022 varia entre 0,82 dólares e 1,27 dólares por libra, com a média em 1,02 dólares por libra.


FONTESOURCING JOURNAL
https://www.portugaltextil.com/algodao-aumenta-mas-sem-sustentacao/...
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