Com as conversações para um acordo mundial de comércio na OMC em suspenso, as atenções voltam-se agora para um entendimento que beneficie os países mais pobres. No entanto, o algodão continua no centro da disputa entre os grandes produtores mundiais: EUA e China.
As maiores potências económicas mundiais desistiram de tentar chegar a um acordo mundial de comércio até ao final de 2011 e para tentar salvar a face optaram, em vez disso, por tentar encontrar um pacote que beneficie os países mais pobres.
Pascal Lamy, director da Organização Mundial do Comércio (OMC), que está a patrocinar as conversações, indicou que o foco agora está em tentar chegar a acordo no acesso sem quotas nem taxas e em regras de origem mais simples para os exportadores dos países mais pobres, assim como dar um «passo em frente» para o algodão até à data que os ministros do comércio se vão reunir em Genebra, de 15 a 17 de Dezembro.
As nações de exportação de vestuário menos desenvolvidas, lideradas pelo Bangladesh, e os exportadores de algodão, liderados pelo Burkina Faso, que irá falar em nome dos “quatro do algodão” (que inclui o Mali, o Benin e o Chade), acolheram bem a decisão.
Mas fontes diplomáticas afirmam que mesmo com as conversações em grandes temas – taxas industriais, agricultura e serviços – colocadas em suspenso durante pelo menos seis meses, o pacote de medidas para os países mais pobres pode ainda ser difícil de conseguir.
As grandes áreas problemáticas são as sensibilidades políticas entre as grandes potências em relação aos cortes nos subsídios ao algodão e os interesses concorrentes entre os exportadores dos países pobres em desenvolvimento.
Isto inclui preocupações em relação aos atritos em termos de acesso preferencial a mercados – especialmente para vestuário – dos países menos desenvolvidos (LDC na sigla em inglês) de África em mercados ricos e por outros exportadores em desenvolvimento, como o Paquistão.
Fontes bem colocadas afirmam que a principal prioridade dos EUA é assegurar a aprovação dos acordos de comércio livre com a Coreia do Sul, Colômbia e Panamá – e que altura não é apropriada para acrescentar assuntos sensíveis como o corte de subsídios à produção de algodão e o maior acesso a grandes exportadores de vestuário dos LDC, como o Bangladesh e o Cambodja.
Mas o algodão também emergiu como um tema de discórdia entre os EUA e a China. «Sempre fomos honestos que seria muito difícil para nós chegar a uma resolução sobre o algodão que estivesse desligada de um conjunto de resoluções mais abrangente e significativas na agricultura», sublinhou Michael Punke, embaixador dos EUA na OMC.
Punke criticou ainda a China por não ter fornecido, desde 2004, detalhes à OMC em relação aos seus subsídios. «Os programas de algodão de todos devem estar em cima da mesa», afirmou.
O embaixador americano considera que a China «iniciou ou expandiu significativamente os subsídios para beneficiar o seu sector de algodão» e marcou de forma indubitável a posição dos EUA. «Deixem-me ser claro: não iremos negociar no escuro».
Um responsável do comércio chinês, falando sob a condição de anonimato, contrapôs que os subsídios americanos atingiram os 3 mil milhões de dólares (2,08 mil milhões de euros) e fizeram cair os preços mundiais em 13%. Isto não só causou dificuldades para os agricultores pobres de algodão em África e na China, como também «retirou quota de mercado aos produtores africanos pobres».
Na China, a quota de algodão americano subsidiado aumentou de 17% para 43% de 1999 a 2005, indicou, enquanto a quota de mercado dos “quatro do algodão” africanos caiu abaixo dos 10%.
A única solução «é a eliminação dos subsídios dos países desenvolvidos de uma forma expedita», afirmou.
Em 2009, a China ultrapassou os EUA como o país que mais subsídiosdeu ao algodão, com os produtores a receberem 1,96 mil milhões de dólares em 2009/2010, segundo um estudo da Fairtrade Foundation.
Fonte:|http://www.portugaltextil.com/tabid/63/xmmid/407/xmid/39720/xmview/...
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