Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Oscilando entre a busca pela simplicidade e a ênfase na exuberância, marcas mostram a perfeição e
a identidade do fazer artesanal nas coleções da alta-costura.

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Foto: Reprodução/Instagram @schiaparelli

Na alta-costura, falar de simplicidade não é tão fácil. Com a perfeição como resultado de processos artesanais feitos à mão a partir de matérias-primas preciosas, complexidade parece ser o termo mais adequado. Mas na última temporada outono-inverno 2023/24, realizada em julho, algumas marcas focaram justamente em mostrar que é possível chegar a silhuetas acessíveis tendo como base um mecanismo intrincado. Por outro lado, flertes com a arte e exuberância levaram a looks mais dramáticos.

Valentino resumiu tudo com a frase “simplicidade é complexidade resolvida”, de Constantin Brancusi, escultor romeno e um dos principais nomes da vanguarda moderna. Apresentada ao ar livre no Château de Chantilly e batizada de Um Château pelo diretor criativo Pierpaolo Piccioli, a coleção é composta de silhuetas clean, em coluna, principalmente, e alguns volumes singelos. Foi a maneira de Piccioli mostrar que a essência da couture é simples, ainda que possa evidenciar a construção de peças extremamente elaboradas. Algo como um exercício de redução, em um movimento mostrando que dentro da complexidade pode ser encontrada uma simplicidade pura. O look de abertura, desfilado por Kaia Gerber, sintetiza essa visão: camisa branca imaculada, jeans e sapato flat. A calça, um clássico Levi’s 501 vintage, escondia um trabalho elaboradíssimo: feita de gazar de seda com um meticuloso trompe l'oeil de miçangas em 80 tons de índigo.

Na Fendi, a ideia de simplicidade também deu o tom no sentido da presença de silhuetas possíveis, sem espaço para fantasias. O que não significa ausência de soluções bem criativas, como nos vestidos fluidos em que a manga é uma extensão do comprimento da peça. O look rosa totalmente bordado, que fechou o desfile, consumiu 1.200 horas de trabalho manual. A marca italiana mostrou uma coleção concentrada no caimento, trabalhado principalmente no corte em viés com drapeados, dentro de um conceito de roupa-joia, acompanhando bem de perto a alta-joalheria de Delfina Delettrez Fendi, diretora artística de joalheria da marca italiana. “As cores vêm dos tons da pele e, também, das pedras: diamantes negros, rubis, safiras. Há um jogo entre suave e duro, carne e pedra”, descreve o diretor artístico Kim Jones.

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Fotos: Divulgação/Valentino e Fendi

Uma coleção atemporal que destaca a sofisticação contida na simplicidade da modelagem limpa feita em moulage, diretamente sobre o corpo, deu o tom na Dior. A diretora criativa Maria Grazia Chiuri olha para o arquétipo das deusas e dialoga com o trabalho de Marta Roberti, que estudou as iconografias de várias divindades femininas, quase sempre associadas a animais. Seu trabalho serviu de base para o cenário com bordados feitos pela indiana Chanaya School of Craft. A visão da artista reverbera também no conceito das roupas: vestido e corpo se fundindo através do preciosismo das técnicas da alta-costura. Lincando com a inspiração, itens como túnica, peplum, capa e estola surgem como pontos-chave de silhuetas verticais finalizadas por sandálias flat. De estátuas clássicas e de colunas da arquitetura vieram, por exemplo, casacos estruturados a partir de dobras abaixo da linha dos seios. É nesse mesmo caminho que o plissado se torna detalhe importante nas mangas dos casacos de alfaiataria. A cartela de cores fortalece o branco, com espaço para bege, prata, dourado e preto.

Elegância é palavra de ordem quando se pensa em Giorgio Armani. Na Armani Privé, sua linha de alta-costura, essa é uma característica ainda mais apurada. Nesta coleção o estilista elegeu a rosa vermelha – carnal, sedutora e misteriosa – como inspiração ao lado da conexão entre Ocidente e Oriente, privilegiando a silhueta verticalizada. A cor pontua os looks, do batom e esmalte ao vestido de noiva, fechando o show. Flores também. Elas vieram bordadas, como broches ou dando forma a uma capa. Calças sequinhas foram arrematadas por jaquetas e blazers, decotes geométricos destacaram vestidos que se abrem em um pouco mais de volume na sequência final.

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Fotos: Divulgação/Dior e Giorgio Armani

A diretora criativa Virginie Viard celebra clássicos da Chanel nesta coleção homenageando a elegância parisiense e brincando com contrastes e equilíbrio, força e delicadeza: tweed X chiffons, rendas X organzas, motivos florais X gráficos, masculino X feminino. “Brincar com opostos, com indiferença e elegância é como estar na linha entre a força e a delicadeza, que, na Chanel, é o que chamamos de fascínio”, explica Virginie. Nos looks, esses contrastes aparecem, por exemplo, em um top delicado usado com calça de tweed, vestido inteiramente bordado sob um véu diáfano, uma saia balão de renda craquelada usada com regata. Outro ponto importante é a natureza morta francesa do século 17, que deu o tom ao convite e podia ser vista em uma típica banca de livros instalada no local do desfile, em Port de la Conférence, especialmente para a apresentação: ambos antecipando bordados de flores e frutas e, inclusive, as cestas de vime com flores – bem ao estilo 1970 – que arremataram alguns looks.

Na ala da exuberância, a Schiaparelli fez conexão artsy. Intitulada ... And the Artists, a coleção trouxe uma galeria de artistas de épocas diferentes inspirando looks, detalhes e joias. Do universo do escultor Jack Whitten veio o mosaico de pedaços de espelho de um conjunto, o tom de azul é claramente Yves Klein. Uma peça volumosa branca faz referência às paredes do estúdio londrino de Lucian Freud e acessórios como broches e braceletes conversam com as obras de Claude Lalanne. Referências a Salvador Dalí costuram tudo. Do universo da lingerie, o diretor criativo Daniel Roseberry pinçou o espartilho, que reina em uma série de looks sexy-chic. Mais uma vez as joias são maximalistas e não somente finalizam as roupas como interagem diretamente com várias delas, como o fecho de um casaco em formato de orelhas, os broches de flores que substituem botões em um top e as mãos de madeira que arrematam um casaco cocoon.

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Fotos: Divulgação/Chanel e Schiaparelli

Criada em 1937, a Balenciaga ficou famosa pelo trabalho primoroso com volumes, exercício que o atual diretor criativo, Demna Gvasalia, dá conotação dramática. Difícil pensar em um desfile da grife, que se recupera de dias turbulentos, sem surpresas no desenho e na modelagem das peças, principalmente na couture. Nesse sentido, o desfile até que foi aberto sob uma atmosfera clássica, com um longo de veludo preto adornado por colar de pérolas e luvas brancas. Experimentação maior veio com a sequência de vestidos da segunda metade do desfile. O modelo estruturado em renda vermelha era como uma escultura, contrastando com a fluidez de dois vestidos em fitas. Fechando, uma noiva tecnológica em tecido feito com resina cromada impressa em 3D e aparência de armadura.

Já na Jean Paul Gaultier foi a ideia de personagens que envelopou o desfile assinado por Julien Dossena, intitulado Jean Paul, Julien, Paco e os outros. Diretor criativo da Paco Rabanne desde 2013, Dossena mergulhou no arquivo da marca e escolheu começar pela coleção Chic Rabbis, inverno 1993. Ao longo de 31 looks, trabalhou detalhes que marcaram a trajetória de Gaultier, como o sutiã cone, a blusa de marinheiro e o corset acetinado. E nos tecidos metalizados, por exemplo, foi possível ver traços também do seu trabalho na Paco Rabanne.

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Fotos: Divulgação/Balenciaga e Jean Paul Gaultier

Motivo de comemoração também na Viktor and Rolf. Fundada pelos holandeses Viktor Horsting e Rolf Snoeren, comemora 30 anos de trajetória com DNA de ousadia que se entrelaça com o surrealismo em looks que fogem do convencional. Intitulada Embodiment, a coleção desenvolvida a partir de maiôs e biquínis – exceção foram dois smokings semelhantes aos usados pelos designers – passou a limpo momentos que marcaram a tra- jetória da marca, como deslocamentos de partes da peça ou a peça inteira, laços, esculturas de palavras e irreverência.

Dolce & Gabbana, que não faz parte da alta-costura parisiense, mostrou sua coleção de alta moda no centro histórico de Alberobello, que é Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1996, com a missão de falar de beleza através dos cinco sentidos. “É aqui que começa o nosso processo criativo”, explicam Domenico Dolce e Stefano Gabbana. Renda, tule, chiffon e organza aparecem nas silhuetas que transitam entre fluidas e estruturadas, lembrando os trulli – casas com telhados de pedra no formato de cone da pequena cidade italiana – em saias e chapéus. Os designers mais uma vez trabalharam estruturas de espartilho em técnica de cestaria. Menos rebuscada que coleções passadas, a atual chama a atenção para o fazer à mão.

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