Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
Alta-costura: uma homenagem ao talento humano
Ode ao belo! A alta-costura é templo do que há de mais precioso no território da costura, sendo considerada uma celebração ao que o talento humano é capaz de criar!
Desde que foi criada, no fim do século 19, a alta-costura é templo do que há de mais precioso no território da costura, tendo como ponto alto o talento de artesãos e criativos. Está aqui toda a magia, do tecido às joias, tudo é feito à mão. A homenagem ao talento humano para criar roupas que podem ser consideradas obras de arte esteve no radar das marcas na última temporada inverno 2022/23, em um movimento de fortalecimento de savoir-faire que já podia ser sentido na temporada anterior. Junto a isso veio a atenção à beleza polida e que busca nos acessórios um complemento divertido ou futurista. Mesmo experimentações ganharam essa roupagem, caracterizando um movimento que tem a ver com o momento de retomada após dois anos de profundas incertezas impostas pela covid-19. Guerra, economia fragilizada e mesmo doenças ainda deixam um rastro de preocupação, mas a sensação de que para tudo isso há solução traz alívio e não ofusca o desejo de celebrar. Atenta, a moda capta essa energia e a transforma em processo criativo, na couture, elevado ao luxo máximo.
Chanel
Moda: Talvez Gabrielle Chanel, sempre à frente do seu tempo, já estivesse mirando um purismo que abraçava o corpo suavemente quando deu os primeiros passos profissionais. Karl Lagerfeld veio logo depois, assumindo linhas marcantes. A atual diretora criativa, Virginie Viard dá sequência a esse legado. “Gosto de quebrar a abordagem gráfica com um visual natural. As roupas permanecem leves, femininas, projetadas para serem usadas”, diz. De maneira inspiradora, é sequência do desfile anterior, verão 2022, com tempero extra de experimentação, que ela traduz em vestidos longos como os que Mademoiselle Chanel imaginou na década de 1930: ajustados ao corpo, embora tenham ombros fortes; e plissados como no vestido de noiva. Entre os materiais preciosos, renda incrustada, retrabalhada, repintada; tweed tecido manualmente.
Alta joalheria: Para arrematar, colares da coleção de aniversário de alta joalheria 1932 – referência ao ano da primeira e única coleção Bijoux de Diamants.
Beleza: Aqui, visual bem discreto. Nos olhos emoldurados, um esfumado sutil na pálpebra inferior, máscara para cílios para alongar ao máximo os fios e nada mais. Os lábios receberam um frescor sutil de um balm com leve brilho, algo que apareceu em outras passarelas. Já os cabelos tinham ondas esparsas com fios polidos, livres de frizz.
Armani Privé
Moda: A Armani Privé reúne, em suas coleções, estéticas, detalhes e tecidos que se conectam com a visão pessoal de Giorgio Armani sobre elegância e distinção. No desfile da alta-costura, em Paris, o estilista focou em um inverno ameno e precioso, opondo formas fluidas e estruturadas, leve e pesado. As formas seguem essa mesma equação, oscilando entre silhuetas próximas ao corpo e volumes vindos de babados, plissados e, muitas vezes, usando a delicadeza do tecido como recurso para obter saias amplas. O resultado é uma atemporalidade que é recorrente na couture; porém, para o estilista italiano, é regra inclusive no seu prêt-à-porter.
Beleza: A aposta foi em uma maquiagem sensual e com acabamento acetinado, uma das poucas apresentadas durante a temporada de alta-costura que esfumou os olhos e enriqueceu as pálpebras com pedrarias. “Um punhado de brocados pretos adicionados à languidez sensual da garota completamente moderna”, diz Linda Cantello, maquiadora internacional de Giorgio Armani.
Jean Paul Gaultier
Moda: O terceiro convidado de Jean Paul Gaultier foi o estilista Olivier Rousteing, da Balmain, que trabalhou códigos afetivos que estavam em sua memória: a icônica fragrância Le Male de Gaultier na embalagem de lata, que pertenceu ao seu pai; Madonna vestida em um conjunto com seios à mostra no gala amfAR de 1992; a percepção de liberdade de expressão que aparece desde sempre em looks não binários. Tudo isso veio junto com a expertise dos ateliês: o belo trabalho com fitas, tressês e zíperes, plissados esculturais, a incrível risca de giz que na verdade é uma ilusão criada com inserções de crepe branco – o processo levou 600 horas. Há, ainda, o corpete encomendado ao especialista responsável pelos vitrais da catedral Notre Dame.
Beleza: A alta-costura maximizou nesta temporada algo que já estava sendo explorado no prêt-à-porter e no street style: óculos, piercings, ear cuffs e acessórios para a cabeça compondo a beleza. Em Gaultier isso ficou bem aparente nas modelos com inúmeras joias no nariz e nas orelhas e, ainda, com Kim Kardashian seguindo o mesmo estilo na fila A.
Fendi
Moda: Desde que assumiu a direção criativa da Fendi, Kim Jones tem olhado para a riqueza cultural e arquitetônica de Roma. Nesta coleção, seu olhar se tornou macro, juntando fragmentos de várias cidades, começando por Kyoto, a capital cultural do Japão, onde foram garimpados retalhos de quimonos do século 18. A partir deles, novos tecidos foram desenvolvidos. Kata Yuzen, uma estampa feita à mão e que permanece inalterada há séculos, também foi agregada à coleção. Nesse passeio por lugares diferentes, entra a França do início do século 20 e a ornamentação art déco se une a uma abordagem mais italiana na alfaiataria soft impecável com forro em tecido tradicional japonês. Ao longo de toda a coleção, Jones traça paralelos entre Oriente e Ocidente, masculino e feminino, natural e feito pelo homem, tradição e modernidade.
Alta Joalheria: Para arrematar entraram em cena a alta joalheria de Delfina Delettrez, diretora artística de joalheria. Brincos, fivelas e anéis em efeito cascata deram movimento e sofisticação, com destaque para o conjunto Flavus – colar, brincos e um anel cocktail – em diamantes amarelos e brancos e efeito cascata com diamantes dispostos em pavês e baguettes.
Beleza: O “efeito polido” foi a grande tendência de couture nesta temporada. E Fendi uniu alguns dos elementos para conquistá-la durante a apresentação: muito iluminador com partículas discretas de brilho (ou com efeito molhado), cabelos retos e poucas intervenções de cor. Fechando a composição, glitter prateado para realçar.
Balenciaga
Moda: O talento de Cristóbal Balenciaga sempre esteve acima de questionamentos. Era considerado “o” mestre da alta-costura, dono de um talento que era respeitado por grandes como Christian Dior. Um de seus trunfos? As experimentações com volumes que tiraram o guarda-roupa feminino da zona de conforto, revolucionando o conceito de moda e de silhueta. É sobre esse universo extremamente rico e disruptivo que Demna, atual diretor criativo da Balenciaga, tem se debruçado com sucesso. Seu segundo desfile na alta-costura foi um belo mergulho nesse passado, culminando com o imenso vestido de noiva. O show começou com a ótima sequência de alfaiataria em full black, avançou para casacos e trench coats para chegar a vestidos de noite ricos em assimetrias e exercícios de modelagem, exibidos nos corpos de uma lista extensa de personalidades, de Nicole Kidman a Kim Kardashian, de Dualipa a Naomi.
Beleza: O começo da apresentação da Balenciaga foi desanimador para as apaixonadas por beleza, já que todos os modelos caminhavam pela passarela com o rosto coberto. Mas quando as personalidades entraram em cena, no ponto final da apresentação, a maquiagem surgiu ostentando o que grandes estrelas adoram usar nos red carpets: pontos altos do rosto iluminados, sleek hair e um longo delineado gatinho preto.
Christian Dior
Moda: Nesta coleção, a direção criativa Maria Grazia Chiuri olha para a debilitada Ucrânia, ainda sob ataque russo, e pinça o talento da artista Olesia Trofymenko, dona de um trabalho inspirador a partir da imagem da árvore da vida que, simbolicamente, conecta todas as formas de criação, o céu e a terra por meio de seus galhos e raízes. São dela os painéis cenográficos The Flow. Maria Grazia também abre o debate sobre o que pode ser considerado folclore que, além de lendas, significa ciência das tradições e manifestações artísticas. Tudo junto traz para a coleção a valorização de duas preciosidades, a vida e o talento para criar coisas extraordinárias, poderosas e frágeis ao mesmo tempo. Na coleção, referências à árvore da vida surgem em bordados em fios de algodão e fios de seda sobre algodão, crepe de lã, seda e caxemira tecidos à mão. As silhuetas remetem a de séculos passados, que ressaltam a feminilidade em modelagens que abrem espaço para a riqueza têxtil.
Beleza: Peter Philips, diretor criativo e de imagem de Dior Makeup, resolveu apostar no glow: “Criei um look em que predomina pele leve e pura. Tons de nude se misturaram sutilmente, trazendo um brilho natural”, explica. No cabelo, tranças desde a raiz para integrar composições presas em algumas modelos.
Valentino
Moda: A escadaria da icônica Piazza di Spagna, em Roma, foi a locação escolhida pelo diretor criativo Pierpaolo Piccioli para a apresentação da couture da Valentino, que não integrou o calendário da alta-costura parisiense. A escolha da locação tem motivo: o primeiro ateliê da marca fundada em 1959 ficava justamente próximo à escadaria. O desfile começou exatamente onde a Sartoria di Alta Moda original estava localizada, fazendo com que as modelos descessem os 136 degraus até o Palazzo Mignanelli. Intitulada The Beginning, a coleção tanto aborda os eternos recomeços dos processos da costura quanto uma reflexão do estilista sobre seus 23 anos na marca. Mais uma vez, o diretor criativo reafirmou o papel da moda como reflexo de seu tempo e, também, sua influência sobre questões sociais, como diversidade e defesa dos direitos humanos.
Beleza: Enquanto os millennials querem sobrancelhas grossas e naturais e a geração Z se encanta com as mais finas, na passarela da Valentino elas apareceram descoloridas. Quando essa característica surge em uma beleza monocromática, como foi o caso, passa a ser o ponto central da composição e acrescenta um quê futurista.
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