Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Conversamos com André Duarte, consultor em lavanderia jeanswear, sobre as novidades que as empresas da Turquia lançaram para encurtarem processos e entregarem melhor produtividade para a indústria de confecções e lavanderias do jeans. Você também pode conferir este episódio do Denimcast em nosso canal de YouTube (Guia Jeanswear).

Iolanda Wutzl: Estamos de volta com o Denimcast para retomar nossa conversa com o querido André Duarte, um amigo de longa data no universo do denim. Hoje, vamos discutir temas importantes e interessantes para aqueles que estão por dentro das novidades. O André acaba de voltar da Turquia, trazendo muitas novidades para a indústria têxtil do denim.

André Duarte: Na verdade, essa viagem teve um caráter técnico. Nosso foco principal foi a produção. Conversamos com um cliente de grande porte, que é muito voltado para a tecnologia e está buscando novas frentes de atuação. Para isso, nada melhor do que um benchmarking com empresas que já estão consolidadas nesse setor. Fomos observar, na prática, como a produção acontece em larga escala.

Visitamos três grandes empresas, incluindo a Erak, que fabrica para várias marcas europeias e internacionais, com uma produção de 70 mil peças de denim por dia. Precisamos começar a atentar para uma realidade que pode ser aplicada também aqui no Brasil: um produto elaborado não precisa significar uma produção morosa, complicada ou difícil. O que é essencial é encontrar o equilíbrio perfeito, e é aí que a tecnologia desempenha um papel crucial, ajudando a produzir melhor, atendendo a todos os aspectos e exigências modais, com uma velocidade muitas vezes maior, pois o tempo é muito valioso.

IW: Você poderia nos contar sobre alguma máquina específica? Descreva, se possível, algo que nos ajude a visualizar melhor o que você viu por lá.

AD: Consigo, claro. Existem algumas questões que precisamos analisar melhor no Brasil. Por exemplo, quando eu digo que tenho um carro, estamos falando de um veículo de quatro rodas que transporta de um lugar para outro. No entanto, ele pode ser um carro antigo e simples ou um Tesla moderno e sofisticado. Essas características determinam diferentes resultados.

Hoje, gostaria de me concentrar no uso do ozônio. Durante a viagem, observei algo que temos acompanhado de perto na VAV, pois somos altamente focados em tecnologia de ozonização. Percebi o quanto o ozônio se tornou um grande aliado do denim. Antigamente, enfrentávamos dificuldades com esse processo, como o acinzentamento excessivo do tecido, o que resultava na perda de certas características que podíamos controlar na lavagem convencional. Hoje, isso mudou, e conseguimos manter essas características.

Muitas pessoas confundem e acham que o ozônio elimina o uso de produtos químicos. Na verdade, Iolanda, isso precisa ser bem categorizado. O ozônio não elimina nada; ele otimiza. O que acontece é que os processos e procedimentos evoluíram juntamente com a tecnologia. A indústria química tem mostrado uma evolução notável, apresentando produtos com desempenho superior, maior sustentabilidade e cuidado com o meio ambiente, que é nossa maior preocupação. Além disso, há uma significativa economia de água.

IW: Produtos químicos que você vai usar bem menos do que os tradicionais. Os que realmente são, vamos dizer, os vilões do meio ambiente.

AD: Exatamente. Esse é um aspecto muito mal compreendido. Quando falamos em evitar certos químicos, estamos nos referindo àqueles que são prejudiciais e não atendem a determinadas normas e exigências. Hoje, temos empresas no Brasil e multinacionais atuando no nosso mercado com produtos totalmente controlados e rastreáveis. Não basta apenas afirmar, é preciso provar. Esses produtos rastreáveis, combinados com a tecnologia, trazem benefícios visuais incomparáveis.

IW: Isso é verdade. Temos a Coratex, nossa parceira, uma empresa brasileira que vem trabalhando seriamente desde o início, lutando cada vez mais pela sustentabilidade e agora se uniu a outras marcas internacionais.

AD: Eu já visitei a Coratex algumas vezes e vi a seriedade com que eles trabalham nesse aspecto. Uma coisa que gosto de destacar, Iolanda, é que hoje em dia ser sustentável se tornou um tema comercial. Porém, existem empresas, como a Coratex, que já se preocupavam com sustentabilidade muito antes desse viés comercial. Não tenho nenhum patrocínio ou ligação com a Coratex ou qualquer outra empresa que possamos mencionar, mas são empresas que sempre levaram a sério o que representam.

Também percebo, Iolanda, outro lado dessa questão, que são os usuários desses produtos químicos. Muitos ainda não entendem que essa é a parte mais barata da composição de preços. Não sei se você sabe, mas há muita negociação em torno da tecnologia química.

IW: Explica isso.

AD: Vou explicar de uma forma simples. Os três maiores custos em nosso processo são: perda de tempo, reprocesso e indenização. Esses são os aspectos que tornam nosso negócio complicado e caro. Outra questão que mencionaria é que o Brasil está atrasado em termos de tecnologia. Se você comparar com outros países e empresas do mesmo setor, perceberá que estamos bastante atrás.

Hoje, para algumas empresas, investir é muito oneroso. Para outras, que já vêm investindo há muito tempo, o peso é menor. “André, prove o que você está dizendo”. Os private labels. Empresas de private label já convivem com tecnologia e têm melhor gestão das operações, processos e procedimentos em todo o setor. Eles gerenciam corte, costura, lavanderia e acabamento. As lavanderias, por outro lado, ficaram reféns da falta de gestão. Me perdoe a franqueza, mas eu falo isso como alguém que trabalha na área de lavanderia.

IW: Vemos que os poucos que realmente se preocuparam com isso estão firmes no mercado, administrando da melhor forma. O mercado tem suas peculiaridades, dificuldades e adversidades, mas está sob controle.

AD: Hoje, no Brasil, enfrentamos um grande perigo: a politização. Eu não vendo politização, vendo moda, produto, custo e encantamento. Veja, você está de jeans, eu estou de jeans. O vestuário pode enfrentar desafios, mas jamais será extinto. Estamos, de certa forma, muito protegidos, assim como os alimentos, pois nunca deixaremos de nos alimentar. Algumas empresas se perderam nesse pessimismo, nesse momento difícil, e deixaram de olhar para o óbvio.

As empresas sempre precisaram criar produtos e serviços. É muito urgente, e eu senti isso de perto na minha visita a Pernambuco, que embora esteja difícil para todos, aquelas que estão focadas em atender melhor o cliente, criar novas ferramentas de venda, buscar novidades e fazer boas alianças dentro da cadeia têxtil (como combinar um bom tecido com uma lavanderia de qualidade), estão sofrendo menos. Isso é muito perceptível.

IW: Isso é verdade. É muito perceptível. Aqueles que estão melhor preparados estão sofrendo menos. Todos estamos enfrentando dificuldades, e o mercado está cheio de incertezas, mas existe essa diferença.

Em relação às private labels, nem tanto. A maioria dessas empresas já é grande e começou com uma estrutura mais sólida.

AD: É o que eu digo sobre gestão. Elas são estruturadas porque têm uma boa gestão, com princípio, meio e fim.

IW: Sim, enquanto isso, percebemos nitidamente que a tecnologia avança rapidamente. A confecção ainda está distante dessa evolução. Muitas pessoas e colaboradores estão envolvidos nesse processo. Aqui, estou me referindo a essa realidade.

AD: Temos um PUP com 21 pessoas. No Brasil, geralmente, são 21 pessoas. Eu visitei várias plantas que têm entre 6 e 7 colaboradores.

IW: E me explica como que isso funciona.

AD: São máquinas com operações interligadas. Outra situação envolve máquinas com duplicidade de operação, como a fechadeira de bolso, que fecha, traveteia e realiza o filigrano.

IW: Há uma frase comum que todos mencionam quando se fala sobre o investimento em tecnologia: “O investimento vai se pagar por si só.” Vamos explorar essa ideia com mais profundidade. Pense na realidade de ter 21 funcionários. Isso significa que você precisa arcar com férias para 21 pessoas, além do 13º salário para cada um deles. Vamos fazer algumas contas para entender melhor essa situação, pessoal.

ADPosso falar rapidamente sobre outro equipamento? Lembra do Sorter 15? É aquela máquina que separa itens por referência, tamanho e cor, fazendo isso automaticamente. Com um equipamento de 15 câmaras, consigo realizar até 30 mil separações em um dia, utilizando apenas duas funcionárias. Para fazer o mesmo trabalho, seriam necessárias 15 pessoas por turno.

Outro ponto que costumo ouvir é: “André, isso está prejudicando os empregos.” Na verdade, é o oposto. Estamos realocando operações e otimizando as equipes. Se olharmos para a indústria automotiva, veremos que não há setor mais tecnológico, e que também é um dos que mais emprega. A chegada da tecnologia nas empresas do setor automotivo, na verdade, resultou em um aumento exponencial do emprego. A tecnologia serve para realocar e dinamizar diferentes operações.

Por exemplo, temos o robô de Used, e muitas pessoas costumam comparar a eficiência do robô com a de uma equipe humana. No entanto, o objetivo não é substituir a equipe, mas sim melhorar a eficiência de um setor que é insalubre, complicado, difícil e caro, além de ter uma alta margem de erro. No nosso caso, a margem de erro é de apenas 3%. Podemos observar que as tarefas realizadas nesse setor são mecânicas e repetitivas, e é quase impossível que um trabalhador consiga mantê-las com a mesma precisão durante 8 horas, especialmente ao lidar com produtos insalubres como o permanganato.

Para colocar em perspectiva, o permanganato não é problemático em si, pois o Césio 137 das máquinas de raio-x é muito mais perigoso. O verdadeiro problema é a exposição humana a substâncias como o permanganato, e já temos soluções para isso. Além disso, o payback para um equipamento desse tipo é de apenas 2 anos.

IW: Ou seja, de você pagá-lo.

AD: Sim, você pode inserir o equipamento e, em 2 anos, recuperar seu investimento. No entanto, Iolanda, esse retorno não deve ser analisado de forma simplista. Por exemplo, ao adquirir um equipamento a laser, você está não apenas implementando uma tecnologia moderna, mas também substituindo processos artesanais por automação. Isso poderá eliminar diversos setores que trabalham de forma manual.

Vamos fazer um cálculo simples. Suponha que você compre um equipamento que custe entre 1 milhão e 1 milhão e 100 mil reais, dando uma entrada de cerca de 30%. Com isso, você terá uma prestação mensal de aproximadamente 35 a 40 mil reais, dependendo da negociação com o banco. Este equipamento pode produzir entre 60 e 70 mil peças por mês.

Embora a produção possa ser um pouco menor dependendo da complexidade do processo, a rentabilidade gerada por esse novo equipamento será significativa, pois o faturamento que ele traz superará o valor da prestação. Ou seja, além de arcar com a parcela do financiamento, você estará gerando um faturamento extra que não existia antes. Esse novo equipamento não só otimiza seus custos, mas também amortece várias outras despesas que antes eram elevadas. Muitas vezes, essa questão não é considerada; as pessoas veem isso apenas como um gasto.

IW: E te livra dos defeitos, dos problemas.

AD: Claro, a primeira peça é igual à última. Outra coisa é o controle absoluto do tempo de processo, pois ele é digital e não manual. Se você vende no atacado, que é a maioria dos casos, a primeira peça tem a mesma qualidade da última. Isso elimina variações e traz uma nova perspectiva para o nosso setor. A tecnologia está em absolutamente tudo. Por que resistimos tanto ao beneficiamento no Brasil?

IW: Esse efeito manada, esse mar sangrento de quantidade e preço ainda prevalece. Porém, independentemente da crise, o comportamento do consumidor mudou. As condições climáticas exigem que o denim seja mais leve e natural. O consumo desenfreado mudou e está sendo substituído por outras prioridades. Temos que entender nosso público e buscar fidelização, talvez com uma produção menor e um valor agregado maior.

AD: Mais velocidade. Você sabe quanto custa uma peça piloto?

IW: Cerca de 500 reais.

AD: Para produções médias, sim. Algumas dizem que custa 100 reais, mas não é verdade. Quando se divide o custo total pelo número de peças produzidas, é muito caro. Além disso, as peças pilotos não aprovadas são descartadas, gerando lixo têxtil. Hoje, temos várias opções de prototipagem digital no Brasil.

Criamos protótipos digitais usando ferramentas como o Maya. Mesmo sem confecção, com o Maya, é possível desenvolver todo o processo de lavanderia, até a aplicação de aviamentos. Com tecidos reais, importados digitalmente, podemos simular efeitos como esmaecimento, clareamento, escurecimento, laser, entre outros, em minutos.

IW: Se você tem uma modelagem que já funciona, use-a com o mesmo tecido, pois você já conhece seu comportamento e encolhimento. Transforme-o através de aviamentos e efeitos.

AD: Moda é ciência. Ela tem um objeto de estudo, um enunciado e um resultado. Analisando a moda ao longo do tempo, é possível prever tendências. A tecnologia têxtil está presente nos fios e fibras, criando tecidos tecnológicos para diferentes situações, como no esporte, onde temos tecidos altamente favoráveis aos usuários. Respeitar o profissional de moda é essencial.

O Egito, por exemplo, está investindo agressivamente em tecnologia têxtil e se tornará um centro produtor de denim, bem localizado na Ásia. Minha sugestão é conhecer, investigar e pesquisar sobre tecnologia. Gestores às vezes fazem bons negócios financeiros, mas erram na escolha do equipamento, pois são técnicos na administração, mas pouco operacionais. Nunca operaram um laser ou um ozônio, por exemplo.

IW: Você acha que isso é culpa das empresas que vendem e não dão suporte?

AD: Vejo que é mais uma questão de venda. Na venda, tudo parece perfeito. Mas é preciso entender a necessidade do negócio. Nem todo equipamento serve para todos. Por exemplo, o ozônio tem várias versões. A tecnologia mais atual facilita a vida, e precisamos estar atentos às inovações.

IW: E quanto ao impacto ambiental dessas tecnologias? Qual é a vantagem?

AD: No Brasil, fala-se muito de sustentabilidade e pouco de rastreabilidade. Sem rastreabilidade, não podemos falar de sustentabilidade. O algodão brasileiro, por exemplo, está muito bem controlado em termos de sustentabilidade.

Outro dia, uma estilista falou sobre corante natural. É interessante em termos de reaproveitamento, mas custa caro. O problema não é ser sintético ou natural, mas sim ter controle, ser biodegradável e sustentável. O corante sintético permite produção em grande escala sem necessidade de grandes áreas cultiváveis.

IW: Na lavanderia, o corante natural consome mais água e não tem a mesma solidez. É como usar sal em casa para fixar a cor.

AD: E não oferece a mesma variedade de cores. Não sou contra o corante natural, mas a favor do que podemos controlar.

A busca desenfreada pela lucratividade muitas vezes esbarra na ética. Alguns empresários fazem qualquer negócio para alcançar objetivos, prejudicando o planeta. Não é papo de Greenpeace, mas o planeta leva séculos para se recuperar de certos danos. É preciso conhecer bem a cadeia produtiva e fornecedores.

Um exemplo é François Girbaud, criador do Stone Washed. Ele não sabia do impacto na época, mas hoje sua consciência mudou. Nossa geração tem a responsabilidade de corrigir. Tecnologias como ozônio e laser economizam água e reduzem poluição.

IW: Sobre o ozônio, qual é a diferença dessa tecnologia hoje?

AD: O ozônio que emitimos degrada a camada de ozônio. Equipamentos de ozônio devem destruir o ozônio produzido após o uso. No Brasil, usamos o ozônio para tirar manchas, mas muitas vezes sem destruir o ozônio depois, o que causa poluição e envelhecimento celular.

IW: Considerações finais?

AD: Venda bens de luxo e reinvista na sua empresa. A tecnologia é uma aliada que traz resultados financeiros e operacionais positivos. Planeje, projete e invista. A tecnologia valoriza e dá retorno.

IW: Convido todos a visitar a Denim City e conhecer essas tecnologias de perto. Faça testes e veja a precisão de equipamentos como o robô que faz o used e o laser.

Fonte: Ana Gimonski | Foto: Divulgação

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