Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Ao celebrar 30 anos de carreira, a estilista Lenny Niemeyer recorda momentos de sua trajetória que se confundem com a história do biquíni no Brasil

Lenny Niemeyer montou sua primeira fábrica de biquíni no Rio

A História do biquíni no Brasil deve bastante à carreira da paulista Lenny Niemeyer. Aos 57 anos, a estilista é considerada um dos maiores nomes do beachwear de luxo. Em 2011, sua marca completa duas décadas. Natural de Santos, Lenny mudou-se para o Rio de Janeiro, quando se casou nos anos 1980 com seu ex-marido, o neurocirurgião Paulinho Niemeyer, sobrinho do arquiteto Oscar Niemeyer. Por sugestão de uma amiga, ela começou a vender biquínis cariocas em São Paulo em troca de comissão. Foi o primeiro passo para montar sua própria fábrica na garagem de sua casa.



Ao buscar moldes mais sofisticados de biquínis, Lenny decidiu inventar peças originais, como o biquíni de argola de osso. Com o sucesso da marca, ela passou a exportar para países, que vão da América Latina ao Oriente Médio. Além da repercussão no mundo fashion, a estilista é conhecida por organizar as melhores festas da alta sociedade carioca, em seu prédio de três andares na Lagoa Rodrigo de Freitas. Celebridades como o cantor Lenny Kravitz e o jogador Ronaldo Fenômeno já foram vistos em algumas destas festas. Em entrevista ao O POVO por e-mail, Lenny Niemeyer relembra os principais momentos de sua trajetória. (Camila Vieira)


O POVO – Sua marca tem relação direta com a evolução do biquíni no Brasil. Como a senhora analisa esta relação de sua grife com a reinvenção da peça?
Lenny Niemeyer - Quando comecei não existiam lojas especializadas em moda praia. Biquínis eram acessórios das marcas de roupas. Minha proposta então foi pensar na moda praia e pós-praia para atender uma carência de mercado, nas quais as paulistas não eram tão criativas quanto as cariocas.

OP - De onde surgiu seu gosto pela moda, especialmente pela moda praia?
Lenny - Surgiu por acaso, apesar de ter nascido em Santos, na beira da praia. Entrei na moda para ocupar meu tempo, pois havia casado e me mudado para uma cidade onde não conhecia nada nem ninguém, final dos anos 70. Sempre gostei de moda como consumidora e, antes disso tudo, quando saí de Santos e fui para São Paulo fazer arquitetura e paisagismo.

OP - Seu sonho inicial era ser desenhista ou pintora. Que relações poderiam ser estabelecidas entre o campo da arte e o da moda?
Lenny - Toda minha formação me deu base para o desenvolvimento de cor, proporção e modelagem.


OP - Seu primeiro biquíni incorporou uma argola de tutano de boi. Como surgiu esta ideia?

Lenny - Quando comecei não tinham aviamentos. Moda praia realmente estava no segundo plano da moda. Minha mãe tinha uma pulseira de marfim e eu queria uma argola que lembrasse esta pulseira, então tive a ideia de ir ao açougue resolver meu caso e, detalhe, sempre amei tutano de boi.


OP - Sua grife nasceu com a aposta em moda praia mais sofisticada, com estampas, modelagens e acessórios que fugiam dos padrões da época. O que era preciso ousar naquele momento para sua marca conseguir sucesso?
Lenny - Nunca entendi o porquê da moda praia não ter destaque e ser vista como um bom negócio. Percebia que estampas e tecidos eram temáticos, havia uma limitação muito grande. Para mudar este quadro inseri em meu trabalho materiais como georgette, seda pura e estampas de noite e outras ocasiões para meus biquínis e maiôs. Nunca deixei de pensar no pós-praia.


OP - Nos anos 1980, sua fábrica sofreu inundação e um ano depois sua nova sede foi assaltada. Como conseguiu lidar com este momento de crise?

Lenny - Nesta época, por um segundo achei que não superaria esta dificuldade, achei inclusive que fosse um sinal para parar, mas como capricorniana teimosa, este episódio tornou-se um desafio. Encarei como aprendizado e trabalhei em dobro.


OP - Na década de 1990, começaram seus principais desfiles. O que a levou ao reconhecimento internacional?
Lenny - Nesta década, os desfiles de moda praia foram um marco para o mercado nacional. Começamos a sair do submundo da moda tendo destaque internacional, fomos reconhecidos além do que imaginávamos ser possível. A notoriedade foi para o lifestyle que a brasileira incorpora muito bem.

OP – Seu método estilismo é particular: em vez de desenhar, modela tudo direto no manequim. O que há de essencial neste método?
Lenny - Saber desenhar me facilitaria, mas em moulagem sinto melhor o conforto que a peça terá quando finalizada e tenho possibilidades de testar caimento antes dela estar finalizada. Não adianta a peça ser linda e não ser confortável.

OP - Existe um episódio interessante, quando um de seus maiôs foi usado pela atriz Nicole Kidman, em sessão de fotos da revista Vanity Fair. Como surgiu o interesse dela por comprar suas peças?
Lenny - Michael Roberts, amigo e ex-editor da Vanity me pediu algumas peças para serem fotografadas num editorial dele com Nicole Kidman. A peça escolhida foi um maiô da minha coleção de arquitetura moderna. As medidas dela foram enviadas para que mandássemos a peça vestindo perfeitamente e isso nos ajudou a acertar. Tenho até hoje guardada a tabela com 150 medidas da Nicole Kidman, até circunferência de dedos (para figurinos dos filmes de Hollywood). A modelagem ficou perfeita e ela se encantou com a peça, despertando assim seu interesse em comprar.

OP - Existem preferências diferentes de biquínis entre as mulheres do Brasil e as da Europa?
Lenny - Cada vez mais as europeias gostam do biquíni brasileiro. Só não abrem mão da calcinha maior no bumbum. Elas querem se sentir brasileiras. Uma curiosidade é que as europeias não se incomodam com transparências. Enquanto em peças brancas aplicamos três camadas de forro para os biquínis nacionais, para exportação basta uma camada.



OP - Cerca de 20% da sua produção é voltada para o mercado internacional. Como o biquíni brasileiro é visto no cenário mundial?
Lenny - Criativo, exuberante, sofisticado e mais do que tudo sensual. Isso se deve ao desejo da mulher ter um pouco do charme da brasileira.

OP – A senhora é também reconhecida pelo talento como anfitriã de festas memoráveis. De todas, qual a festa que mais te marcou?
Lenny - Sem dúvida a minha última festa na qual comemorei os 20 anos da marca onde tive a possibilidade da realização do sonho de ter como cenário a Lagoa Rodrigo de Freitas, com todos os meus amigos reunidos logo após o desfile, que fez parte do Fashion Rio.

OP - Quais são seus próximos projetos?
Lenny - Sempre a nova coleção. Já estou fazendo o inverno. Estamos inaugurando no dia 21 de julho mais uma loja no Rio de janeiro, só que dessa vez em Niterói. Pretendo ampliar também o mercado do Norte e Nordeste, abrindo lojas em Salvador e quem sabe em Fortaleza.

OP - Qual será o futuro do biquíni? Há algo para ser ainda inventado numa peça que já existe há 65 anos?
Lenny - A principal evolução vem sendo em tecidos e tecnologias da execução. Peças sem costura, lycra com protetor solar, corte a laser, drapeados em lycra, texturas diferentes. A criatividade é ilimitada.

Fonte:|http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2011/07/16/noticiavidae...

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