Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Argentina não se mostra muy amiga do Brasil mesmo em área de livre comércio

Quando se entra para um bloco comercial como o Mercosul, por exemplo, o esperado é que haja uma boa comunicação e interação entre os participantes, certo? Sim, mas não é o que vem acontecendo nas relações comerciais entre Brasil e Argentina.

Destino número 1 das exportações brasileiras de têxteis e confeccionados – em 2013, 26% das vendas externas desses produtos foram para lá, somando US$ 329 milhões – e número 2 em calçados e acessórios durante muito tempo, a Argentina vem dando sinais de pouca amizade há quase uma década, o que se intensificou nos últimos anos devido à crise interna do país, que não o deixa produzir e não tem divisas para importar.

 

Foto: Shutterstock

Indústria têxtil é uma das principais empregadoras do Brasil

 

A participação brasileira no mercado argentino, falando especialmente de têxteis e confeccionados, que era de 42% em 2005, caiu para 19,2% em 2013, ou seja, menos da metade do que foi um dia. Na contramão, a participação chinesa, que era de 4% e passou a 27,1% no mesmo período, abocanhou essa fatia sem mesmo ter acordo comercial privilegiado. O que aconteceu, então?

“Num primeiro momento, os argentinos gostavam de falar que a ameaça ao seu país era ‘verde e amarela’; sempre usaram essa referência para nós, brasileiros. E nós sempre dissemos, com muito bom humor, que esse risco nunca foi ‘verde e amarelo’, mas sempre ‘amarelo’, até porque já vimos esse filme antes. No momento em que eles diziam que precisavam proteger o mercado têxtil e de vestuário contra a ameaça ‘verde e amarela’, nós provamos para os dois governos que não éramos uma ameaça. O que houve na Argentina foi uma substituição de importações do Brasil por importações asiáticas, especialmente da China. E isso passou a ser um risco real para eles agora”, afirma Rafael Cervone Netto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

Cervone comenta que a relação comercial entre os dois países está hoje bastante estagnada, mas que há um desejo, de ambas as partes, de retomar o diálogo, visto que os mercados são complementares e, juntos, podem se tornar muito fortes.

“Vimos, recentemente, que há um desejo do Brasil de retomar essas conversas, até mesmo porque hoje se discute a relação do Mercosul com a União Europeia, e esse momento é muito importante. A Argentina, inesperadamente, fez uma oferta de 90% de produtos, o que surpreendeu positivamente o mercado. Isso é bom e, apesar do que se diz por aí – que a Argentina voltou a complicar a relação –, eu acho que não, acho que os dois governos têm voltado a conversar. E até para essa relação com a UE é importante que retomemos nossa conversa. Uma negociação dessas abre um espaço importante, pois a Europa é o maior mercado consumidor do mundo, depois os EUA. É uma oportunidade para o Brasil, a Argentina e o Mercosul ter uma relação como essa. A Argentina tem que enxergar o Brasil como um grande parceiro, até porque eu acho os mercados muito complementares, não há nenhum interesse na indústria têxtil brasileira que a situação da Argentina piore. Talvez a solução para a Argentina passe pelo Brasil”, analisa Cervone.

No setor de calçados brasileiro, outro que sofre com as sanções daquele país, a situação não é muito diferente. Segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçado (Abicalçados), Heitor Klein, em 2013 foram embarcados para a Argentina 8,9 milhões de pares ao valor de US$ 118,8 milhões, volume 13% menor que em 2012. Para este ano, em que o país está em quarto lugar nos destinos de produtos brasileiros, já houve uma queda de 21% em volume no primeiro trimestre, comparado ao mesmo período de 2013. “Ano passado, estimamos a perda de 8 mil postos de trabalho em decorrência da queda no mercado argentino. O momento é de instabilidade para a indústria de calçados brasileira, que agora, além de fatores macroeconômicos, precisa enfrentar a perda acelerada de seu segundo maior mercado internacional. Muitas indústrias de calçados, inclusive, já desistiram de exportar para a Argentina por causa da imprevisibilidade dos negócios. De nossa parte, resta trabalhar junto aos governos por uma solução imediata do impasse e também direcionar os produtos brasileiros a um leque cada vez maior de destinos. Não fosse o calçado brasileiro tão importante e reconhecido internacionalmente – hoje vendemos para mais de 150 países –, a situação seria ainda mais grave”, declara Klein.

Entre os maiores entraves, figura a liberação das DJAIs (Declaração Jurada Antecipada de Importação), assinada em 2012 pelo governo argentino como forma de equilibrar sua balança comercial. Nesse acordo, para cada dólar proveniente de importações, o importador se compromete a investir a mesma quantia no país. Uma liberação que deveria ser automática tem demorado, nos casos mais brandos, três meses, chegando a passar de um ano, como aconteceu com uma grande empresa de linhas e zíperes brasileira. Atualmente, existem mais de US$ 20 milhões parados de exportadores brasileiros aguardando a liberação de DJAIs. Mas, de acordo com a Abit, a perda não contabilizada é muito maior, pois grande parte dos importadores já desistiu de importar devido à burocracia e às arbitrariedades do governo argentino. Artigos de vestuário, denim e cama, mesa e banho, na área de têxteis e confeccionados, são os que mais têm sofrido com isso. “Artigo de moda não é como peça de caminhão, que, depois de um ano, continua a mesma; se perdermos o timing das coleções nas estações certas, não há vendas e o prejuízo é infinitamente maior”, diz Cervone.

Para Heitor Klein, da Abicalçados, esse mecanismo da DJAI é ilegal, pois não consta na regulamentação da Organização Mundial do Comércio (OMC) e tem travado importações de diversos produtos, sendo que o prazo máximo de liberação dado pela organização é de 60 dias. “O estranho é que a mesma demora não existe para outros países, especialmente asiáticos”, rebate Klein.

Renato Jardim, gerente da área internacional da Abit, diz que em 2013 exportamos para a Argentina cerca de US$ 96 milhões em tecidos, US$ 60 milhões em não tecidos, US$ 51 milhões em fios e filamentos, US$ 45 milhões em fios técnicos, US$ 20 milhões em cama, mesa e banho e, em vestuário, apenas US$ 5,3 milhões, sendo que a Argentina importa US$ 310 milhões anuais do mundo, só que, hoje, US$ 142 milhões são da China. De têxteis, a Argentina importa do mundo US$ 1,4 bilhão, sendo US$ 331 milhões da China e US$ 321 do Brasil. “Ou seja: a China já nos ultrapassou, mesmo sem ter um acordo comercial com a Argentina. Nós fomos substituídos, mesmo tendo um acordo 0 a 0 de imposto com a Argentina, e o chinês não. Se tivéssemos a mesma porcentagem na participação comercial que tínhamos em 2005, hoje estaríamos exportando a eles mais de US$ 600 milhões, o dobro do que é hoje”, afirma Jardim.

E o Mercosul?
O fato de o acordo de livre-comércio estabelecido entre os países-membros do Mercosul não estar sendo cumprido, com as sanções argentinas ao Brasil, tem gerado mal-estar entre os dois países.

Segundo dados do Estudio Sur, elaborados para a Abicalçados, no primeiro trimestre deste ano a importação argentina de calçados aumentou 10%, sendo grande parte deles vindos da China, Indonésia, Malásia e Vietnã. “É uma afronta no âmbito do bloco econômico, que coloca a integração em risco”, diz Klein.

No entanto, com a “ameaça amarela” instalada em seu país, a Argentina tem dado sinais de querer voltar a se entender com o Brasil, seu aliado mais forte, e algumas conversas entre ambos já foram iniciadas.

“Aos trancos e barrancos, os acordos comerciais estão sendo cumpridos, mas, obviamente, a Argentina está com problemas de caixa e tenta segurar cada dólar que tem com unhas e dentes. É um problema passageiro”, analisa Roberto Luis Troster, doutor em economia pela USP e conselheiro da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira (Camarbra), de São Paulo.

Para Alberto Alzueta, presidente da Camarbra, não só o Mercosul, mas principalmente a relação entre o Brasil e a Argentina não somente vale a pena como é fundamental. “A complementariedade de nossas economias e de nossas riquezas naturais e a sinergia que pode ser obtida aprofundando e fortalecendo a relação permitirão um salto de qualidade que isoladamente seria impossível”, diz.

Sobre a revisão dos acordos do Mercosul, as associações são unânimes em dizer que precisa ser feita, para que sejam alinhados os interesses de todos. Inclusive estuda-se deixar o dólar de fora das operações comerciais entre Brasil e Argentina, fazendo o câmbio entre suas duas moedas oficiais. Dessa forma, para o país vizinho, não configuraria evasão de divisas, o que poderia facilitar a reconciliação.

Mas, para o economista Roberto Troster, essa revisão deve ficar para 2016, após as eleições presidenciais no Brasil este ano e na Argentina, no próximo.

Rafael Cervone acredita não haver melhor momento, tanto para o Brasil quanto para a Argentina, de retomar a sério essa relação com o Mercosul, gerando renda e empregos aos dois lados. “Os países são irmãos, vizinhos, e têm tudo para dar certo. A solução está na mão, que é usar o potencial produtivo e de consumo de cada um, o que não estamos fazendo da forma que poderíamos. Precisamos crescer juntos e não brigar um contra o outro”, finaliza.

Principais produtos exportados pelo Brasil para a Argentina em 2013:

- Tecidos: US$ 95,7 milhões

- Pastas, feltros, não tecidos: US$ 59,7 milhões

- Fios e Filamentos: US$ 50,7 milhões

- Tecidos Técnicos: US$ 44,3 milhões

- Cama, mesa e banho: US$ 18,4 milhões

Fonte: AliceWeb / MDIC

http://portogente.com.br/noticias-do-dia/argentina-nao-se-mostra-mu...

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Respostas a este tópico

Há um ingrediente nessa receita que não vi destacado em nenhum momento : preços !

É possível acreditar que os argentinos estejam comprando mais da China e menos do Brasil só por conta da ameça "verde e amarela" ?  Vamos transpor a rivalidade esportiva em tempos de Copa, ou avaliar a verdadeira razão de perdermos negócios para um concorrente, que mais do que isso, está vestindo os moradores dessa nossa pátria verde e amarela ?  Será porque não conseguimos deixar de onerar nossos produtos com impostos, custos desproporcionais de logística e outros bastante conhecidos ?  O problema não está nos outros como quer insistir e nos ensinar o nosso governo......está aqui mesmo. Não temos condições (como muitos outros países, diga-se) de competir com o principal atributo de produtos de grande consumo que vêm da Ásia : preço baixo .

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