Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Marcas de luxo invadiram as redes de varejo e atraíram uma nova categoria de consumidora. Ela quer peças de marca – a qualquer custo

Um grupo de mulheres ansiosas aguardava a liberação das compras no interior de uma loja do shopping Iguatemi, em São Paulo. Eram 21 horas de uma quarta-feira. O local, preparado para a festa de lançamento da nova coleção, parecia um grid de largada. Quando retiraram a cerca que isolava parte da loja, a corrida se revelou um vale-tudo sem regras. Cotoveladas e empurrões foram desferidos e manequins foram derrubados no chão. As mulheres driblavam os obstáculos para alcançar as araras. Na confusão, uma delas gritou para a filha pegar todas as jaquetas, sem olhar o tamanho. Quem saía com cabides na mão seguia para o provador, com ar de vitória.“Fiquei em choque. Só consegui alcançar uma arara quando as peças foram repostas”, diz Vanessa Moya, representante do blog de moda Hoje Eu Vou Assim Off no lançamento da coleção Mixed. O campo de batalha de mulheres armadas de bolsas Hermès não era território da Mixed, grife paulista em que calças passam fácil dos R$ 1.000. Elas estavam numa loja da rede C&A.

O desespero no lançamento da Mixed para a C&A foi protagonizado por mulheres que entendem tudo de moda. Moda cara. A chance de comprar a etiqueta dos sonhos por um preço menor atraiu para a C&A uma nova categoria de consumidoras: as caçadoras de grifes. A publicitária Thássia Naves, de 23 anos, estava entre elas. Enfrentou o empurra-empurra do lançamento e 40 minutos na fila para levar um short de couro, um vestido e regatas de seda. Um dos hobbies de Thássia é garimpar peças para compor o que as fashionistas chamam de “look high-low” (uma mistura de roupas baratas e caras). O resultado da combinação de suas garimpagens é postado no Blog da Thássia. “Nas lojas de fast fashion, compro peças para usar por pouco tempo. Deixo para comprar roupas clássicas em grifes”, afirma Thássia, de Uberlândia, Minas Gerais.

COMPOSIÇÃO A blogueira Thássia Naves. Ela divide seu guarda-roupa entre peças compradas nas lojas de grife e modelos de marca lançados pelas lojas populares (Foto: Valter de Paula/ÉPOCA)

As lojas de fast fashion, redes populares como a C&A, passaram a vender no Brasil coleções de estilistas famosos a preços populares – uma tendência iniciada no exterior com a rede sueca H&M. Desde 2004, a H&M lançou 17 coleções de marcas como Karl Lagerfeld, Versace e David Beckham. Em Dubai, as coleções assinadas pelo italiano Versace esgotaram em meia hora. Na Inglaterra, as filas começam na véspera. Há rumores de que a H&M pretende vir para o Brasil, onde o sacrifício em nome de uma etiqueta segue passo a passo o comportamento registrado lá fora. A vinda confirmada da americana Gap – duas lojas abrirão em São Paulo no segundo semestre – tende a alimentar a estratégia. Em 2010, a Gap lançou o estilista italiano Valentino numa limitadíssima tiragem. Em algumas lojas dos Estados Unidos, a coleção desapareceu em duas horas. Quem perdeu a chance encontrou as peças no eBay – site de leilões na internet – pelo dobro do preço.

“No dia do lançamento, nossas equipes precisam repor o estoque o tempo inteiro. Muitos produtos acabam na primeira semana”, diz Paulo Corrêa, vice-presidente comercial da C&A Brasil. Ele está entusiasmado com o resultado de quase 20 parcerias firmadas com estilistas como Reinaldo Lourenço, Alexandre Herchcovitch e Stella McCartney. Com mais de dez coleções na bagagem, a Riachuelo lançou peças de Oskar Metsavaht (Osklen) e Cris Barros e da marca Huis Clos. A última parceria, com a Daslu, foi para as vitrines em dezembro, com campanha na TV. “Nos três primeiros dias, as mulheres pareciam abutres rodeando a carne”, diz a vendedora Maria Rita Bonfim, da loja da Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro. “As coleções atraíram quem não costumava comprar da gente”, afirma Marcella Kanner, gerente de marketing da Riachuelo.

De acordo com o filósofo francês Gilles Lipovetsky, professor da Universidade de Grenoble e autor do livro O império do efêmero, o mundo vive uma nova era do luxo. A moda, segundo Lipovetsky, não é mais um instrumento de distinção entre classes sociais, mas uma forma de afirmação da individualidade. “A marca acaba sendo mais cobiçada por mais pessoas”, afirma Renata Abranchs, consultora carioca de estilo e diretora do site RIOetc. A chef Zazá Piereck, dona do badalado restaurante Zazá Bistrô, em Ipanema, na Zona Sul do Rio, aproveita as promoções para comprar roupas de grife por um preço menor, porque acha um abuso os custos cobrados por grifes. “Tenho roupas de ginástica da Gloria Coelho da C&A, já comprei peças da Isabela Capeto para minha filha e até do Reinaldo Lourenço para minha mãe”, diz Zazá, de 44 anos. “Compro o que gosto. Só tenho preconceito com coisa muito cara.” Apesar dos críticos – eles dizem que as peças de marca não seriam baratas sem abrir mão da qualidade –, a tendência de popularização das grifes não para de crescer. Está cheio de caçadora de grife por aí esperando o próximo lançamento.

Fonte:|http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2013/03/cacadoras-d...

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