Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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As medidas que a moda precisa tomar para cumprir o acordo de sustentabilidade Fashion Pact

As medidas propostas podem transformar a indústria da moda em uma verdadeira líder climática - mas, caso não passem de promessas, trata-se apenas de greenwashing.

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O Fashion Revolution luta por transparência na indústria (Foto: Divulgação/Fashion Revolution)


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Neste ano, teremos uma imagem real do grau de comprometimento da moda com a sustentabilidade. Marcas assinaram, em massa, um acordo para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, compensar a emissão de carbono e desenvolver novos materiais sustentáveis ​​- mudanças profundas para uma indústria arraigada em seu modus operandi.

Ainda é cedo para determinar se isso significa uma transformação genuína, mas de acordo com Liz McDowell, diretora da organização ambiental Standearth, “a moda está numa encruzilhada onde uma direção a transforma em uma verdadeira líder climática e a outra a leva a mais promessas, que sem implementação não passa de um grande “greenwashing”".

Uma pesquisa informal feita por especialistas sugere que o setor fez um trabalho magistral em flertar com a inovação e a execução de projetos-piloto, mas ainda não levou nada à escala necessária.

Hoje, a indústria da moda produz cerca de 8% das emissões máximas de carbono, se o aumento da temperatura global estiver limitado a dois graus Celsius. No seu caminho atual, a indústria poderia produzir mais de 26% dessas emissões até 2050, segundo a Ellen MacArthur Foundation. E, apesar de todos os compromissos assumidos em 2019, o progresso pode ter diminuído.

Aprofundando-se na cadeia de suprimentos
Dezenas de marcas assinaram o Fashion Pact liderado pela Kering no ano passado. O acordo reconheceu a necessidade da moda de fazer mudanças em toda a cadeia de suprimentos, diz Helen Crowley, que chefia o fornecimento sustentável na Kering, mas atualmente está em período sabático. "Nada disso funcionará até que se reconheça que as cadeias de suprimentos estão arruinadas."

Porém, a reforma na cadeia de suprimentos é cara, e a maioria das marcas não têm posse dos seus fornecedores, o que as separa dos impactos ambientais associados. “As marcas terão que que arcar com alguns custos. Como irão compartilhar esses custos, quem irá pagar por isso - essas são conversas que ainda nao estao acontecendo”, diz Crowley.

A indústria anda observando a expansão de um projeto que a Levi’s executou com a Corporação Financeira Internacional para ajudar os fornecedores a reduzir o uso de energia e água. Na fase piloto, seis fornecedores economizaram um combinado de US$ 1 milhão, fazendo ajustes relativamente simples, como melhorias em isolamentos e vazamentos.

H&M também está trabalhando com fornecedores para incentivar investimentos em energia solar, realizando cursos e apoiando estudos de viabilidade com projetos na China e Bangladesh, diz Kim Hellström, líder de estratégia climática. No entanto, a empresa não está investindo diretamente nesses projetos.

O método governamental de recompensas e punições
Embora algumas marcas possam encontrar maneiras de tornar a sustentabilidade lucrativa, o progresso do setor pode ser acelerado ou prejudicado, dependendo da ação governamental. Sem políticas que exijam melhores práticas, as empresas que gastam com sustentabilidade operam em desvantagem econômica, diz Kate Larsen, ex-executiva da Burberry e fundadora da consultoria de negócios sociais SupplyEsChange. "Até que a lei exija que todos tomem essas medidas ... a competição não está nivelada."

Uma maneira de incentivar as marcas a investirem em cadeias de suprimentos sustentáveis ​​é o financiamento público. As marcas por sua vez podem comprometer-se a comprar materiais de fazendas com práticas ecológicas.

McDowell também vê uma promessa no apelo que a Fashion Industry Climate Charter, das Nações Unidas, fez para países produtores de moda aumentem a energia renovável e desestimulem a energia suja.

"Um fornecedor pode instalar energia solar em uma fábrica, mas não pode mudar a rede toda," ela diz. “A indústria pode dizer: ‘Ei, gostaríamos de ver fontes de energia mais limpas. Podemos apoiar isso, continuando a fazer negócios aqui.’" Isso pode custar caro, mas a construção de novas usinas a carvão também não é barata.

A moda também tem uma influência significativa nas decisões governamentais, onde a fabricação de roupas e calçados compõe uma grande parte das exportações. A indústria responde por 84% das exportações em Bangladesh, mas McDowell observa que o país está planejando uma expansão de usinas de carvão. Outros mercados que dependem fortemente das exportações de roupas incluem o Camboja e o Paquistão.

Em alguns países, a legislação com potencial de sanção mudou o comportamento de marcas. Larsen evidência a Lei sobre a Escravidão Moderna (Modern Slavery Act) do Reino Unido e a Lei da Transparência em Cadeias de Fornecimento (Transparency in Supply Chains Act), da Califórnia, fazendo com que empresas que haviam feito apenas melhorias limitadas, tomassem uma atitude.

Algumas empresas implementaram políticas comerciais mais éticas ou contrataram auditorias para controlar condições de trabalho de fornecedores, ou reconheceram esforços sindicais, como a Asos fez, por exemplo, com um grande acordo em 2017. "Não temos nada parecido com isso na parte ambiental," ela diz. "Ainda é lucrativo, a curto prazo, usar o modelo antigo - use qualquer tecido que você goste ou venda o que quiser.”

Houveram alguns esforços no ano passado. O Comitê de Auditoria Ambiental do Parlamento do Reino Unido, por exemplo, publicou um relatório com várias recomendações para o setor. Mas o governo "rejeitou todas as recomendações , frequentemente mencionando cursos de ação alternativos sem se comprometer com políticas tangíveis," diz Carry Somers, fundadora do movimento Fashion Revolution, que luta por transparência no setor.

O governo britânico respondeu dizendo que algumas dessas recomendações já estavam sendo enfrentadas pela política existente. Em um e-mail, um porta-voz do Ministério do Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais reconhece que é necessário mais trabalho, e acrescenta que a próxima Lei do Meio Ambiente do governo permitirá "definir padrões de sustentabilidade para roupas e responsabilizar a indústria da moda pelos custos do descarte de roupas.”

A nível continental, o Fashion Revolution está trabalhando com parceiros em uma estratégia para o desenvolvimento de melhores cadeias de suprimentos. Ainda este ano, tentaram persuadir a Comissão Europeia a apresentar uma proposta. "Em uma época de crise climática, medidas intangíveis que carecem de legislação não irão nos salvar,” diz Somers.

Novos modelos de negócios
Entretanto, as cadeias de suprimentos e as tecnologias mais eficientes não conseguem ir tão longe. “A verdadeira sustentabilidade vai desafiar os modelos de negócios. Temos que ser muito honestos sobre isso,” diz Crowley.

Atualmente, as cadeias de suprimentos são projetadas para minimizar custos durante todo o processo, mas tornar-se sustentável exige avaliar as coisas de maneira diferente. Podem haver lições a serem aprendidas com o modelo do sistema B, que reconhece o tripé da sustentabilidade para empresas certificadas que valorizam o lucro financeiro, mas também os impactos ambientais e sociais positivos.

As empresas atestam o modelo através de uma avaliação de seus impactos e devem aprimorar seus documentos e exigir que suas diretorias “equilibrem lucro e propósito”, afirma a organização. Hoje, existem mais de 3.200 empresas com certificação de sistema B em 70 países, sendo que em 2014 haviam 671. E suas vendas mais que triplicaram em comparação a outras empresas da mesma categoria, de acordo com uma análise de 2017.

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Fashion Revolution (Foto: Divulgação/Fashion Revolution)


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Isso pode sinalizar uma mudança de direção no tipo de reavaliação que Crowley diz que precisa acontecer. Para os consumidores, isso pode significar pagar mais, mas ela adverte contra a simplificação da conversa para aquela focada apenas em produtos baratos. 

"É fácil dizer que o fast fashion é o problema, mas todos temos que fazer a pergunta 'O que estamos valorizando?'" Essa é uma diferença marcante da tentativa de tornar a estrutura existente mais sustentável.

Uma indústria da moda sustentável não pode fabricar o mesmo volume e tipos de produtos, embora com melhores materiais e maior eficiência. "Se o setor não encontrar uma resposta para a superprodução e o consumo excessivo, será muito difícil ter sucesso na transição para um modelo melhor," diz Francois Souchet, que lidera a iniciativa Make Fashion Circular da Ellen MacArthur Foundation.

Uma via potencialmente lucrativa é o interesse explosivo em reparo, revenda e aluguel de roupas. O mercado de aluguel de US$ 1 bilhão, por exemplo, deve gerar uma receita de US$ 1,9 bilhão até o final de 2023, segundo a Lyst. Embora seja principalmente um fenômeno norte-americano, esses serviços estão ganhando popularidade lentamente na Europa e na Ásia, apesar de ainda não ser claro se eles reduzirão os impactos dos hábitos de compra dos consumidores, ou apenas os mudarão.

"A economia circular na verdade não existe no momento. Você pode contribuir para construí-la,” diz Crowley. "Mas você não pode apenas falar sobre reciclagem e reutilização criativa e dizer que está fazendo uma economia circular. Isso simplesmente não faz sentido."

Matéria originalmente publicada no Vogue Business.

https://vogue.globo.com/Vogue-Dossie/noticia/2020/06/medidas-que-mo...

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