Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Atriz Tilda Swinton une a moda e a arte para valorizar o slow fashion

Fica o velho, sai o novo. Essa foi a moral da história em Cloakroom, (algo como Vestiário), terceira performance da atriz Tilda Swinton e do historiador e curador de moda Olivier Saillard, que aconteceu em Florença na semana passada, completando a trilogia de peças encenadas pela dupla ao longo dos últimos quatro anos. Em um cenário representando um vestiário, ela interagiu com peças de roupas entregues pelo próprio público presente. Por mais de intensos 90 minutos, jogou seu corpo pelo palco dando vida às roupas espalhadas sobre um balcão, estudando-as, acariciando-as, conversando com elas. “É muito sobre o fetiche da novidade e da aparência. Não é realmente sobre a aparência, trata-se do espírito, eu suponho, e a vida vivida com essas roupas”, disse, após a apresentação.

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Na primeira performance, Impossible Wardrobe (Guarda Roupa Impossível), Tilda apresentou peças de arquivo de moda inspirada no cargo de Olivier como diretor do Palais Galliera, em Paris. Na segunda, Eternity Dress (Vestido da Eternidade), um vestido foi confeccionado diretamente em seu corpo. “Essa mais recente apresentação é como uma conclusão dessa trilogia, sobre a alma das roupas. E talvez a coisa mais interessante sobre a roupa é que as pessoas vivem nelas e não há realmente mais nada a ser dito. Mas em um mundo de fast fashion – seja pelas lojas de departamento ou pelas marcas de luxo – não há muito mais a ser dito. A peça era um estudo do próprio respeito das pessoas por suas roupas, efetivamente exibindo a importância que damos às nossas peças favoritas, convidando as pessoas a subir ao palco com as suas roupas e acessórios preferidos”, explicou ela.

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Nesse sentido, a peça redirecionou os holofotes usuais da moda para a história dos homens e mulheres comuns e suas escolhas de estilo cotidianas. “É sobre honrar essas pessoas, honrar nossas roupas, ao invés de Coco Chanel, ou Napoleão, ou qualquer outro”, enfatizou Tilda. Uma das inspirações para essa peça foi sua mãe, Lady Swinton, que morreu há dois anos e com isso a atriz vem passando lentamente por seu guarda roupa, percebendo a importância da longevidade das peças de vestuário, que nos seguem por toda a vida. “As roupas sobrevivem, frequentemente, muito mais do que nós próprios. Você sabe, o corpo se vai, as roupas ainda estão aqui. Há uma tradição das pessoas de herdar roupas, um sentimento de que elas devem ser passadas de geração para geração. E é só relativamente há pouco tempo que temos esse fetiche pela novidade”, analisa, ela própria fã de estilistas como Haider Ackermann, cujo trabalho propõe a seus clientes um guarda roupa atemporal, de longa vida útil, ao invés de peças sazonais que seguem tendências passageiras.

A peça elevou as nossas roupas de todos os dias – sejam elas discretas ou preciosas – para um status especial, e ressaltou as histórias e memórias inerentes que nossas roupas carregam. Uma reflexão sobre os laços emocionais que formamos com a moda, em um gesto de trazer à tona a poesia de nossas roupas “comuns”, a arte do dia a dia.

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Tilda continua sua análise sobre o vestuário dizendo que “todos nós, onde quer que estejamos posicionados com relação às roupas, somos atraídos por menos peças do que gostaríamos de admitir, porque temos uma relação natural com elas. Quanto mais eu faço essa apresentação, mais percebo que é sobre como criar relações. Todos nós temos uma ligação com uma camisa velha que as pessoas nos dizem para jogar fora, mas nós não vamos, sabe por quê? Porque você tem uma relação muito forte com essa coisa”. Para os céticos, que se levam a sério demais para se preocupar com o que colocam em seus corpos, a apresentação da dupla teria sido uma intelectualização boba da moda. Mas, enquanto você teria que ter uma mente pelo menos um pouco aberta para aceitar a longa interpretação do significado das nossas roupas, a poética performance foi, na verdade, uma declaração anti-moda em uma cultura cada vez mais crescente de consumo e uma indústria tediosamente obcecada com o novo. A moda nos leva a um fluxo interminável de produtos – sejam os de fast fashion ou os artigos de luxo – e a performance da dupla nos pediu para pressionar o pause e apreciar as coisas que já possuímos.

Para a atriz, o sentimento foi certamente genuíno. Perguntada se ela não gosta do fast fashion, ela sorriu de forma sutil e disse: “Eu nem sequer sei realmente o que é. Sou bastante ‘slow’ em todos os aspectos”. Olivier Saillard comentou: “Nossa trilogia é construída sobre o que já está adquirido e não na novidade, trilhando o caminho oposto do que foi construído pela moda.”

Via i-D | Dazed

http://reviewslowlifestyle.com.br/2015/01/21/atriz-tilda-swinton-un...

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