Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Avanço de exportação chinesa à AL aprofunda laços, mas desafia indústria

Fábrica têxtil na China, em foto de novembro (AFP)

Para compensar a queda nas exportações a EUA e UE, China quer vender mais à América Latina

A meta da China de aumentar suas exportações para mercados emergentes como a América Latina é um processo já esperado diante da crise econômica no mundo desenvolvido e traz desafios e perigos para a indústria brasileira, apontam especialistas consultados pela BBC Brasil.

A queda nas exportações chinesas para mercados em crise como EUA e União Europeia fará com que Pequim direcione mais vendas à América Latina e à Ásia, informou o Ministério do Comércio do país na última quarta-feira.

"No ano que vem, acho que enfrentaremos diversos desafios em nossas exportações e importações", disse à imprensa o diretor de comércio exterior do ministério chinês, Wang Shouwen. "Não haverá grandes melhoras na Europa e nos EUA. (...) Mas alguns mercados emergentes e em desenvolvimento estão desfrutando de boas performances econômicas, então vamos dar importância às exportações a esses países."

Para Evaldo Alves, professor de comércio exterior da FGV em São Paulo, o possível avanço das exportações chinesas para o Brasil "apenas acentuaria uma tendência que já é notada há algum tempo".

"Vamos ter mais produtos chineses no mercado brasileiro, mas também vamos exportar mais, porque a China continua com grande dinamismo".

"O lado positivo é a redução do preço de bens industriais (vindos da China) no mercado brasileiro", afirmou à BBC Brasil Creomar de Souza, professor de relações internacionais do Ibmec no Distrito Federal. "O negativo é a grande dificuldade da indústria nacional em acompanhar o ritmo, já que os produtos chineses têm um preço muito mais baixo."

Competitvidade

A competição com os produtos chineses, no entanto, pode ter consequências além do mercado interno. Segundo Souza, os produtos chineses – justamente por causa de sua competitividade – podem tomar mercado da indústria brasileira em locais como México, Argentina e EUA.

A meta chinesa de ampliar mercado na AL é anunciada em momento de retração da indústria brasileira.

Dados de quarta-feira do IBGE apontam que a produção industrial caiu 0,6% em outubro no país em relação a setembro. No comparativo com outubro de 2010, a queda foi de 2,2%.

O comércio internacional em números

  • Dados do governo chinês apontam que as exportações do país à UE caíram 9% em outubro, em comparação com o mesmo mês em 2010; para os EUA, a queda foi de 5%.
  • Ainda assim, as vendas externas da China cresceram 15,9%, graças, em parte, à demanda latino-americana.

Balança comercial Brasil - China*:

  • O Brasil exportou US$ 40,6 bi à China entre janeiro e novembro, 28% a mais que no mesmo período de 2010. Principais produtos: minério de ferro, soja em grão, petróleo bruto
  • O Brasil importou da China US$ 30,1 bi entre janeiro e novembro (crescimento de 23% em relação a 2010). Principais produtos: aparelhos eletroeletrônicos e componentes, máquinas e equipamentos, químicos e veículos

(*Fonte: Balança comercial brasileira - Ministério do Desenvolvimento)

Ao comentar a estagnação do PIB brasileiro no terceiro trimestre, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que "o quadro atual é de alerta para o setor industrial".

"Se a piora da conjuntura externa dificulta a já acirrada competição para o exportador, a pressão dos produtos importados, paralelamente, reduz a competitividade da indústria brasileira", diz nota da CNI.

Para Alves e Souza, essa pressão só pode ser aliviada com eficiência industrial e, no que diz respeito ao governo, com a redução de impostos ao setor produtivo brasileiro.

'Poder central e burocracia coesa'

Ao mesmo tempo em que vê perigo na desindustrialização brasileira, o economista e ex-presidente do BNDES Carlos Lessa diz que se preocupa mais com o quadro geral: o que chama de um "avanço colonizador" da China.

"É um país com um poder central e uma burocracia leal e coesa, com planos de longo prazo de domínio (global) semelhante ao da Inglaterra do século 19, mas com mais eficiência", opinou.

"A China quer o celeiro do Brasil (a produção de alimentos e outras commodities) para ela."

Brasil exporta principalmente commodities, enquanto importa produtos manufaturados

A China já é o maior parceiro comercial brasileiro e vendeu ao país US$ 30,1 bilhões – principalmente eletrônicos e componentes, máquinas e equipamentos, entre janeiro e novembro, segundo o Ministério do Desenvolvimento.

Já commodities como minério de ferro, soja e petróleo são os principais produtos de exportação brasileiros para o mercado chinês. Entre janeiro e novembro, essas vendas à China totalizaram US$ 40,6 bilhões, 43% a mais que no mesmo período do ano passado e dando ao Brasil um superavit no comércio bilateral.

Esse superavit deriva principalmente do alto preço das commodities nos últimos anos, que beneficiou o Brasil.

Fazendo uma simplificação da balança comercial brasileira, o país exporta basicamente matérias-primas à China, enquanto importa manufaturados.

Ir além disso é outro desafio da indústria brasileira, apontam os analistas, citando empresas como a Embraer e sua dificuldade em operar no mercado chinês.

"É um mercado onde as leis de patentes não são claras e sem regras de livre mercado", disse Souza, do Ibmec.

Abertura

Em contrapartida, do lado chinês, o pedido é por mais abertura no mercado brasileiro, seja pelo fim de barreiras para a compra de terras ou para a venda de veículos importados (sobretaxados com impostos sobre produtos industrializados).

Encontro dos Brics, em foto de arquivo

Crise nos países desenvolvidos força relações mais profundas entre emergentes, diz analista

"Os produtos chineses não são a causa da desindustrialização brasileira. O que causa isso é o 'custo Brasil' (em referência à carga tributária elevada e custos burocráticos)", defendeu Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China.

"O país deveria usar a receita das commodities para combater isso e dar mais competitividade a sua indústria."

Para Evaldo Alves, todos os desafios desse comércio bilateral terão de ser encarados e negociados cada vez mais, "já que essa relação comercial entre Brasil e países emergentes só tende a aumentar, uma vez que a crise (nos países ricos) ainda vai demorar para ser resolvida".

Fonte: Paula Adamo Idoeta

Da BBC Brasil em São Paulo

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