Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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#BECREATIVE: Bolsa com brasilidade e criatividade não sai da moda

Há sete anos, Denise Gerassi estava confortável na empresa em que trabalhava. Havia mais de 20 anos que atuava na indústria farmacêutica e estava exercendo com naturalidade uma função para qual estava preparada, afinal, era química e formada em farmácia. Tudo mudou quando foi dispensada do trabalho. Ao invés de procurar se recolocar no mercado, preferiu dar uma guinada na vida e se tornar designer de bolsas.

Apaixonada pelo acessório desde sempre e cansada de ver o público feminino carregando sempre as mesmas peças, a paulista criou a Denise Gerassi Bolsas, que tinha como marca um produto autêntico e cheio de referências à cultura brasileira. “O objetivo era criar bolsas cuja palavra chave fosse “brasilidade””, explica.

Assim, passou a desenvolver peças que valorizam o design exclusivo, sempre utilizando materiais tipicamente brasileiros como o couro nobre e as peles de peixe, muitas delas objetos de descarte da indústria. Ao material, associou processos artesanais que desenvolve junto a artesãs e cooperativas especializadas, localizadas em diversas regiões do país.

Como seu foco é a exportação, Denise Gerassi associou-se, em maio de 2016, à ABEST (Associação Brasileira de Estilistas), que conta com o Fashion Label Brasil, programa de Internacionalização da moda brasileira de valor agregado, criado em 2003 pela ABEST em parceria com a Apex-Brasil.

A iniciativa conta com atividades estratégicas que envolvem projetos compradores (vinda de possíveis compradores estrangeiros para encontros de negócios com empresários brasileiros), participação em feiras e desfiles internacionais que ajudam a ampliar a penetração das criações nacionais no mercado global da moda. É assim que Denise tem apresentado seus produtos, levando uma digital brasileira em cada peça que vende mundo afora.

O Blog da Apex-Brasil conversou com a estilista para entender sua caminhada até aqui e como que ela conseguiu se inserir nesse universo tão restrito da moda, um feito que a coloca no grupo de empresas criativas abraçadas pela campanha Be Brasil, que mostra um Brasil confiável, estratégico e sustentável no mundo dos negócios. 

Você era química antes de se tornar estilista. Como se deu essa transformação?

Sim! Sou formada em Química e também em Farmácia. Atuei por cerca de 20 anos na indústria farmacêutica. Em 2010, fui desligada de meu último emprego, depois de 12 anos na mesma empresa. Pensei então, em mudar radicalmente de área. Me dedicar a algo mais prazeroso e feminino. Decidi fazer bolsas. Sempre fui apaixonada por essa peça. Sempre prestei muita atenção nas bolsas que as mulheres usavam. Mais do que as roupas e os sapatos, eram elas que sempre chamavam minha atenção em primeiro lugar.

Quando você ainda era química, trabalhou na área de produção. Como que essa experiência ajudou você na hora de abrir sua empresa?

Nos últimos anos na indústria farmacêutica, atuei como gerente de produção. Liderava uma grande equipe e me encantava com o processo produtivo. Era gerente também dos processos produtivos terceirizados. Toda essa cadeia produtiva, desde o início até a entrega de um produto de excelência para o consumidor final, era muito interessante e envolvente. Ainda mais quando se trata de medicamentos, não podemos errar nunca. Tudo tem que sair perfeito, já que estamos lidando com saúde e vidas. Acredito que trouxe bastante dessa influência para meu novo ramo de atuação: o encanto pelo processo produtivo, e a busca incansável pela qualidade do produto a ser entregue.

Seu trabalho com bolsas tem uma intenção autoral. Essa foi uma decisão pessoal, artística ou estratégica?

Foi uma decisão pessoal, já que um dos fatores que me influenciaram na escolha da nova carreira foi o fato de ver as nossas mulheres brasileiras, na grande maioria dos casos, usarem sempre as mesmas bolsas. Com poucas exceções, elas carregavam uma cópia de uma marca famosa. E as nossas bolsas brasileiras? Qual era a sua identidade? Quais eram as marcas famosas aqui e no exterior? Quais eram objetos de desejo para a mulher brasileira e para a mulher fora do Brasil? 

Suas bolsas carregam forte identidade cultural brasileira. De que forma a impressão dessa brasilidade agrega valor ao seu produto?

Agregam muito valor. Principalmente no mercado internacional, quando tenho a oportunidade de explicar para um cliente de atacado em uma feira, ou mesmo para um consumidor final. Foi o que aconteceu, há duas semanas, no evento que participamos na Casa Pau-Brasil em Portugal. Apresentei nossa coleção inspirada na Lenda da Vitoria Régia, na qual utilizamos materiais tipicamente brasileiros para trazer essa brasilidade, que é a tônica de nosso projeto. O interesse pelo produto e pela marca ficaram bem mais visíveis. Eles se encantam em ouvir, por exemplo, que um dos componentes da bolsa é a pele do Pirarucu, sub-produto da indústria pesqueira, que favorece comunidades ribeirinhas da região amazônica. É o storytelling relevante por traz do produto que me permite ao final da conversa, dizer o valor da peça, e não simplesmente seu preço.

Suas peças carregam atributos de sustentabilidade e de comprometimento social. Isso é por conta de tendência de moda ou reflexo de uma transformação permanente do mercado?

Quando resolvi produzir bolsas, procurei uma consultoria especializada na área, já que minha formação técnica não era nesse segmento. Então, quando me perguntaram, no primeiro encontro com essa consultoria, “que tipo de bolsas você quer produzir?”, eu sabia de dois aspectos fundamentais que essas bolsas teriam que ter: design exclusivo e elementos tipicamente brasileiros, sendo alguns deles materiais de descarte. Talvez aí minha formação química tenha internamente contribuído, na questão de que os elementos sempre podem ser transformados e reutilizados. Basta buscar as maneiras certas para isso. Eu queria agregar esses elementos de descarte a um couro nobre, para produzir peças que não fossem um artesanato simples (não desmerecendo os artesanatos, de maneira nenhuma), mas que compusessem peças exclusivas e de alto valor agregado.

Você optou por trabalhar no mercado de alto luxo, dominado por marcas centenárias como Prada e Louis Vuitton. Porque não vemos mais marcas da indústria brasileira tentando se colocar nesse nicho? Tem uma questão de autoestima nesse cenário?

Olha... Confesso que o desafio é enorme. Talvez por isso outras marcas não queiram encarar esse nicho. Buscar conquistar uma cliente que consome Prada e Louis Vuitton não é tarefa fácil. Mas esse foi justamente um dos objetivos: querer que essa mulher tivesse um outro olhar sobre marcas e produtos até então desconhecidos, mas que também podem ser bem interessantes. No meu plano de negócio, descrevi meu público alvo como “uma mulher inteligente, culta, bem informada, seletiva, discreta, elegante, contemporânea e urbana”. Mas, se eu tivesse que descreve-la com apenas uma palavra, essa palavra seria “essencial”. Estamos sempre em busca dessa mulher. 

Sua marca foca no mercado externo. Como tem sido a acolhida do seu produto em outros países?

Desde o primeiro momento, o foco da marca foi o mercado internacional. Levar nosso produto para ser reconhecido e desejado lá fora, como uma peça de design exclusivo, com a qualidade e a brasilidade que tanto buscamos. Em todas as oportunidades que tivemos de mostrar nossas bolsas no exterior, como em Bogotá, Milão, Las Vegas, Paris e Lisboa, a receptividade foi muito boa. Como já disse, eles se encantam com a história por trás da marca, o conceito ecofriendly e a brasilidade das peças.  

Sua empresa é parceira de Apex-Brasil. Pode nos contar como você chegou à Agência e como que ela ajudou a sua marca?

Cheguei à Apex-Brasil através da ABIACAV, associação à qual também faço parte, além da ABEST. Já na primeira feira nacional em São Paulo, que participei para lançamento da marca, em julho de 2014, a agência visitou meu estande e me convidou para a feira na Colômbia que aconteceria uma semana depois. Lembro de ouvir: “você está pronta, menina!” (risos). Tinha sido um ano de muito estudo e planejamento da marca até lançarmos. Todas as ações que pude fazer até agora no exterior, tiveram o apoio da Apex-Brasil. Sem esse apoio, seria tudo muito mais difícil. Micro e Pequenas Empresas tão pequenas como a minha, que contam apenas com seus recursos, não teriam como almejar um mercado internacional sem a ajuda da Agência. 

Quais os são os planos para o futuro da marca? Onde você quer chegar?

Nossos planos são seguir fortemente com os conceitos que nos identificam: brasilidade, design exclusivo e ecofriendly. No início do próximo ano, devemos lançar nossa próxima coleção baseada em outra lenda brasileira, que terá inclusive algumas peças para o público masculino. E o foco principal é tornar a marca reconhecida no mercado internacional. Para isso, sei que temos um longo caminho a ser percorrido. Buscaremos participar de várias ações e eventos que tornem possível essa trajetória.

O que você diria para quem trabalha com moda no Brasil e busca desenvolver um produto voltado para o mercado externo?   

Diria para ter uma identidade própria. Acho isso fundamental. A partir daí, ter foco determinação. Buscar se capacitar através de cursos como o PEIEX também ajudam bastante.

http://www.apexbrasil.com.br/blog/post/becreative-bolsa-com-brasili...

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