Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Christophe Lemaire passou os últimos três anos a criar vestuário para a casa de moda francesa Hermès. Agora, o estilista quer desenvolver a sua própria marca e aproveitar a onda de interesse dos investidores em novas marcas com potencial para tornarem-se globais. E não está sozinho.

Quer se trate de financiamento privado ou aquisições por grandes grupos do luxo, como a LVMH, a última tendência da moda é encontrar uma marca de nicho promissora, sem historial, mas com muita imaginação. A dinamizar o mercado para os jovens designers encontra-se a convicção dos executivos de que a procura por produtos de luxo está a fortalecer em mercados como a China e os EUA, especialmente para novos estilos.

«As pessoas estão confiantes no registo do sector de artigos de luxo e nas perspetivas de crescimento, o que está a incentivar ainda mais o investimento em jovens marcas de moda de nicho», explicou um banqueiro com sede em Paris, recusando-se a ser identificado.

Damir Doma, um designer de 31 anos de idade nascido na Croácia e que trabalhou com Raf Simons, vendeu recentemente uma participação de 5% a Bernd Beetz, ex-CEO da Coty, mas que ainda faz parte do conselho de administração. Doma atraiu a atenção de outro grande nome: Concetta Lanciaux, ex-conselheira do CEO da LVMH, Bernard Arnault, que construiu a sua reputação com base na capacidade de descobrir talentos. «Acho que os designers estão agora a abrir o seu capital mais cedo porque compreendem que isso permite-lhes crescer mais rapidamente», refere Lanciaux, acrescentando que Doma é para ela um «Armani moderno».

Christophe Lemaire, o diretor criativo do pronto-a-vestir feminino na Hermes, que trabalhou anteriormente na Lacoste durante uma década, também espera encontrar parceiros experientes para a sua marca de moda própria, cuja meta de vendas é de 2 milhões de euros para este ano. «Sentimos que não há dinheiro para investir em moda, mas verifica-se um crescente interesse por marcas pequenas», afirmou Lemaire, que está a procurar novos investidores.

Os retalhistas revelam que o apetite por marcas de nicho tem crescido em detrimento das grandes marcas como Gucci da PPR ou Louis Vuitton da LVMH, que viram o seu crescimento de vendas abrandar nos últimos trimestres, mesmo em mercados vibrantes, como a China.

A competição por bons designers é tal que os investimentos em marcas de moda tendem a ser feitos na fase inicial de desenvolvimento, com o objetivo de assegurar o talento e dar à marca um arranque forte. E existem outros fatores envolvidos.

A longa e dolorosa pesquisa de Arnault por um substituto para John Galliano na marca Dior, incitou muitos grupos a alargar o seu conjunto de talentos, dizem os especialistas, evidenciando a dificuldade que existe em encontrar a pessoa certa para uma determinada marca.

Os grupos do luxo LVMH e PPR investiram recentemente em jovens designers: o primeiro comprou cerca de 30% da marca de Maxime Simoens, de 28 anos de idade, enquanto o segundo assumiu uma participação de 51% na marca de Christopher Kane, conhecido pelas suas originais misturas de tecidos.

Outras marcas promissoras em jogo incluem a estilista francesa Yiqing Yin e a marca britânica Erdem, reputada pelos seus estampados criativos, que recentemente despertaram o interesse de investidores, de acordo com fontes do sector que não quiseram ser identificadas.

«Numa fase inicial, o que o investidor está a comprar é o potencial de crescimento da marca e a sua notoriedade, na medida em que irá demorar vários anos até gerar lucro face aos enormes custos de arranque», considera um banqueiro de investimento com sede em Londres, acrescentando que estes custos geralmente variam de 10 a 20 milhões de euros.

No entanto, estas são pequenas somas em comparação com os milhares de milhões de euros de lucros obtidos pelos grandes grupos do luxo, como PPR e LVMH. Na segunda parte deste artigo é analisado o impacto destes grandes grupos nas pequenas marcas de moda.

É cada vez mais explícito o interesse na aquisição de pequenas marcas de moda com grande potencial de crescimento. Na corrida às promessas futuras da moda, os grandes nomes do luxo internacional estão na linha da frente e sucedem-se as aquisições de jovens marcas de moda.

O crescente interesse em torno das novas e promissoras marcas de moda tem suscitado a atenção de diversos investidores (ver Bons investimentos – Parte 1), em particular dos grandes grupos do luxo.

As avaliações de marcas jovens, a maioria delas geradoras de prejuízo, variam entre uma e três vezes o valor das vendas, em função da sua maturidade, comparado com um rácio de duas a três vezes em grupos com presença na bolsa de valores, como a LVMH.

«Os grandes grupos têm certamente os meios para pagar os investimentos em talentos futuros, também para prepará-los para futuras missões importantes e planos de desenvolvimento ambiciosos», afirmou Renzo Rosso, fundador e presidente da Only the Brave (OTB), que detém a Diesel.

A OTB, que investiu em marcas mais pequenas, como a Maison Martin Margiela e Viktor & Rolf, adquiriu em dezembro o controlo da Marni, uma marca italiana que gerou 130 milhões de euros em vendas anuais. Os pormenores financeiros não foram divulgados. «Estamos constantemente à procura de talentos futuros para crescer», revelou Rosso.

Os grandes grupos também iniciaram o desenvolvimento de contactos mais estreitos com as escolas de moda. No ano passado, a LVMH criou uma bolsa de estudos na Central Saint Martins em Londres, enquanto a PPR lançou um concurso com a Parsons The New School for Design, em Nova Iorque, no âmbito do qual os vencedores recebem estágios em marcas como a Alexander McQueen ou a Gucci.

Os observadores da indústria referem que nunca houve tanto interesse em investir em marcas de moda desde a década de 1990 e início de 2000, quando os grupos LMVH e PPR construíram os seus impérios. Só que na altura, a tendência foi no sentido de ressuscitar velhos nomes como Balenciaga e Yves Saint Laurent, no caso da PPR, e Fendi, Celine e Loewe no caso da LVMH. E se investiram em novas marcas, tal ocorreu numa fase muito posterior de desenvolvimento.

Por exemplo, a LVMH adquiriu a Marc Jacobs e a Donna Karan, mais de uma década depois de terem sido fundadas em 1984, enquanto em dezembro do ano 2000, o grupo PPR comprou uma participação maioritária na Alexander McQueen, que foi criada em 1992. Desde então, as vendas da marca aumentaram 12 vezes, cifrando-se acima dos 100 milhões de euros.

Até agora, não parece haver razão para pensar que o mais recente acréscimo de investimentos esteja concluído. O sector global de bens de luxo tem apresentado um crescimento firme, desafiando os choques económicos. Depois de crescer 10% no ano passado, as vendas globais estão previstas expandir entre 7% e 8% em 2013, de acordo com as previsões dos analistas. Enquanto isso, os três principais grupos do mundo do luxo: LVMH, PPR e Richemont, estão com dinheiro na mão e a competir nas aquisições com sociedades de capital de risco e investidores individuais.

«Existe um desejo de investir em risco», referiu Didier Grumbach, presidente da Federação de Moda Francesa. «Isso não existia há cinco anos atrás», acrescentou.

Fonte:http://www.portugaltextil.com/tabid/63/xmmid/407/xmid/42195/xmview/...

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