Conforme Silmara Ferraresi, diretora de relações institucionais da Abrapa, o programa de rastreabilidade SouAbr registra 122 mil peças rastreadas até julho, produzidas com algodão de 43 fazendas localizadas em estados diferentes. Só as 8 mil peças jeans da C&A usaram algodão de 18 fazendas distribuídas por Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Desse total de peças rastreadas, que é uma fração muito pequena da produção brasileira de vestuário (150 bilhões de unidades em 2022, segundo o Iemi), 106 mil correspondem a camisetas da Reserva, a marca que mais avançou no processo. “A Reserva está um passo à frente porque conseguiu colocar o fluxo das camisetas no dia a dia dela, não é mais uma coleção”, contou Silmara ao GBLjeans.
A outra parte está dividida entre os projetos de C&A, Renner e Almagrino, marca de roupa masculina de Cuiabá, que começou a rastreabilidade pela linha de camisetas e que estuda expandir para tecidos planos usados na produção de camisas.
META DE 1 MILHÃO DE PEÇAS RASTREADAS
“A gente queria muito bater um milhão de peças rastreáveis em 2023, mas já sabemos que não vamos conseguir chegar”, reconhece a diretora.
Para a Abrapa, que coordena o programa de rastreabilidade SouABR tendo investido na construção da plataforma de controle por blockchain, o avanço depende do interesse de varejistas e marcas em engajar a cadeia de fornecimento no projeto. São elas que atrairão fornecedores de matéria prima e as confecções que prestam serviço à varejista ou marca de moda, diz.
Para o tecido, a exigência é de composição com, no mínimo, 70% de algodão, todo ele certificado com selo ABR, tanto na malha quanto nos planos. “Pode ter 30% de outras fibras no tecido. Vocês rastreiam as outras fibras? Não. O compromisso do ABR é com a rastreabilidade do algodão que está na peça”, afirma Silmara.
EXPERIÊNCIA DA C&A
Durante o Febratex Summit, evento realizado em meados de agosto, a Abrapa coordenou painel para o qual convidou a C&A e dois de seus fornecedores no projeto – a Vicunha que forneceu o denim e a Emphasis na produção das peças.
Para Cyntia Kasai, gerente executiva de ESG da C&A Brasil, a empresa é “um elo com grande força para provocar a mudança” sobre a primeira coleção de algodão rastreável lançada no primeiro semestre. A intenção é escalar a partir de 2024, diz.
Outro desafio é fazer o consumidor reconhecer esse investimento porque as peças dessa coleção não são mais caras por serem rastreáveis, ressalta. Ela entende que assim como já faz com o rótulo de alimentos e bula de remédios, o consumidor vai incorporar o hábito de consultar a etiqueta das roupas, que deverá trazer mais informações, como acontece com o QR Code do SouABR.
Renata Guarniero, gerente de marketing da Vicunha, contou que a companhia tem uma de suas três fábricas brasileiras inteiramente abastecida com algodão certificado ABR. “A rastreabilidade é um caminho sem volta”, afirmou a executiva da empresa que já participou do projeto piloto desenvolvido com a Renner.
É a primeira vez que a Emphasis participa de um projeto de rastreabilidade, explicou Gabriele Ghiselini, diretora da empresa que atua como PL. No projeto com a C&A a produção das peças foi feita internamente, o que facilitou os controles. Para ganhar volume, teria que envolver subcontratados, uma rede 32 empresas. Mas ela não vê problema para que eles controlem os lotes rastreáveis.
Ela explica que a Emphasis separa no estoque toda a matéria-prima feita de algodão rastreável. No caso de envolver sub-contratados Gabriele entende que não seria complicado porque a Emphasis envia todo o material já cortado para fechamento das peças.
Jussara Maturo/GBL JEANS