A camisa Lacoste começa a deixar de ser um ícone da vertente consumista do turista do Brasil em Buenos Aires. Até o ano passado, um em cada quatro compradores da marca na capital argentina tinha o português com sotaque brasileiro como idioma materno. Hoje, a proporção caiu para um em cada seis e o total de peças vendidas no país não deve crescer este ano. "O consumidor brasileiro está saindo de cena por dois motivos: começou a viajar mais para outros lugares e a consumir os produtos da marca no próprio Brasil", comentou o presidente da Lacoste argentina, Rodolfo Gotlib.
Gotlib é o CEO da Vesuvio, uma empresa têxtil com 50% do capital controlado pela Lacoste francesa. O restante se divide entre ações do executivo e do grupo de investimento Exxel, de capital argentino. A Vesuvio também é sócia da operação brasileira, que deve registrar um crescimento de vendas de 35% em quantidade de peças em 2012.
O executivo pode atestar no próprio local de trabalho o peso que o consumidor brasileiro chegou a ter para a marca. Seu escritório fica no quarto andar do prédio que abriga a loja "outlet" da Lacoste na rua Gurruchaga, no bairro do Palermo Viejo. "No ano passado, esta foi a loja com maior índice de vendas da Lacoste por metro quadrado em todo o mundo", disse. De acordo com Gotlib, foram 300 mil unidades vendidas, ou 20% de tudo que a Lacoste comercializou em sua rede de 48 lojas no país. Segundo o executivo, metade das peças foram compradas por brasileiros. É um quadro que não deve se repetir este ano.
De acordo com o instituto oficial de estatísticas, o Indec, em julho deste ano - mês brasileiro de alta temporada para o turismo - o número de viajantes vindos do Brasil caiu 8,6%. A permanência média se reduziu 1,8% e o gasto diário decresceu 6,2%. O brasileiro ainda é, entretanto, o turista que mais gasta na Argentina: em média, são US$ 172 por dia "per capita". Entre um ano e outro a inflação estimada no país (o número oficial não serve como referência) superou 20% e o real teve uma depreciação da ordem de 30%, mas Gotlib minimiza o peso da conjuntura econômica no resultado.
"A brecha entre os preços em Buenos Aires e os do Brasil permanece na faixa de 30%", disse. Na última terça-feira, uma camisa polo masculina podia ser encontrada na loja "outlet" por 300 pesos, US$ 65 pelo câmbio oficial. A escala na Argentina é uma das explicações para a diferença permanecer. O país conta com uma população cinco vezes menor que a do Brasil, mas proporcionalmente o consumo de roupas da marca é maior. Cerca de 2,3 milhões de peças devem ser vendidas este ano no mercado brasileiro, ante 1,5 milhão na Argentina.
A partir deste ano, contudo, a Lacoste argentina estará mais exposta ao atraso cambial que impulsiona o aumento de custos de produção. Para driblar as restrições que existem às importações, a empresa está substituindo as mercadorias trazidas da França, China e Peru por camisas, camisetas e camisas polo produzidas na província de San Juan, no noroeste argentino. As duas fábricas da Vesúvio produzem hoje cerca de 1,4 milhão de peças. Cerca de 400 mil são exportadas, o que garante a Gotlib tranquilidade para trazer a mesma quantidade dos outros países produtores da marca. Com a ampliação da fábrica, o executivo espera chegar a 2 milhões de peças.
"Somos atualmente os maiores exportadores argentinos de vestuário", afirmou Gotlib. As vendas internacionais, contudo, são pouco significativas. Representaram 15% do faturamento do ano passado, ou 116 milhões de pesos argentinos (cerca de US$ 26 milhões). Metade do total se destinou ao mercado brasileiro.
A Lacoste não é a única marca operada pelo grupo Vesúvio. A empresa fabrica também roupas das grifes Cacharel, Penguin e Paula Cahen D'Anvers. Esta última desembarcou no Brasil há três meses, com uma franquia operada pela família Torre, que têm investimentos imobiliários em São Paulo.
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