Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Nino Andres/DivulgaçãoModelos da coleção do estilista Ronaldo Fraga em homenagem a Zuzu Angel: “Seu trabalho foi impactante”

Um prêt-à-porter chique, mas com identidade local. É dessa forma que se pode definir o trabalho da estilista Zuzu Angel. "Ela criou um estilo com características brasileiras, sem ranços colonizados", diz João Braga, professor de história da moda e coautor do livro "A História da Moda no Brasil - Das influências às autorreferências" (Pyxis Editorial), que dedica um capítulo à estilista que um dia declarou: "Eu sou a moda brasileira".

E se não foi a única costureira a fazer sucesso entre as décadas de 1960 e 1970, Zuzu Angel foi provavelmente a mais obstinada em construir e propagar um jeito próprio de vestir a mulher. "Zuzu foi a primeira a usar a temática brasileira, fugindo das imposições da alta-costura francesa", diz Braga. Para isso, ela abusou dos tecidos de algodão, das cores e das estampas tropicais, de flores e pássaros. Utilizou rendas do Norte e do Nordeste (tidas como "populares") em vestidos de festa. Usou o seu conhecimento "caseiro" da costura para firmar um aspecto artesanal às suas roupas.

Não por acaso, atraiu o olhar da clientela americana. Depois de serem lançadas com desfiles em Nova York, as suas peças eram vendidas em lojas como Bergdorf Goodman, Neiman Marcus e Lord and Taylor. De acordo com o historiador João Braga, no início dos anos 1970, o nome Zuzu Angel aparecia no "Fashion Calendar" (publicação semanal que listava os melhores da moda mundial), ao lado de Yves Saint Laurent e Givenchy. "O tipo de roupa feita por minha mãe, até hoje, agrada mais aos estrangeiros", afirma Hildegard Angel, filha de Zuzu, que percebeu desde cedo o olhar terno e sensível da estilista para o seu país natal. "Minha mãe achava lindo tudo o que era brasileiro."

Outro que costuma usar referências bem brasileiras em seu trabalho como criador, o estilista Ronaldo Fraga conheceu mais intimamente o trabalho de Zuzu nos anos 1980 - quando passou a ler sobre o período da ditadura militar. Em 2001, Fraga apresentou a coleção "Quem matou Zuzu Angel?" em homenagem à costureira. "Da mesma forma que ela, eu queria mostrar que a roupa poderia ter outras falas", diz Fraga, fã da maneira como Zuzu usou o seu ofício para denunciar uma época em que reinava o medo e o silêncio. "Seu trabalho foi impactante".

Impactante sim, mas não livre de polêmicas, como conta o livro "História da Moda no Brasil". De acordo com os autores, João Braga e Luís André do Prado, Zuzu tornou-se um "paradoxo exposto da moda brasileira", pois fazia sucesso fora do País explorando as referências daqui - algumas até folclóricas. "Nossas elites, porém, preferiam os criadores europeus". Ou, por vezes, elegiam costureiros brasileiros que imitavam a moda estrangeira. "Zuzu antecipou propostas e conceitos que só puderam ser plenamente desenvolvidos por estilistas das décadas seguintes", diz João Braga. Motivo de sobra, portanto, para ser lembrada e reverenciada.


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