Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Na era da internet, os brechós virtuais florescem e provam que não é apenas atrás de descontos que os clientes vão atrás: eles também são atraídos por peças de luxo e artigos com estilo diferenciado daquele que se encontra nas araras tradicionais. Dados do Sebrae mostram que nos primeiros meses de 2015, a despeito do agravamento da crise econômica no país, as vendas avançaram cerca de 30%.

Há quatro anos e meio, as irmãs Daniela e Gabriela Carvalho decidiram colocar na roda algumas de suas aquisições de grife que estavam apenas ocupando espaço no closet. “Fizemos um site bem caseiro, vendemos tudo e para nossa surpresa, no dia seguinte, várias amigas nos procuraram para negociar suas peças também”, conta Gabriela. Assim nasceu a plataforma virtual Peguei Bode, onde se pode encontrar uma bolsa Louis Vuitton por R$ 3 mil, um vestido Alexandre McQueen por R$ 1.600 ou um Loubotin de salto alto por R$ 1.200. As irmãs vendem cerca de 300 peças por mês.

Elas afirmam que só adquirem itens de pessoas conhecidas e mantêm o anonimato dessas vendedoras. “Tomamos muito cuidado com a procedência dos produtos porque existe muita falsificação no mercado”, diz Gabriela, acrescentando que no começo algumas clientes estranhavam a ideia de vestir algo usado, mas que com o tempo o preconceito foi sendo quebrado.

Além das vendas virtuais, entregues via Correios para todo o país, elas também realizam alguns eventos para estreitar o relacionamento com as clientes. Sempre organizados em hotéis de luxo, esses encontros já aconteceram em cidades como Salvador, Recife e Natal. O próximo está marcado para o início de dezembro no Hotel Fasano, em São Paulo. “É a oportunidade delas provarem o sapato, verem a bolsa que desejam. Muitas aparecem logo no primeiro horário para escolher as melhores ofertas”, afirma Gabriela.

Também no terreno das peças exclusivas está o site Agora é Meu, lançado há três anos pela ex-representante comercial da Daslu Lígia Almeida Prado. Ela investiu cerca de R$ 90 mil de seu capital próprio na plataforma e diz que o retorno ocorreu em 15 meses. Ela garimpa as peças em meio a amigos e à clientela que formou durante os 20 anos de carreira. Fatura mensalmente de R$ 50 mil a R$ 70 mil reais com a venda de 70 a 150 peças. A empresária conta com uma equipe de três pessoas e seleciona pessoalmente todas as peças. Só terceiriza o trabalho de fotografia das peças, entrega dos produtos e hospedagem do site.

Além das vendas virtuais, mantém um show room onde armazena roupas e sapatos. As clientes ali são recebidas apenas com hora marcada. “A crise só veio a melhorar meu negócio, pois as clientes visam vender para fazer dinheiro e comprar outras peças praticamente novas por até 80% a menos do que um artigo novo numa loja”, afirma ela, para quem o mercado de seminovos e usados só é bem sucedido se houver muita confiança e transparência entre vendedores e compradores. “As redes sociais ajudam muito hoje. Além disso, o comparativo de preços está na internet, então não se podem sair muito do valor de seus concorrentes”, explica.

Mas não é só de moda feminina que vivem os brechós virtuais. O empresário Alexandre Fischer encontrou seu nicho nas roupas, calçados e acessórios para crianças. Ele teve a ideia de criar a plataforma virtual Ficou Pequeno quando há alguns anos observou que na casa de sua irmã havia um armário inteiro de roupas que já não cabiam nas sobrinhas Clara e Julia. O site, que hospeda as “lojinhas” virtuais de cada mãe ou pai, foi lançado no começo de 2013 apenas com as roupas das gêmeas e logo fez sucesso. “Na primeira semana já havia mais de 20 lojinhas e ao fim de um mês já eram mais de cem”, diz Fischer, acrescentando que o investimento inicial foi de cerca de R$ 200 mil de capital próprio.

Atualmente, a cada mês, pelo menos cinco mil produtos encontram um novo dono no Ficou Pequeno. De acordo com Fischer, a quantidade de pechinchas e lojinhas continua crescendo: já há mais de 50 mil itens disponíveis, que vão de um simples macacão até um berço para trigêmeos desenhado sob medida.

Amadorismo dá lugar a uma gestão profissional

Já se foi o tempo em que brechó era sinônimo de loja caótica de roupas puídas ou que o sebo nas paredes fazia valer a alcunha dos depósitos de livros velhos. Para prosperar no mercado de produtos de segunda mão, seja qual for a sua natureza, o empreendedor precisa agir com profissionalismo. O fato de se trabalhar com produtos usados, mesmo que em um formato de multicoisas, não significa desprezar estudos de mercado e de público, segundo Patricia Cotti, coordenadora acadêmica da Academia de Varejo, escola que funciona em parceria com o Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar).

“Não se pode cair em um limbo de loja sem conceito e sem sentido, um apanhado de coisas para o consumidor sem nenhum engajamento ou motivação por trás. Em um mundo de grandes ofertas, é preciso se diferenciar sempre”, diz ela.

Patrícia também destaca que o empreendedor precisa estar atento às regras do Código de Defesa do Consumidor. A compra de um produto que não seja novo não significa que o consumidor não esteja amparado legalmente. Portanto, tomar cuidado com a procedência e qualidade do que é vendido é fundamental. “Muitos não atentam para este fato e acabam falhando em suas comunicações e ofertas, o que pode gerar um grande contratempo no futuro”, diz ela.

Estar atento à legislação e ao código do consumidor também é fundamental para as lojas de segunda mão

Para o professor Claudio Felisoni, presidente do conselho do Programa de Administração de Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA), uma grande preocupação nesse segmento de negócio deve ser com a origem das mercadorias. “Para quem negocia usados e seminovos é bem difícil porque a maior parte dos produtos não virá com nota fiscal”, diz ele, para quem vale nessas horas usar a sabedoria popular. Isso significa desconfiar do santo quando a esmola for grande. Produtos que chegam à loja com oferta muito boa podem ter origem duvidosa, segundo Felisoni. E outro detalhe: não é porque a loja de usados adquire itens sem nota que irá revendê-los da mesma forma: agir dentro da formalidade é condição para o negócio prosperar.

Zelar pelo bom entendimento entre vendedor e comprador é outra boa prática, mesmo quando se trata de um site que tem a função de apenas intermediar as duas pontas. “O estabelecimento deve funcionar como intermediário não só da venda, mas, da comunicação. Todas as informações devem ser claras entre as duas partes”, diz Patrícia, acrescentando que o consumidor precisa saber exatamente o que está adquirindo. Se não se toma esse cuidado e ocorre um conflito, por mais que o estabelecimento seja só o intermediário, será ele o primeiro a ser prejudicado.

Consultora de marketing e vendas do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de São Paulo, Beatriz Micheletto orienta os empreendedores a se dedicarem também a avaliar as tendências de mercado e comunicar bem sua proposta ao público. Em alguns lugares no exterior, segundo ela, roupa vintage é simplesmente sinônimo de roupa usada. No Brasil, porém, esse termo é mais associado a roupa com um determinado estilo. “Se o brechó se definir como vintage, ele precisa oferecer o que o público entende como vintage”, diz ela.

Quando se trata de oferecer produtos na internet, ela recomenda não economizar com boas fotografias e uma descrição bastante detalhada e honesta dos produtos. E a mesma organização demandada em uma loja física vale também para plataformas virtuais. Separar as ofertas por cores, tamanhos e tipos e deixar à disposição um mecanismo de busca eficiente ajuda o consumidor a encontrar o que procura.

https://alfredopassos.wordpress.com/2015/12/19/inteligencia-competi...

Exibições: 161

Responder esta

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço