Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Ana Paula Paiva/valor / Ana Paula Paiva/valorAndré Higaldo: "Atualmente, as atenções estão voltadas para o que é vendável. Às vezes, sinto falta do romantismo de antes, mas a realidade hoje é outra"

Criadores em início de carreira, profissionais recém-formados ou com apreço pelo trabalho autoral têm lugar certo para se encontrar nesta semana: a Casa de Criadores. O evento de moda, que está na 35ª edição, vai de quarta à sexta, na Galeria Prestes Maia, região central de São Paulo. Durante os três dias, serão 23 desfiles individuais, além de uma apresentação coletiva dos trabalhos de alunos do Senac. O foco do evento - que foi iniciado em 1997 por um grupo de jovens estilistas, em parceria com o jornalista André Hidalgo - continua o mesmo: ser um espaço de expressão autoral.

Entre os designers que participam desta edição estão Gustavo Carvalho, Anderson Tomaz (da Tilda), Kauê Bueno, Rafael Caetano, Arnaldo Ventura, Walério Araújo e Weider Silvério. Desta vez, a Casa de Criadores volta para o centro da cidade, de onde havia se afastado. "Isso é bom, permite inserir a moda na cidade", diz André Hidalgo, diretor do evento. Outra novidade é o projeto Novos Olhares, feito em parceria com o governo do Estado de São Paulo e que promoverá uma apresentação surpresa na última noite de desfiles. "Esta edição também traz mais coleções masculinas à passarela", informa Hidalgo. "Há mais estilistas preocupados em vestir o homem heterossexual. E esse, por sua vez, está mais aberto às tendências de moda".

Apesar de pequenas mudanças, a Casa de Criadores não perdeu a sua essência. "Somos a São Paulo Fashion Week para quem faz uma moda de autor e não apenas voltada para o lado comercial", diz Hidalgo, que procura não restringir a participação de estilistas com carreia estabelecida, mas que queiram desfilar junto aos iniciantes. "Nem todo estilista tem a necessidade ou a condição de migrar para um evento comercial. O que importa aqui é exercitar a criação".

Criação, aliás, que nunca se fez tão necessária para as novas marcas e designers que queiram ter alguma chance no competitivo mercado de moda atual. Até porque, brigar por preço com varejistas como Zara, Gap e Forever 21 não parece uma ideia viável, no momento. O jeito é tentar se viabilizar e conquistar a clientela pelo design que desperte desejo.

Divulgação / DivulgaçãoAnderson Tomaz, da marca Tilda: promete "streetwear, mas com o acabamento de alta costura"

É essa a estratégia do estilista Gustavo Carvalho, que apresenta a sua primeira coleção como marca de moda amanhã à noite. "É claro que me preocupo com o preço dos meus produtos", diz Carvalho, que mira os jovens com estilo streetwear como clientes. O valor acessível, no entanto, não é o principal atributo que o designer quer oferecer: "Quero levar a eles um produto novo, de qualidade, mas que não seja massificado". E para começar a divulgar o seu nome, Carvalho vai começar lançando uma linha de acessórios, com itens como tênis com estilo "skatista".

Como talvez todos os outros participantes do evento, Carvalho quer ir ao encontro do coração de seu público alvo, tornar-se popular, mas sem perder a identidade. Não por acaso, a coleção do estilista foi batizada de "Intrínseco", para falar de características que são próprias de cada indivíduo. "A coleção foi feita a partir de um estudo do artista Amilcar de Castro", diz Carvalho. Segundo ele, a série de esculturas criadas pelo artista a partir da década de 1960 foi traduzida em zíperes que desconstroem as peças (em representação ao corte) e também nas pregas das roupas. Os tons da cartela de cores exploram o ouro velho e o pérola, além das cores vermelho e azul.

Em sua segunda participação no evento, o estilista Anderson Tomaz, da grife Tilda, vai mostrar um trabalho de "streetwear com acabamento de alta costura". "Vou levar o desenho dos corsets para a roupa de praia", diz Tomaz, que já trabalhou com estilistas como Jum Nakao, Fernanda Yamamoto e André Lima. A coleção, para homens e mulheres, vai misturar o militarismo com o estilo hippie, mas fugindo das obviedades, segundo Tomaz. "Não gosto de limitar a interpretação. Cada um vai ver a coleção de um jeito", afirma o designer, que promete colocar foco no produto, não no conceito.

Para André Hidalgo, que já realizou desfiles em parceria com Ronaldo Fraga, André Lima, Mário Queiroz, Priscila Darolt e Juliana Jabour, os jovens estilistas de hoje têm os pés no chão e são menos românticos do que os da geração que despontou nos anos 1990. "Atualmente, as atenções estão voltadas para o que é vendável", diz Hidalgo. As explosões de criatividade - e até de excentricidade - estão mais contidas, para dar lugar a desfiles que mostrem roupas mais "reais". "Às vezes, sinto falta do romantismo de antes, do exercício conceitual", diz o jornalista. "Mas a realidade hoje é outra".


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