Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

A venda do negcio de celulose, concluda na quinta-feira noite, com a transferncia do controle da Fibria para o grupo Suzano, representou apenas o fim de um ciclo desse negcio para o grupo Votorantim, diz Joo Miranda, presidente da companhia, em entrevista ao Valor. Com o aval dos acionistas - a famlia Ermrio de Moraes - e o suporte de sua equipe de executivos, Miranda comandou as negociaes. "No foi desalavancagem de dvida que nos levou a isso. Estamos, e ficaremos ainda mais ao longo deste ano, confortveis financeiramente", afirmou. Ele ressaltou que, como gestora de ativos, com presena no controle e co-controle de vrios negcios, a companhia e seus acionistas tm esse conceito como orientador, para sair de certos negcios e entrar em muitos outros, na hora oportuna. "O grupo no est definhando, ao contrrio, vem se realinhando". Com receita na casa de R$ 26 bilhes, e lder em alguns setores, vai completar em 2018 seu centenrio de fundao. "Temos um grande futuro pela frente", diz executivo.

Abaixo, integra da entrevista:

Valor: Por que a Votorantim decidiu ir adiante com a combinao de Fibria e Suzano?

Joo Miranda: A Votorantim tem se transformado continuamente ao longo de sua histria. Comeamos a cem anos atrs como uma empresa txtil, depois aumentamos o escopo de nossas atividades e nos tornamos um conglomerado em setores de base, como cimento, siderurgia, minerao e metalurgia de alumnio, zinco e nquel. Foi assim que demos a nossa contribuio ao desenvolvimento industrial brasileiro, gerando valor com competitividade e eficincia e tambm criando empregos de qualidade. Ao final dos anos 80, adicionamos investimentos no setor agrcola exportador, com celulose e citricultura. Em 2001 iniciamos o processo de internacionalizao, adquirindo a primeira operao de cimento fora do Brasil. Desde ento, seguimos esse caminho e hoje temos presena geogrfica diversificada. A gerao de energia eltrica renovvel j ganha espao e sua participao crescer significativamente.

Valor: E os vrios desinvestimentos, como e por qu aconteceram?

Miranda: Durante esse longo perodo e sempre por razes eminentemente estratgicas e que visaram balancear o nosso portflio de ativos, samos de negcios txtil, de distribuio de energia, de aos planos (U siminas), dentre outros do grupo.

Valor: Foi isso, ou um motivo de maior relevncia, que levou o grupo deciso de deixar Fibria, resultado de consolidao que fez no setor?

Miranda: A deciso de combinar a Fibria com a Suzano e reduzir nossa participao societria na empresa resultante no foi trivial. Em primeiro lugar, a Fibria uma referncia e lder em seu segmento: tem gesto executiva competente e amplamente reconhecida, com capacidade de crescer e criar valor; comprometida com a sustentabilidade e com a criao de impacto social positivo e um nvel de governana que a distingue muito positivamente. E uma forte vertente inovadora, iniciada na pesquisa e desenvolvimento clonal, que se expande para usos alternativos da fibra de eucalipto.

Valor: Ento, por que, com esses atributos da Fibria, o grupo seguiu com a combinao das empresas?

Miranda: Para a Votorantim, foram dois os principais argumentos na deciso. O motivo dominante diz respeito deciso dos acionistas da Votorantim de reduzir a exposio agregada do portflio a negcios cclicos, assim minimizando a exposio a fatores exgenos, como cmbio e preo de commodities. A segunda, mais especfica transao com Suzano, se refere gerao de sinergias esperadas de R$ 8 bilhes a R$ 10 bilhes em valor presente, cuja partio, com o negcio, foi capaz de resultar em uma operao equilibrada. Boa para todos. Alm disso, o compromisso com a meritocracia, a potencializao conjunta da inovao, sustentabilidade e prticas de governana de alto padro.

Valor: Podemos esperar a venda de outras empresas da Votorantim?

Miranda: Sempre se poder esperar ajustes em nosso portflio, adicionando ou desinvestindo de negcios ou empresas. Contudo, vale lembrar que nosso capital paciente e nosso propsito inegocivel. Somos uma holding de investimentos permanentemente capitalizada, que visa retornos superiores, com respeito natureza e s pessoas, alm de buscar sempre criar impacto social positivo. Essa a forma de ser da Votorantim e esse o DNA das nossas empresas, inclusive da Fibria.

Valor: As aes de Fibria caram no dia do anncio, enquanto as de Suzano subiram. A transao foi boa para os acionistas de Fibria?

Miranda: A possvel combinao de Suzano e Fibria vem despertando a ateno h algum tempo. Some-se a isso, as corretas e tempestivas comunicaes e fatos relevantes levados a conhecimento do mercado pela Fibria e Suzano sobre uma possvel transao. Segundo analistas, essa exposio colocou a Fibria no centro da disputa entre dois contendores. Certa ou errada, essa interpretao dos fatos, elevou o preo das aes da Fibria antes da transao. Assim, segundo os mesmos, o que ocorreu na ltima sexta-feira, quando foi assinada a transao entre os acionistas de ambas, foi uma correo tcnica de preos das aes das duas empresas, convergindo para a avaliao relativa considerada na transao, incorporando a expectativa de sinergias.

Valor: E especificamente para os acionistas da Fibria?

Miranda: Negociamos em conjunto com BNDES uma transao para todos os acionistas da empresa, controladores ou minoritrios, que podero realizar uma monetizao significativa [mais de 83% do valor total em caixa] e ao mesmo tempo manter uma exposio empresa resultante. Ganha tambm o mercado de capitais com uma empresa resultante competitiva globalmente, slida, com governana madura e com expressivo "free float" de 53%.

Valor: Como a famlia Ermrio de Moraes reagiu sada desse negcio, formado ao longo de 30 anos?

Miranda: Com muita naturalidade - e consenso -, consciente de que pde agregar valor Fibria e aos seus acionistas, logo aps ter completado mais um ciclo de expanso, com nova linha na fbrica de Trs Lagoas (MS).

Valor: Para onde vai a Votorantim e o que ser feito com os recursos da venda das aes da Fibria?

Miranda: As empresas Votorantim tm investido anualmente cerca de R$ 3,5 bilhes de reais (sem considerar a Fibria) e seguem com grande capacidade de gerao prpria de recursos, os quais em grande parte reinvestidos. Temos comprovada capacidade de gerar alternativas de investimento dentro e fora do Brasil e estamos atentos aos riscos e oportunidades de investimento derivados da nova economia. Um exemplo bem concreto neste momento a energia renovvel. J temos a plataforma montada com mais de 500 MW em elica em operao e um portflio de projetos para mais que dobrar no curto prazo. Em parceria com o CPP-IB [fundo canadense] vamos investir mais de R$ 3 bilhes nos prximos anos na sua expanso.

Valor: Que tipos de negcios o grupo olha como oportunidades de investir, adotando a estratgia de uma gestora de portflio de ativos?

Miranda: Nossas reflexes estratgicas na companhia, em dilogo constante com os acionistas, o conselho de administrao e o grupo de diretores executivos, vo da anlise dos negcios tradicionais aos de marca, como bens durveis, at reas de novas tecnologias. Como se fssemos recriar a Votorantim Novos Negcios [que teve uma carteira de empresas na dcada passada e que foi vendida], mas num outro conceito e dimenso. H um desejo sim de ir para negcios mais leves em capital financeiro e mais intensivos em capital humano e intelectual.

Valor: E os negcios tradicionais, como cimento, minerao (zinco e alumnio) e suco de laranja?

Miranda: Eles passam por uma transformao digital que levar a uma maior produtividade e qualidade de servios aos clientes. Vimos neles potencialidades de crescimento. Abrimos o capital da Nexa (ex- Votorantim Metais, de zinco e outros metais) e podemos crescer em cimento nas Amricas, com novas fbricas, expanses das atuais e at com aquisies. Em suco de laranja temos, por exemplo, um mercado enorme na sia a ser desbravado.

Valor: Como o grupo, financeiramente, deve chegar ao fim de 2018?

Miranda: Chegaremos a um nvel de endividamento, medido na relao dvida lquida sobre Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciao e amortizao], inferior ao alvo de 2 vezes definido em nossa poltica. Sem considerar qualquer recurso [cerca de R$ 8,55 bilhes, alm de 5,67% de aes da Suzano] advindo da transao. Assim, estaremos confortveis em tomar todo o tempo necessrio entre assinatura e concluso do negcio para avaliar como melhor alocar o capital.

http://www.gsnoticias.com.br/noticia-detalhe/todas/celulose-fechou-...

Para participar de nossa Rede Têxtil e do Vestuário - CLIQUE AQUI

Exibições: 270

Responder esta

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço