Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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CEO da Renner: ‘Ninguém quer passar por crise, mas ela nos força a sermos melhores

Fabio Faccio enxerga desafios como oportunidades de crescimento para profissionais e empresas.

 Momentos de crise e desafios — como o de cumprir metas públicas assumidas pelas companhias — tornam os profissionais e as empresas melhores, afirma Fabio Faccio, CEO da Lojas Renner. É que exigem foco, senso de urgência e inovação para avançar, fortalecendo o negócio e suas pessoas.

O difícil é manter esse modo de operar nos momentos em que não há uma crise ocorrendo, explica o executivo de 51 anos, entrevistado desta semana da série Palavra de CEO, que integra o projeto Tem Que Ler, exclusivo para assinantes do GLOBO. Ela mostra como líderes de empresas de diversos perfis, portes e vocação enxergam o profissional do futuro, destacando como cada um monta suas equipes.

Faccio — que ingressou na Renner em 1999 como estagiário e em 2019 chegou à liderança da varejista que soma mais de 600 lojas em Brasil, Uruguai e Argentina — frisa que é preciso aprender com o que a concorrência sabe fazer bem, para evitar o “risco de cair numa zona de conforto”.

Leia, na sequência, quais são os atributos listados pelo executivo como essenciais para uma carreira de sucesso. E, neste primeiro vídeo, de rápidas respostas, veja como o presidente da Lojas Renner lida com erros e ajustes de rota ao longo da carreira.

CONTRATAÇÃO IRRESISTÍVEL: “Um currículo cheio de vivência, porque vivência traz conhecimento na prática”

 

Aquele profissional que tem conhecimento, tem capacitação, tem currículo, mas tem vivência. Um currículo cheio de vivência, porque eu acho que a vivência traz muito conhecimento na prática, na aplicação, não só na teoria. Mas a formação, a teoria também ajudam a dar conteúdo e repertório para aplicar no dia a dia.

Eu diria que quem tem bastante estudo, leitura, conhecimento, mas que pratica, trabalha, e muito, no dia a dia, e tem uma ampla experiência de projetos, experiências positivas ou não, tem muito aprendizado prático. E esse aprendizado prático com conteúdo e com foco em pessoas, em clientes, em time. (Alguém com) foco de como é que se agrega para o time, para o todo, para a companhia e, principalmente, para o cliente final é o profissional dos sonhos.

 — Foto: Luisa Penna / O GLOBO — Foto: Luisa Penna / O GLOBO

 

PARA CRESCER PROFISSIONALMENTE: “A gente tem mais oportunidade, mais alavancagem quando a gente faz o que ama”

 

Para crescer é preciso fazer o que gosta, fazer o que ama, porque para ter vivência, experiência prática, construir uma boa carreira, tem que ter uma dedicação muito forte. A gente tem que se entregar de corpo e alma para realmente construir isso. E viver isso de coração.

Intensidade, dedicação são fundamentais. E é difícil a gente ter intensidade, energia e dedicação se a gente não ama, não gosta do que faz. Vejo pessoas, às vezes, escolhendo carreiras pensando onde tem mais oportunidades, pode ter mais alavancagem. Eu acredito muito que a gente tem mais oportunidade, mais alavancagem quando a gente faz o que a gente ama.

 — Foto: Luisa Penna / O GLOBO — Foto: Luisa Penna / O GLOBO

 

TER UM TIME DE SUCESSO: “Tem que ser diverso, tem que se desafiar”

 

Time de sucesso vem muito de uma formação diversa, e de diversidade em todos os sentidos. Quando a gente tem uma diversidade de formação, de vivência, de gênero, de raça, de idade são vivências diferentes, são modos de se enxergar o mundo diferentes.

A gente consegue ter melhores análises, melhores soluções, melhores propostas para os times, para os clientes, se a gente tem uma variedade de repertório, uma amplitude de conhecimentos. Um time tem que ser diverso, tem que se desafiar, mas tem que ter um objetivo comum. Um time diverso com objetivo comum e de gente competente é o time dos sonhos.

 — Foto: Luisa Penna / O GLOBO — Foto: Luisa Penna / O GLOBO

 

COMO LIDAR COM CRISES: “O ideal é conseguir o mesmo nível de dedicação, de senso de urgência e de austeridade quando não existe a crise”

 

Quando a gente tem períodos de crise ou de escassez é muito claro que a gente precisa ter foco, o time unido, ter um senso de urgência muito forte. Ter ritmo, velocidade, analisar situações, buscar as melhores soluções com muita agilidade, com austeridade. Acho que é claro o que precisa ser feito. O time normalmente se une bastante, se desafia muito.

Lógico que ninguém quer passar por crise, por escassez, mas ela nos força a sermos melhores. Nos força a sermos melhores como pessoas, como indivíduos, como times. É o lado bom de uma situação ruim. O grande desafio é a gente conseguir fazer a mesma coisa quando não tem crise. Ter o mesmo nível de dedicação, de senso de urgência, de austeridade e todas essas questões quando não existe a crise.

Se a gente consegue manter isso, a gente dá salto de desempenho. O grande ponto é, se não tem uma crise, a gente buscar o mindset como se existisse, porque, daí, a gente evolui tanto que está sempre preparado para quando vier outra crise.

 — Foto: Luisa Penna / O GLOBO — Foto: Luisa Penna / O GLOBO

 

COMPETITIVIDADE: “Se não tem concorrência, a empresa corre o risco de cair numa zona de conforto”

 

Concorrência é muito saudável, impulsiona uma empresa a ser melhor. Porque da mesma forma que a gente estava falando de crise, se você não tem uma crise, corre o risco de cair numa zona de conforto. Se tem uma crise, você não tem esse risco. Você é obrigado avançar.

Da mesma forma, se não tem concorrência, a empresa corre o risco de cair numa zona de conforto. Ter bons concorrentes é muito saudável para o mercado, para os clientes e traz força para que as empresas evoluam. É uma coisa muito importante.

Dois bons concorrentes, ambos são melhores do que se não tivesse nenhum dos dois. Acho que a gente tem que olhar para um concorrente como um desafio. Qualquer empresa busca ser melhor do que seus concorrentes e tem o aprendizado. Dificilmente alguém vai ser melhor que os concorrentes em tudo, em 100% das coisas.

Então, ter o estímulo é positivo, de superar a concorrência, de buscar o seu melhor nas suas forças internas, mas também olhar como aprendizado, um benchmark em alguns pontos, para poder melhorar o seu próprio negócio, olhando para o que o seu concorrente faz de bom e poder ser melhor do que você era ontem.

 — Foto: Luisa Penna / O GLOBO — Foto: Luisa Penna / O GLOBO

 

MUDANÇAS CLIMÁTICAS: “Se a gente faz isso bem feito, com inovação, a gente muda o setor, melhora a indústria e economiza”

 

Tem muitas coisas importantes para a gente olhar. Porque a gente vê a situação atual, é presente. A gente está vivendo isso agora. Não é uma teoria de mudanças climáticas. A gente está vivendo na prática muitos desses efeitos. Pela urgência, a importância do tema, acho que a obrigação de cada um de nós como indivíduo e de todas as empresas, governos, organizações governamentais ou não é endereçar bem o tema no que podem fazer. É importantíssimo que tudo o que a gente faz, a gente faça olhando tanto para o resultado que gera agora quanto para o resultado que fica para frente.

A gente busca a superação de expectativas e a certeza de fazer isso de forma responsável, olhando para tudo que a gente faz, os impactos para o meio ambiente, para a sociedade, mitigando impactos negativos, trazendo impactos positivos, liderando o tema, sendo exemplo em muitas questões ambientais.

Demanda muita criatividade. A gente tem compromissos públicos sobre o tema. No nosso ciclo anterior de compromissos públicos, a gente colocou metas que, na época, todo mundo falou: “Puxa, a gente não vai conseguir atingir isso”. E todos nós dissemos: “Se a gente continuar fazendo da forma que a gente faz hoje, não”.

E é para isso. Os compromissos públicos são mais do que metas desafiadoras.Isso move o time a buscar as melhores soluções dentro de casa, com parceiros, nossos fornecedores, universidades. E a gente tem, ao longo da nossa história, superado todos os nossos compromissos públicos, com inovação, criatividade, e trazendo isso de forma sustentável financeiramente também.

Porque, se a gente faz isso bem feito, com inovação, criatividade, pesquisa, a gente muda o setor, a gente melhora a indústria e a gente economiza. A gente faz de forma sustentável do ponto de vista ambiental, mas sustentável também do ponto de vista financeiro. E é por isso que a gente consegue escalar.

 — Foto: Luisa Penna / O GLOBO — Foto: Luisa Penna / O GLOBO

 

DIVERSIDADE E INCLUSÃO: “Se a agenda é provar que se está certo sempre, vamos trazer quem pensa igual. Pode ser mais fácil, mas não é o melhor”

 

Tem de ter um propósito real (de inclusão), de um objetivo comum, uma agenda coletiva, maior. Qual é o melhor para o seu cliente final, para o seu time? Se a gente tiver isso verdadeiramente, a gente busca essa diversidade, porque aí tem as melhores soluções mesmo. Se a agenda é a de provar que se está certo sempre, a gente vai trazer pessoas que pensam igual a gente. E isso pode ser mais fácil, mais confortável, mas não é o melhor. Melhor é o que desafia e constrói soluções melhores.

É um desafio porque quanto mais diverso é, também de opiniões e de vivências, mais nós somos desafiados. Os líderes também. E é muito bacana isso, mas também difícil. Ser desafiado, ser questionado é positivo. Dependendo de como cada líder reage, você dá esse conforto, essa inclusão, essa segurança para que as pessoas possam questionar e contribuir ou não. Quando a gente dá esse conforto, essa segurança é um ciclo virtuoso. As pessoas se sentem à vontade para questionar, contribuir, ajudar, buscar melhores soluções.

E isso atrai mais talentos que vão querer fazer cada vez mais isso. Traz realmente melhores soluções para a empresa. Quem ganha é a empresa, é o cliente, todos nós. Mas não é fácil. E, se não é feito, as pessoas não se sentem incluídas, também não se sentem seguras e não buscam esses times, essas empresas. Fácil, nada na vida é. Mas é muito bom. Se bem feito, é positivo tanto para as pessoas quanto para a empresa.

 — Foto: Luisa Penna / O GLOBO — Foto: Luisa Penna / O GLOBO

 

SAÚDE MENTAL: “Tendo equilíbrio e segurança, a gente tem saúde mental”

 

Acho que é esse equilíbrio. Começa pela pela segurança emocional, da gente poder saber que está contribuindo e que as nossas opiniões são importantes naquele time, se sentir incluído de verdade, se sentir incluída, de poder participar e contribuir e de ter equilíbrio.

Acho que parte da própria pessoa, mas também das lideranças, das empresas, gerar esse ambiente de segurança emocional, de inclusão. Porque acho que a gente tem muitas demandas na vida, de trabalho, de família, de amigos. Tendo equilíbrio e segurança, a gente tem uma boa saúde mental.

Eu acho que o segredo é amar o que faz. Ou aprender a amar o que faz ou buscar fazer o que ama. Eu amo de paixão o que eu faço. Adoro trabalhar com a minha equipe, me reenergiza. Lógico que a gente tem dias mais difíceis, mais desafiadores, mas acho que superar obstáculos, desafios, trabalhar com gente que me desafia também, que é melhor do que eu e que contribui, buscar uma empresa cada vez melhor é um grande prazer. O varejo é muito trabalhoso, demandante, mas prazeroso também.

 — Foto: Luisa Penna / O GLOBO — Foto: Luisa Penna / O GLOBO

 

TRABALHO E VIDA PESSOAL: “A qualidade de vida não é não trabalhar, é você ter um equilíbrio”

 

Eu amo o que eu faço e isso me dá energia para estar com mais qualidade com a minha família, para fazer as minhas coisas individuais. Eu cuido muito bem da minha saúde, faço esportes. Uma coisa me dá mais energia para a outra. Faço competição à vela em veleiros de equipe, com em torno de dez pessoas. Gosto muito de trabalhar em equipe, e no meu hobby, também. Ajuda bastante a descarregar algumas tensões e manter o meu foco. E faço musculação, que também ajuda a manter não só a saúde, mas o foco, a energia.

A gente fala de qualidade de vida ou de dedicação no trabalho, e algumas vezes as pessoas misturam. A qualidade de vida não é não trabalhar, é você ter um equilíbrio entre um trabalho muito intenso e bacana e poder ter alguns momentos de lazer. Quando a gente equilibra bem, uma coisa melhora a outra, melhora sua qualidade de vida, sua saúde, seu trabalho.

Algumas vezes em que eu estava com uma carga de trabalho maior, eu abri mão de alguns momentos que eu precisava para mim, de atividade física ou de tempo com a família, porque eu precisava me dedicar um pouco mais. Quando a gente faz isso um dia ou outro, ok. Mas num longo período de tempo, na verdade, acaba prejudicando o seu desempenho no trabalho. Todas as vezes que eu fiz isso, eu errei.

Quando eu consigo equilibrar, eu trabalho com mais intensidade, consigo entregar mais coisas. Acho que serve para mim. E imagino que sirva para muita gente também.

 — Foto: Luisa Penna / O GLOBO — Foto: Luisa Penna / O GLOBO

 

PARA ATUAR NO VAREJO DE MODA: “Ter o entendimento sistêmico, das inter-relações. Olhar só para uma parte não necessariamente melhora o todo”

 

(Sobre) tudo que a gente quer fazer na vida, a gente tem que entender. Eu, por exemplo, quando vim trabalhar no varejo de moda entendendo um pouco de varejo, não muito, e, na época, quase nada de moda. Mas, a partir do momento que eu escolhi trabalhar nisso, aí eu preciso entender, mergulhar.

Lógico que a gente tem especialistas em cada tema. Nunca vou entender tão bem de design quantos designers nem de estilo quanto estilistas. Mas preciso entender, saber, poder contribuir para poder trabalhar com isso. Cada um tem a sua atividade específica. A gente se soma para fazer o todo. E vai ter que entender para poder também opinar sobre as soluções técnicas ou não que serão discutidas na empresa.

É importante nós termos sempre pensamentos sistêmicos. Estou falando sobre matéria-prima, cadeia de suprimentos, logística, fornecimento. Em qualquer segmento, é muito importante o entendimento sistêmico, das inter-relações, porque ao olhar só para uma parte não necessariamente se está melhorando o todo. Tem que olhar para todas as partes, tentar tirar a melhor solução de cada parte e da interface entre elas, para ter a melhor solução, parte à parte e somada à sistêmica, para o teu cliente, a equipe, para o resultado da sua empresa.

O mundo está cada vez mais interconectado. A gente tem mais possibilidades, soluções, muita ferramenta que facilita, mas muita interconexão que traz um pouco mais de complexidade. O grande ponto é como é que a gente torna coisas complexas em coisas simples, como é que a gente simplifica a vida das pessoas, dos nossos clientes, das nossas equipes? Usando da tecnologia existente, usando das possibilidades de conexões entre empresas, parcerias entre o próprio ecossistema ou ecossistemas.

 

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: “A gente tem a obrigação de usar, e usar bem. Toda essa questão vem trazendo uma avalanche de oportunidades”

 

Tudo o que a gente tem disponível para poder melhorar os produtos para os nossos clientes, a relação com eles, o trabalho das nossas equipes, tudo que a gente tem de ferramenta para evoluir nesse sentido, a gente tem a obrigação de usar, e usar bem. E toda essa questão da Inteligência Artificial vem trazendo uma avalanche de oportunidades, uma enormidade de oportunidades de melhoria, de evolução no trabalho das empresas com as suas equipes na produtividade e, principalmente, na ponta final com os clientes.

Hoje em dia, a gente tem muito mais ferramentas, tecnologia, dados, algoritmos disponíveis, inteligência para evoluir os nossos negócios. E a gente tem a obrigação de usar bem.

A gente está no início de uma era muito importante, onde a Inteligência Artificial, provavelmente, vai ser cada vez mais importante para que a gente possa evoluir ainda mais o trabalho de cada um e das empresas como um todo.

 — Foto: Luisa Penna / O GLOBO — Foto: Luisa Penna / O GLOBO

USO DE REDES SOCIAIS: “A gente tem que estar presente onde os clientes estão”

Eu uso muito mais do ponto de vista da interação como executivo, do meu trabalho, das coisas que a gente faz aqui como empresa do que na minha vida particular.

Mas para o trabalho em si, a inter-relação que a gente tem, acho que as redes sociais trazem muita coisa. Eu uso muito para aprender, para me informar e para comunicar coisas que a gente faz aqui na nossa empresa. Acho que são importantíssimas, e a gente como empresa estar cada vez mais presente.

A gente está no dia a dia sempre e as pessoas vivem presencialmente, mas vivem também nas redes sociais. E a gente tem que estar presente onde os clientes estão.

Por Glauce Cavalcante 

Fonte: O Globo

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