Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Certificados de Recebíveis do Agronegócio despertam atenção de investidores. Em julho, a indústria têxtil Coteminas, apesar de não atuar especificamente no setor, arrecadou R$ 270 milhões

Com demanda em alta, volume dos estoques superou a marca de R$ 1,7 bilhão em setembro e elevação de 217% sobre o valor de 2012

 

Mais do que uma fonte alternativa de financiamento para cooperativas, agricultores, indústrias e empresas ligadas ao setor primário, os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) também se tornam uma opção de rentabilidade para investidores interessados em taxas de retorno que podem entregar até 110% do CDI mais um percentual de juros, com isenção total de Imposto de Renda (IR) sobre os ganhos de capital obtidos no final das operações.

Em alta, os estoques registrados na Cetip superaram a marca de R$ 1,7 bilhão em setembro deste ano. Os dados do balanço mensal de renda fixa ainda mostram que o volume desses certificados aumentaram 217% sobre o valor de R$ 352,38 milhões, apontados há dois anos. A soma dos títulos do agronegócio - de Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA) e CRAs - cresceu 32,8% em relação ao mesmo período de 2013, com a maior evolução proporcional registrada pelas novas emissões de CRAs.

A explicação, além da base incipiente do produto, cuja primeira operação data de 2012, é um aumento de demanda que ainda supera a base em oferta no mercado. Isso ocorre porque a emissão dos certificados é uma exclusividade das securitizadoras que, ao adquirirem carteiras de crédito rural junto a bancos, cooperativas e até mesmo pool de produtores podem estruturar operações de CRAs que serão ofertadas no mercado.

Desta forma, os certificados possibilitam a captação de novos recursos para as instituições credoras realizarem novos empréstimos. Na outra ponta, investidores qualificados (com aplicações mínimas de R$ 300 mil) encontram uma fonte alternativa de rentabilidade.

Por isso, o gerente de relações e projetos da Cetip, Ricardo Magalhães, salienta que o produto financeiro possui características bastante específicas. Segundo o executivo, é preciso considerar que o certificado sempre é fruto de uma securitização. “Em última análise, o que se está vendendo é uma operação de crédito. Quem compra um CRA, adquire a securitização de uma operação de crédito gerada por uma dívida. Neste contexto, o comprador precisa observar aspectos como a procedência do vendedor, as garantias oferecidas e todos os efeitos mitigadores de risco”, explica.

A dica é válida, pois, em caso de inadimplência, ou falta de pagamento do crédito contratado na outra ponta da operação, o investidor final tende a sair prejudicado. Diferentemente de uma LCA, em que se está adquirindo um título de emissão bancária e, portanto, conta-se com a proteção de até R$ 250 mil no Fundo Garantidor de Crédito (FGC), os CRAs são título em que o patrimônio da securitizadora está apartado das garantias. O fato é responsável por exigir maior conhecimento do mercado, mas também por ampliar as rentabilidades, como forma de premiação à exposição aos riscos.

“Também é preciso ponderar que para sair de uma operação antes do prazo estipulado será necessário vender o ativo em um mercado secundário praticamente inexistente. Ou seja, quem adquire um CRA tem de estar ciente de que terá de permanecer com isso por um tempo. Há as amortizações e pagamentos de juros, mas para reaver o investimento principal é preciso esperar toda a duração do papel”, afirma Magalhães.

 

Cenário indica que novos setores devem intensificar a oferta no próximo ano

Participante da primeira operação brasileira de CRA, lançada pela Syngenta, em 2012, o sócio da Tozzini Freire Advogados, Alexei Bonamin, observa uma maior diversidade de setores envolvidos no mercado. Há dois anos, a movimentação dos certificados era bastante associada à produção de soja. No ano seguinte, o escritório que atua em cerca de 90% dos processos de estruturação destes ativos identificou o ingresso das grandes indústrias de fertilizantes, interessadas em negociar os recebíveis de seus clientes.

O movimento deu a largada para a entrada massiva do setor sucroalcooleiro, que culmina com as recentes ofertas da Raizen e da Copersucar em 2014. “Verificamos que as emissões de soja continuam bastante pulverizadas e as com fertilizantes foram ampliadas. Há também um tipo de CRA que tende a ser mais corporativo, a exemplo da Coteminas. O que ainda percebemos é um amplo mercado a ser aberto junto às cooperativas, que são passíveis de se utilizar deste tipo de captação”, revela.

Bonamin ainda chama a atenção para a baixa adesão das companhias de capital aberto e as grandes exportadoras que, em teoria, contariam com um caminho mais livre para a estruturação imediata de novas operações. No entanto, com uma demanda que já supera a oferta de certificados disponíveis no mercado, o advogado projeta o acesso de representantes dos setores de celulose, laranja, carnes e café já para o próximo ano.  “O CRA é lastreado em créditos que qualquer agente que possua atuação no agronegócio pode obter com facilidade. Antes de 2012, apesar de legislação vigente desde 2004, não havia demanda e não foram lançados produtos. Hoje, existe muita demanda e poucos produtos”, destaca.

Para o advogado, no entanto, o principal impulso para a evolução do mercado deve ser dado pela lógica da unificação do agronegócio com o mercado de capitais. “A grande mensagem é essa. Os CRAs têm potencial para se tornarem essa porta de acesso para um setor que representa mais de um terço do PIB nacional, com geração de R$ 1 trilhão em riquezas e que ainda possui baixa penetração no mercado. Este segmento precisa de alternativas de captação e opções de investimento, principalmente, para aqueles que já estão totalmente tomados em crédito rural”, afirma.

 

Emissões em 2014 consolidam novos marcos para o mercado

Em setembro, a securitizadora Gaia Agro concluiu a maior oferta de CRA no mercado Brasileiro. Na ocasião, o certificado emitido pela Raizen, empresa formada pela Cosan e Shell, captou R$ 675 milhões. Com a ideia inicial de captar cerca de R$ 530 milhões, o valor do produto foi ampliado para atender à grande procura identificada desde a publicação do aviso ao mercado. A operação, fundamentada para financiar operações no mercado de açúcar e álcool, já é considerada um marco histórico deste mercado. Sozinha, a emissão superou em 91% o estoque total de CRAs registrado ao longo de todo ano de 2012 (R$ 352,38 milhões).

No entanto, o fator mais promissor, segundo o sócio-fundador do Grupo Gaia, João Paulo Pacifico, é dado pela adesão dos investidores. Isso porque cerca de 2 mil pessoas físicas adquiriram os papéis, com prazo de vencimento estipulado em sete anos. O ativo ainda foi o primeiro a obter rating AAA, a maior nota possível para a operação, o que também justificou uma rentabilidade ajustada em 100% do CDI (valor idêntico à Selic), mas ainda assim atrativa em razão isenção de IR.

Os certificados indexados a taxa semelhante aos juros de referência (11,06%) obtiveram custo de captação estimados em 0,45 ponto percentual a menos do que a média paga por empresas no mercado de dívida local ao alongo do ano. Neste contexto, o executivo divide a modalidade em dois tipos de risco. “Operações como a Raizen, que possuem rating AAA e risco mais baixo, entregam menores rentabilidades; e as operações sem rating, que têm outro tipo de remuneração”, comenta.

Antes disso, o grupo Gaia já havia participado da maior emissão até o momento. Em julho, a indústria têxtil Coteminas, apesar de não atuar especificamente no setor, arrecadou R$ 270 milhões com uma operação que envolveu a previsão de pagamento de algodão - a principal matéria-prima para a produção de tecidos. “Há um potencial enorme e um ambiente de muita demanda por novas emissões”, revela Pacifico.

O executivo lembra que a atuação do grupo, que possui origem na securitização imobiliária, é bastante recente. A opção pelo leque do agronegócio nasceu há apenas um ano. De lá para cá, já foram mais de seis emissões, todas listadas em bolsa. Na semana passada, um novo prospecto foi lançado ao mercado. Desta vez, a Copersucar, também do setor sucroalcooleiro, pretende angariar R$ 82 milhões, divididos em 250 cotas com valor nominal de R$ 328 mil e lançamento previsto para o dia 9 de dezembro.

Na avaliação de Pacifico, a procura em alta é justificada, em parte, pelo interesse de empresas em se tornarem mais conhecidas no mercado. Além disso, segundo ele, a estruturação de um CRA facilita a obtenção de recursos de capital de giro com ampliação de prazos.

“O produto permite flexibilidade de remuneração. No entanto, o fato de não recolher imposto de renda facilita muito o acesso aos recursos, pois qualquer que seja a rentabilidade, ela será liquida. Os custos de captação podem ser bem acessíveis. É claro que não há como concorrer com o crédito rural que é subsidiado. No entanto, na comparação com um empréstimo para capital de giro, os custos são muito mais baixos”, destaca.

FONTE: http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=179518

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