A diferença tributária praticada no mercado nacional é 35% a 40% maior em relação aos produtos importados, segundo o setor têxtil.
O varejista têxtil brasileiro entrou em 2025 com dois desafios macroeconômicos a tiracolo: taxa de juros em 13,25% (e previsão de fechar o ano em 15%, segundo o Relatório Focus do Banco Central) e dólar a R$ 5,69 (e previsão de chegar a R$ 6). Para piorar, ele ainda duela com um inimigo internacional antigo – a China.
Os produtos vindos da Ásia chegam ao Brasil a preços mais baixos que os do mercado nacional. O cenário é marcado ainda pela consolidação de gigantes do e-commerce como Aliexpress, Shein, Shopee e a novata Temu, no país desde o ano passado.
Apesar do cenário interno desafiador, Edmundo Lima, diretor-executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), diz que o macroeconômico não afetará o desempenho do setor neste ano. A perspectiva é positiva para 2025. “A pedra no sapato que mais incomoda neste ano será a China”, afirmou. “A diferença tributária praticada no mercado nacional é 35% a 40% em relação aos produtos importados, gerando uma concorrência desleal.” Confira a entrevista completa.
AGÊNCIA DC NEWS – Como a Selic e o dólar mais alto podem impactar o varejo neste ano e qual a perspectiva para o setor?
Edmundo Lima – Entendemos que essas variáveis encontrarão um ponto de equilíbrio. A gente continua mantendo uma perspectiva positiva para 2025.
Mesmo em relação à inflação, que deve novamente estourar o teto da meta?
A pandemia desestabilizou todas as cadeias produtivas globais. O mundo inteiro teve problema de fornecimento. Algumas questões perduram até hoje. No Brasil, importamos muitos insumos, desde corantes, tecidos e fios. Porém, o setor têxtil foi um dos que conseguiu segurar melhor a inflação.
Pode explicar melhor essa conta?
Quando você pega todo o período já medido de inflação desde o Plano Real a gente tem aí uma média de 700% a 800% [723,97%, segundo o IBGE] de inflação nas indústrias. No setor têxtil, fica entre 300% e 500%, dependendo da categoria de produto [407,98% na média, segundo o IBGE]. A gente percebe que o vestuário, ao longo dos anos, registrou menos aumento de preço. Isso se deve a um esforço da indústria de segurar esses aumentos em relação aos insumos, mas também por uma negociação forte do varejo buscando não levar para o consumidor essa pressão por aumento de custo nos elos de produção.
O mercado têxtil chinês tem impactado a competitividade do mercado brasileiro há pelo menos 40 anos, principalmente no e-commerce. Em 2025, temos outro grande player, a Temu. Como isso afeta o setor?
A gente não tem medo dessa concorrência contanto que as regras do jogo sejam as mesmas.
Especialmente quais regras?
A principal é a carga tributária. Ela é bem menor para as empresas de fora. Hoje, ao avaliar quanto varejo e indústria nacional pagam ao longo dos elos da cadeia produtiva, estudos conduzidos por nós apontam para 80% a 90% de impostos, dependendo do tipo de produto. Já as plataformas internacionais, até agosto deste ano, pagavam só o ICMS, de 17%.
Como ficou com as novas taxas, a das Blusinhas?
A partir de agosto, as plataformas internacionais passaram a pagar mais 20% de Imposto de Importação, o que dá um total de Carga Tributária de 45%, que ainda representa diferença de 35% a 40% do que é recolhido atualmente na indústria nacional.
Além da carga tributária, existem outras diferenças?
Também existem diversas conformidades de produto e normas nacionais que não são seguidas por muitos itens dessas plataformas.
Quais os diferenciais do varejo têxtil nacional?
O varejo brasileiro vem investindo muito em tecnologia, principalmente depois da pandemia, e também desenvolvemos bastante o e-commerce. Com esses diferenciais, a gente não teme a concorrência das grandes empresas internacionais, mas vamos continuar lutando para que as regras do jogo sejam as mesmas.
Qual a importância dos pequenos produtores no varejo têxtil brasileiro?
Praticamente 98% do vestuário brasileiro é produzido por micro e pequenas empresas.
Como as mudanças no Simples Nacional, via Reforma Tributária, podem afetar negativamente a categoria dos pequenos produtores?
Existe um risco e isso vem sendo fortemente discutido junto aos parlamentares. Não tenho dúvida de que o governo e os congressistas brasileiros terão sensibilidade de entender essa questão vinculada às micro e pequenas empresas. Estamos trabalhando para que as empresas tenham todas as condições de se desenvolver. A gente não pode trazer uma Reforma Tributária que coloca em xeque todo o parque industrial brasileiro, porque isso não se reverte da noite para o dia.
Como a Abvtex trabalha o tema da informalidade no setor de moda?
De 35% a 40% de tudo que se comercializa de vestuário no país é feito de maneira informal e com altos graus de irregularidade. É uma concorrência desleal com as empresas estabelecidas regularmente. Isso vale para os camelôs e para a feira da madrugada em São Paulo. Mas não só. Atualmente, todas as capitais têm uma feira, um grande centro de comércio informal. E também tem o comércio informal através das redes sociais em que muitas vezes não se emite nota fiscal. A informalidade também não segue as regras tributárias e ambientais. Isso tudo precisa ser fiscalizado pelo governo para garantir que quem faz tudo da forma correta não saia perdendo.
A Black Friday de 2024 registrou crescimento maior nas vendas em lojas físicas. Isso é resultado de um investimento maior ou um reflexo do comportamento do consumidor?
Existe um investimento das empresas, ora privilegiando mais um canal ou ambos. Mas, principalmente no varejo de moda, as pessoas querem provar as roupas, tocar as peças. É muito forte essa necessidade.
Que investimentos você destaca?
As lojas têm sido cada vez mais um ambiente agradável para comprar e provar os produtos de maneira mais ágil. Novas tecnologias como o self checkout ajudam a criar esse cenário. E a logística também melhorou muito, com entregas bem mais rápidas.
Tudo somado, melhora muito a experiência…
Sim. O varejo vem investindo em uma experiência de compra mais unificada [entre o físico e o digital], reduzindo a fricção nessa relação.
IMAGEM: Abvtex/divulgação
https://www.dcomercio.com.br/publicacao/s/china-ainda-e-a-pedra-no-...
Para participar de nossa Rede Têxtil e do Vestuário - CLIQUE AQUI
Tags:
Bem-vindo a
Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
© 2025 Criado por Textile Industry.
Ativado por