Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Uma série de países localizados nos limites da Europa Ocidental estão a transformar-se em novos centros de produção de vestuário à medida que a China procura subir na cadeia de valor industrial e as marcas descobrem fornecedores localizados mais perto de casa.

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China menos apelativa - Parte 1

O aprovisionamento na China está a ficar mais caro, mas ainda é barato, por isso a opção pelo “made in Marrocos” ou pelo “made in Moldova” não é apenas uma questão de preço.

Esta é uma indústria onde o comportamento volúvel dos consumidores é o principal motor da procura. Os atores têm que ser ágeis para sobreviver contra pesos pesados como a Zara da Inditex, que consegue ter nas suas lojas um vestido semelhante ao de um desfile no espaço de algumas semanas e que conta com 60% da sua oferta como produção próxima ou perto – Europa e lugares próximos.

«Claro que é mais caro para nós para fazer as coisas na Turquia ou na Tunísia do que na China, mas não é muito mais caro, considerando o quanto os salários na China aumentaram, e é muito mais conveniente porque é mais perto. Por isso, temos mais controlo sobre a qualidade», explicou o designer da marca La Perla, Giovanni Bianchi. O fabricante de roupas íntimas passou a produção da sua linha mais acessível, Studio La Perla, da China para a Turquia e para a Tunísia no ano passado e também mudou o aprovisionamento da sua roupa de cama da China para Portugal.

A marca estima que, por cada 10 euros que gasta na China em mão-de-obra, para o mesmo trabalho, paga 15 a 16 euros na Tunísia ou na Turquia – por isso, a China continua a ser mais barata pelos seus cálculos. Mas isto está a mudar.

O índice nacional salarial da China tem vindo a aumentar, em média, 15% ao ano nos últimos cinco anos. O Institut Francais de la Mode estima que a remuneração mensal nas áreas costeiras da China subiu dos 240 euros em 2005 para 400 euros em 2011. Este valor contrasta com as taxas de remuneração atuais de 160 euros na Tunísia, 152 euros em Marrocos e 200 euros na Moldávia.

As exigências acrescidas por parte das empresas chinesas também geram dúvidas adicionais. As casas de moda francesas Jean-Charles de Castelbajac e Barbara Bui e o grupo de pronto-a-vestir Etam deslocaram recentemente parte da sua produção para mais perto de casa. Todos afirmam que os fabricantes chineses aplicam maior pressão para que sejam colocadas encomendas maiores, o que aumenta o risco de stocks não vendidos, resultando em descontos que podem prejudicar a imagem da marca.

«A relação qualidade/preço que temos na China já não é a que queríamos», afirmou Celine Lopes, que supervisiona a produção na Jean-Charles de Castelbajac e mudou recentemente a produção para a Hungria.

A casa de moda Barbara Bui deslocou a produção para a Hungria, Bulgária, Roménia e Turquia em 2010. «A distância e a barreira do idioma na China sempre nos dificultaram o controlo da qualidade», indicou o vice-presidente executivo, Jean-Michel Lagarde. «Podemos impor mais facilmente a nossa maneira de fazer as coisas quando trabalhamos com os fabricantes na Europa meridional e oriental», acrescentou.

A Etam tem 20.000 funcionários na China, mas anunciou recentemente uma deslocação de parte da sua produção para a Tunísia, Marrocos, Portugal, Grécia e Turquia. «Isto é para aumentar a nossa capacidade de reação e levar as coisas mais rapidamente ao mercado», referiu o diretor Laurent Milchior.

Motivadas pelo aumento dos salários, redução das margens de erro dos retalhistas e reposições mais rápidas e frequentes dos produtos, várias marcas estão a optar por colocar encomendas mais próximo dos mercados de destino, fomentando uma deslocação da produção para Ocidente.

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China menos apelativa - Parte 2

Conforme referido na primeira parte deste artigo (ver China menos apelativa - Parte 1), há uma série de países em torno dos limites da Europa Ocidental que estão a tornar-se novos centros de produção em detrimento da China. Mas até que ponto irá manter-se esta tendência?

Segundo Anne-Laure Linget, porta-voz de um grupo comercial francês que representa lingerie e malhas, os fabricantes chineses tornaram-se mais difíceis no pagamento, horários e volumes de produção desde que o encerramento de fábricas na recessão de 2008/2009 deu maior poder de negociação aos que permaneceram, permitindo-lhes escolher os seus clientes. «As empresas chinesas preferem encomendas (lingerie) provenientes dos EUA, porque eles são menos complicados do que os europeus, as marcas norte-americanas usam modelos mais básicos e precisam de volumes maiores do que as marcas europeias», explica Linget, acrescentando ainda que algumas marcas descobriram que os fabricantes na Europa de Leste, Tunísia e Turquia manifestaram mais interesse em participar na elaboração do processo de fabrico do que as suas congéneres chinesas.

A mudança também é, em certa medida, um subproduto de uma política deliberada e centralizada do governo chinês. A principal economia da Ásia quer continuar a subir na cadeia de valor no sentido de uma indústria transformadora que requer competências e tecnologias. «No mais recente plano quinquenal, Pequim pretende manter apenas as indústrias transformadoras de alto valor acrescentado e isso traz custos como um todo», afirma Paul Tang, economista chefe do Bank of East Asia.

A Ásia continua a ser o centro de produção da indústria da moda europeia, o que representará 75% do aprovisionamento em 2012, de acordo com um estudo realizado pelo Institut Français de la Mode. Segundo esse estudo, entre janeiro e setembro do ano passado, o valor das encomendas da China cresceu 8% em relação ao ano anterior, para os 23 mil milhões de euros, superando em muito os maiores atores mais próximos, como Marrocos, onde as encomendas cresceram 10% para os 1,7 mil milhões de euros.

Mas o estudo revela que a moda francesa e as marcas de lingerie tinham desenvolvido um forte interesse em trabalhar com fabricantes búlgaros e que mais de um quarto de toda a lingerie francesa é atualmente produzia na Tunísia e Marrocos. O estudo destaca ainda a Ucrânia (onde encontram-se marcas como: Hugo Boss, Quiksilver e FCUK), Roménia (Harrod’s, Zara e C&A), Bielorrússia (Calvin Klein, DKNY e Next) e Moldávia (Dolce & Gabbana, Guess, Armani e Cavalli).

Michel Demurs, gerente de uma empresa na Tunísia que emprega 700 trabalhadores e produz sutiãs e roupa de banho para a La Perla e outras marcas, preocupa-se com o custo da matéria-prima e com o impacto da Primavera Árabe, que terá desencorajado alguns clientes. Mas se a tendência continuar, estas preocupações poderão revelar-se menores e poderá não ser apenas a confeção a instalar-se no país.

Stanley Lau, vice-presidente da Federação das Indústrias de Hong Kong, com cerca de 3000 empresários chineses, estima que os custos de produção na China subiram entre 20% e 30% nos últimos dois anos. Lau diz que o país continua muito forte na indústria de base com formidáveis clusters industriais em regiões como o delta do Rio Pérola, mas a concorrência está a aumentar. «Os investidores estrangeiros já não estão a tratar a China como a única opção (…) Eles estão a considerar outros factores como a proximidade com o mercado, mão-de-obra e cadeia de aprovisionamento», acrescenta.

Mas até onde no Ocidente as fábricas poderão deslocar-se? «Já vimos algumas empresas criarem fábricas em Detroit», responde Lau. «Isto tornou-se uma tendência», conclui.

Fonte:|http://www.portugaltextil.com/tabid/63/xmmid/407/xmid/40817/xmview/...

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