O milho é um dos cereais mais cultivados do mundo e é extensivamente utilizado como alimento humano ou para ração animal, mas os cientistas criaram uma nova utilidade para ele, transformando-o numa nova fibra artificial para a indústria da moda. Neste post mostrarei alguns novos tecidos feitos do milho como uma alternativa ao uso do poliéster e que tem vários benefícios ecológicos.
A fibra de milho é uma fibra feita pelo homem, que tem todas as vantagens dos materiais sintéticos, várias propriedades de produtos naturais, tais como algodão e lã além de ser renovável porque não vem de um produto fóssil. A produção de polímero em fibra de milho envolve o processo de fermentação, destilação e polimerização de açúcar simples da planta (glicose de milho) numa escala industrial. Em primeiro lugar, os açúcares são fermentados.
Após a fermentação, os produtos são transformados em um polímero de alto desempenho chamada de poliácido láctico, que pode ser transformado em fibra de milho. Produzido pela NatureWorks, o Ingeo é a primeira e única fibra artificial do mundo feita utilizando o açúcar do milho e é 100% biodegradável. Além de hipoalérgico, aconchegante e confortável, a fabricação de fibra Ingeo requer cerca de metade da energia necessária para fabricar poliéster e emite 50% menos gases de efeito estufa.
Do milho pode-se estrair o açúcar para criar a fibra como também a palha pode ser utilizada para criar tecidos biodegradáveisO Ingeo é um bioplástico revolucionário obtido através do açúcar da planta e com ele pode-se criar produtos inovadores biodegradáveis como embalagem de alimentos frescos, eletrônicos, filmes flexíveis, cartões, não-tecidos, tecidos de vestuário e tecidos para o lar. Da mesma forma que se obtêm a fibra do milho, pode-se utilizar também a cana-de-açúcar. Veja mais detalhes de como é feito o processo no site da NatureWorks.
Este tecido não necessita de petróleo como ingrediente, e a glicose do milho utilizado é obtido a partir de culturas já cultivadas para outros fins (o Ingeo requer menos de 0,5% dessas culturas, não deixando nenhum impacto sobre a disponibilidade ou aumento dos preços da comida), de modo que não há necessidade de disponibilizar mais terra para plantar milho para fabricar o tecido.
Tecido feito de IngeoQuando um item Ingeo chega ao fim da sua vida, ele pode ser eliminado com zero impacto sobre o meio ambiente. Existem várias opções, incluindo compostagem e incineração limpa. Este tecido é bonito, macio, e tem ótimo desempenho para moda sportswear. O tecido é anti-bacteriano, combate odores e suor e seca muito rapidamente tornando-o ideal para uso ativo. É hipoalergênico para aqueles com pele sensível, e anti-rugas para aqueles que odeiam passar a ferro. Parece mais um tecido milagroso!
O engenheiro têxtil Yiqi Yang que faz parte de uma equipe do departamento de tecidos e design de moda da Universidade de Nebraska, acredita que o milho pode em breve competir com as fibras naturais do algodão e da lã. Num vídeo criado pela QUEST, uma série multimídia com um novo foco em explorar a ciência da sustentabilidade, a equipe explica o processo de separação das fibras de lignocelulose (biopolímeros complexos e lenhosos) a partir da palha do milho para transformá-lo em fio.
Casca do milho sendo processada quimicamente para se tornar o fio de milho“Se você olhar para a história, os tecidos são a agricultura. E o estado de Nebraska é o lugar que tem um monte de milho “, diz Yiqi Yang, um engenheiro de bioquímica na Universidade de Nebraska.
As fibras naturais como algodão, linho e lã dominaram 80% do mercado da moda até meados de 1960. Desde então, tem havido uma mudança no sentido dos sintéticos à base de petróleo, como o poliéster, elastano e nylon, que são mais baratos de fabricar e agora ocupam 60% da quota do mercado global.
Mas essa quota pode aumentar ainda mais como o preço super baixo do barril do petróleo o que torna o poliéster ainda mais atraente para a indústria têxtil. De acordo com o relatório da QUEST, a demanda anual do mundo para fibras têxteis está atualmente em 85 milhões de toneladas, aproximadamente o dobro que era a 15 anos atrás.
Mudança do consumo global entre fibras naturais e sintéticas entre 1960 e hoje.Não só o milho pode ajudar a preencher as necessidades do mercado de massa, Yang diz que as cascas têm uma capacidade de estiramento muito melhor do que quaisquer outras fibras de celulose, tornando-o facilmente competitivo com outras fibras, tais como o poliéster. Segundo o engenheiro têxtil Yiqi Yang:
“O consumo irá dobrar novamente nos próximos 10-15 anos, assim como podemos obter muito mais fibras para atender as demandas ilimitadas da humanidade? Se usarmos mais terra cultivada para plantar novas fibras, teremos menos terra para produzir alimentos. Não temos disponibilidade de terra para fazer as duas coisas, então a melhor opção é cultivar uma planta para ambos os usos.”
Poderemos ver em breve, tecidos denim fabricados exclusivamente com fios de milho.As 400 milhões de toneladas de resíduos anuais das fazendas de milho poderiam ser utilizadas para alimentar a indústria de fios de milho pois vão exigir enormes quantidades de cascas. A palha de milho, caule, espigas e folhas são feitas de lignocelulose, biopolímeros complexos e lenhosos que são distribuídos em toda a planta. Muitas das fibras nos caules e folhas são demasiado grosseiros para se fabrica tecidos.
Mas as fibras mais finas estão incorporadas nas cascas para proteger os grãos. Para tornar as cascas úteis para tecidos, Yang e seus pesquisadores separaram as fibras de lignocelulose das cascas em um processo bioquímico patenteado. O engenheiro têxtil continua com suas pesquisas para tornar viável o quanto antes a produção em massa de tecidos feitos de cascas de milho. Veja mais detalhes no site da QUEST.
E para completar a saga do milho na indústria da moda, um dos maiores produtores integrados de intermediários químicos, polímeros e fibras do mundo, a Invista, detentora da marca Lycra, apresenta o único fio de elastano bio-derivado comercialmente disponível em todo o mundo.
Aproximadamente 70% do novo fio Lycra é proveniente de uma matéria-prima renovável que vem de uma dextrose (glicose) derivada do milho. Devido ao uso desta fonte renovável, a produção do fio Lycra bio-derivado emite menos carbono do que a fabricação de elastanos que usam materiais tradicionais.
Com o novo material, a indústria vai prover ao varejo e fabricantes de tecidos elastizados uma opção de fio de elastano que pode impactar a avaliação de todo o ciclo de vida do tecido e da roupa. Ainda segundo a Invista, não é necessário fazer qualquer adaptação nos tecidos, no processo de finalização ou estamparia.