Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Clô Orozco: sua morte priva nossa moda de uma das poucas estilistas de verdade

Ela nunca teve medo de andar pela contramão. Onde a moda quis babados supérfluos, ela foi linhas retas e estampas geométricas. Quando os outros derrapavam no corte ou cediam a um tecido ruim, ela foi precisão e intransigência - fazia questão de qualidade. Assim era Clô Orozco, a criadora da Huis Clos, marca feminina nascida em 1977 e que construiu um estilo inconfundível. Na quinta passada, ela foi encontrada morta num jardim ao lado do prédio onde morava, em São Paulo. Desapareceu uma das poucas estilistas que mereciam esse título.

Clô pesquisava, observava e transformava referências em roupas. Roupas que eram facilmente reconhecíveis: sempre elegantes, mas funcionais e, sobretudo, originais. Originais no melhor dos sentidos. Ela nunca se rendia às artimanhas sazonais do mundo fashion, que engole e empastela tudo. Preferia seguir seu caminho sem deixar de ser moderna.

Parte da elite da moda brasileira, a estilista sabia como ninguém usar a moda a favor da mulher. Principalmente da mulher madura, dona de uma beleza especial e que, muitas vezes, não mais comporta fendas ou decotes exagerados. Clô recomendava, por exemplo, que toda mulher acima dos 50 cobrisse os braços - que denunciavam a idade. "Mas até no calor?" Sim, desde que a se escolhesse uma malha fina, preferencialmente de seda e com leve transparência. A elegância ficaria preservada e também o frescor. Lição preciosíssima - e não foi a única.

Roupas justas demais, resvalando na vulgaridade, nunca fizeram parte do seu vocabulário de moda. Pelo contrário: dele faziam parte o melhor da arte, da arquitetura e da história da moda. E isso não era usado para criar roupas conceituais, daquelas boas de ver, mas ruins de usar. Clô sabia que a moda precisa gerar desejo. E ela gerou, ajudando a lapidar o estilo de inúmeras consumidoras que não encontravam essa "mão" boa para roupa em outra marca nacional.

Estilista generosa, defendia seus pares e reconhecia a qualidade na concorrência. Por ocasião da morte de Maria Cândida Sarmento, criadora da marca Maria Bonita, em 2002, Clô chamou minha atenção, durante uma entrevista sobre tendências de moda. Ela não se conformava que alguém perdesse tempo falando de frivolidades, sendo que a "grande Maria Cândida havia morrido". Tinha razão.

Ao ausentar-se do SPFW, ela deixou um buraco que não foi preenchido por nenhum outro estilista. O desfile da coleção da Huis Clos - ou de sua marca jovem, a Maria Garcia - era um "respiro" de criatividade, uma luz de que a moda brasileira tinha sim gente talentosa que não se contentava em copiar as grifes internacionais.

Tanta personalidade não teve um custo baixo. Com lojas fechando e reestruturação na empresa em andamento, a marca Huis Clos não passava por um bom momento. Talvez tenha sido esmagada pelo gosto massificado trazido por marcas estrangeiras que aportaram por aqui nos últimos anos. A sua morte precoce cala um espírito que sempre brigou por uma roupa que vestisse sem fantasiar e que emoldurasse o corpo sem fazer dele um manequim de plástico. Clô foi a nossa Chanel.

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