Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Após queda da cultura cafeeira, a cidade descobriu na confecção sua nova vocação

 

Presidium: a grife é responsável por 73% do faturamento do Grupo Guermar.

Foto: João Araujo

 

Colonizada por imigrantes italianos, durante muito tempo ela já foi a principal produtora brasileira de café tipo robusta, mas desde 20 de janeiro de 2012 Colatina, a “Princesinha do Norte”, como é popularmente conhecida, se tornou oficialmente “A Capital do Polo de Confecções do Estado do Espírito Santo”, de acordo com a Lei 9.786, assinada pelo governador Renato Casagrande e publicada no Diário Oficial do Estado. Além disso, é um dos maiores polos brasileiros de confecção.

“A história da confecção em Colatina é muito singular, pois tal atividade industrial surgiu por parte de um alfaiate que, ao se instalar num pequeno cômodo com apenas uma máquina de costura e muito boa vontade, deu origem ao que é hoje o que podemos chamar de polo produtivo de confecção”, revela Carla BortolozzoBassetti, gestora de projetos do Sebrae-ES.

Apesar de Vila Velha possuir maior número de empresas, é Colatina quem possui o maior faturamento do setor.

“As primeiras confecções de Colatina surgiram ainda na década de 1970, voltadas ao mercado nacional, e funcionavam com uma estrutura familiar. Com produtos de qualidade e características semelhantes, as confecções se uniram, sempre trabalhando de forma integrada. Após a criação do Sindicato das Indústrias de Vestuário de Colatina e Região (Sinvesco), o setor se organizou, ganhou apoio e cresceu até se tornar referência no Espírito Santo e no Brasil”, conta Marcos Guerra, presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), e do Grupo Guermar, detentor das marcas Presidium, Genius, Donna Linda e AZ Jeans.

Essa vocação para o setor confeccionista na cidade despertou nos anos 1980, depois da queda da produção cafeeira, quando houve uma grande migração de trabalhadores do campo para a cidade. “Apesar de manter o café na pauta como produto gerador de renda, o município viu crescer o setor industrial. No final da década de 80, possuía 337 empresas e hoje são quase 500 ativas”, diz Fabio Zanetti, atual presidente do Sinvesco, que atua na região desde 1984, primeiro como associação e depois como sindicato do setor.

Se somadas às cidades vizinhas, como São Gabriel da Palha, principalmente, São Domingos do Norte, Marilândia, Linhares, Vitória, Vila Velha, Baixo Guandu e Nova Venécia, no noroeste do Estado, chegam a 700 empresas, entre confecções, facções, lavanderias, estamparias e outras que fazem parte dessa cadeia, composta majoritariamente de micros e pequenas. Entre as empresas âncoras da região, podemos destacar Cherne (Cortigiani), Merpa (Ilícito) – essas duas as primeiras a se estabelecer em Colatina–, Grupo Guermar, Grupo PW Brasil, Amabilis, Keron, CIA Jeans, Incovel, UOT, Phama,Vestbrasil (Lei Básica), Triatrori, entre outras. Em São Gabriel da Palha, sobressaem Rotta Club, Sgrima e DM Marques.

Na década de 1990, com a abertura econômica no país, a indústria confeccionista do Espírito Santo passou a investir em desenvolvimento tecnológico, adquirindo novas máquinas, aprimorando a qualidade dos processos e abrindo novos mercados, com Vila Velha e Colatina encabeçando essas ações.

Entre os cerca de 2 milhões de peças de vestuário produzidos mensalmente na região, o jeans é o carro-chefe, com 80% dessa fatia, seguido de roupas de malha e sociais, especialmente masculinas. “De 2012 para 2013, houve um crescimento de 27% na produção de itens no município de Colatina, o que demonstra o potencial de crescimento da indústria de vestuário”, afirma Marcos Guerra.

Mesmo com o jeans em destaque, a malharia vem ganhando cada vez mais espaço na região, e Carla Bassetti faz uma ressalva: “Já não se pode mais pensar em Colatina sem incluir o segmento de malharia. Faz-se de tudo, moda feminina, masculina, infantil, streetwear. O forte é modinha, as empresas estão investindo em marca própria e design diferenciado. Existem também muitas facções na cidade que atendem empresas locais e grandes marcas nacionais”.

De acordo com a Findes, os estados da região Sudeste do país são os mais próximos e ativos para a indústriaconfeccionista de Colatina, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, e algumas marcas já atuam no mercado internacional. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Colatina exportou US$ 218.348 entre janeiro e julho deste ano, tendo como principais destinos EUA, Alemanha, México, Rússia, Itália, Síria, Argentina, Bélgica, Chile, Eslovênia e Líbano. “O polo de confecções da região é o que possui maior participação no PIB do estado e gera 16 mil empregos diretos. São números que representam a importância do setor para a economia estadual e para os municípios da região, que também representa 85% das vendas do vestuário capixaba”, destaca Guerra.

 

INVESTIMENTOS E ORGANIZAÇÃO

 

Para que um negócio cresça e se estabeleça, é necessário, além de boa vontade e planejamento, investimento e organização, bem como uma consultoria focada nas necessidades locais. E é isso o que tem feito o Sebrae no Espírito Santo, especialmente com o Arranjo Produtivo Local (APL) comandado por Carla Bassetti. “Hoje, os empresários de micro, pequena ou grande empresa já têm outro comportamento graças à atuação do Sebrae com seus diversos projetos, como o Arranjo Produtivo Local, que tem preparado o empresariado para enfrentar o mercado cada vez mais competitivo, o que possibilitou colocar a cidade de Colatina entre os grandes centros de moda do Brasil”, diz a gestora de projetos do Sebrae-ES.

Carla conta que a entidade começou a articular esse projeto de orientação e gestão do setor confeccionista em Colatina no ano de 2004, visando fortalecer as micros e pequenas empresas com base na metodologia da Gestão Orientada para Resultados (Geor), que tem como finalidadesaumentar a competitividade e sustentabilidade dos fabricantes, faccionistas e empreendedores do APL, por meio de vendas e ocupação de mãodeobra; ampliar o volume de peças vendidas para o mercado interno em 10% a cada ano; e ampliar o número de postos de trabalho do APL em 5% ao ano. A informalidade ainda é grande entre os microempresários, mas esse quadro vem mudando com a atuação do Sebrae e do Sinvesco na área.

A qualificação da mão de obra também é outra questão que está sendo trabalhada. Em 20 de fevereiro deste ano, foi inaugurado o SenaiCentromoda Colatina, com uma fábrica-conceito do setor têxtil construída numa área de 775m2, que forma alunos prontos para o mercado de trabalho simulando o ambiente industrial real, usando equipamentos de ponta.“Estamos licitando a construção de uma unidade Centromoda em Vila Velha, na região da Grande Vitória, que também beneficiará a indústria de confecção do município. Ao todo, investiremos até 2017 mais de R$ 150 milhões no Sistema Findes, com 84% desse valor destinado à educação”, informa Marcos Guerra. Outra ação da federação é o programa Inova Findes, que divulga boas práticas de gestão e estimula a criatividade no setor.

 

VOCAÇÃO PARA A MODA

 

Missbella: a marca conquista o público jovem feminino com sua imagem cheia de energia.

Foto: Divulgação

 

O DNA da moda corre mesmo nas veias dos capixabas, e Colatina é um grande reflexo disso, com alguns dos maiores conglomerados nacionais instalados por lá, como o Grupo PW Brasil e Uniroupas, detentor das marcas Missbella, MissbellaPrincess, Vide Bula e Vide Bula Jr, além da Lei Básica, a primeira a surgir.

“A história do grupo começou lá atrás, há 30 anos, com dona Lourdes, minha mãe, e duas máquinas de costura. Ela trabalhava em casa mesmo, costurando para algumas clientes. Depois, começou a viajar para São Paulo e trazer roupas também, além de costurar. Até então, era só ela. Com o passar do tempo, nós, os filhos, começamos a entrar no empreendimento e a buscar novas oportunidades. Foi aí que veio nosso primeiro grande negócio, em parceria com a Dijon: éramos responsáveis por todo o desenvolvimento, produção e comercialização dos jeans da marca. Assim, ganhamos know-how para lançar nossa primeira marca, a Lei Básica. Contudo, chegou um momento em que senti a necessidade de empreender sozinho e, nessa época, nasceu a Lei Básica Teen&Kids. Com seu crescimento, surgiu um novo mercado, e foi criada a Missbella. Por último, veio a aquisição da Vide Bula, em 2009”, resume Paulo Vieira, diretor-presidente do grupo.

Uma potência do fastfashion nacional, o PW Brasil produz, anualmente, cerca de 1,5 milhão de peças, comercializadas em três coleções. Todo o processo de criação é interno, e dentro de seu parque industrial trabalham 500 funcionários diretos produzindo 30% do volume total, complementado com 80 empresas prestadoras de serviços, a maioria no entorno, que respondem por 60%. Os últimos 10% são preenchidos por importação.

“Além das duas unidades industriais hoje em operação, a PW Brasil e a Uniroupas, estamos montando uma nova unidade produtiva para 200 funcionários em Baixo Guandu, cidade a 40 km de Colatina, e que entrará em operação no final de 2015. Isso para conseguirmos atender da melhor forma possível e com mais agilidade nossos mais de 2 mil clientes, em sua grande maioria lojas multimarcas espalhadas por todo o território nacional”, adianta Paulo, que afirma ainda que seu plano para 2016 é aumentar de 30% a 50% a produção interna com essa nova unidade.

A questão ambiental também é um dos pilares da empresa, que reaproveita toda a água utilizada em seus processos de produção, com uma estação de tratamento de água bruta e outra de tratamento de efluente industrial, além de separar e destinar todos os resíduos sólidos e possuir uma arquitetura que permite que 40% da iluminação seja natural.

O Grupo Guermar é outro de grandíssimo porte instalado na região. De estrutura familiar, foi fundado em 1978 e está há 35 anos no mercado, atuando nas áreas de desenvolvimento de produto, industrialização de roupas, lavanderia e tinturaria, em unidades próprias.

“A Genius foi uma das primeiras marcas originadas pelo Grupo Guermar. Desde sua criação, ficou conhecida como ‘o jeans que veste bem’”, conta Marcos Guerra, presidente doGuermar.

Criada em 2009, a marca AZ Jeans é a mais nova, com estilo mais clean e modelagem básica e versátil. A responsável por 73% do faturamento de todo o grupo é a Presidium, há 15 anos no mercado, que tem o jeans como produto principal, mas também produz peças de malharia, alfaiataria, linha praia e acessórios, tanto femininos quanto masculinos.

O Grupo Guermar conta hoje com 750 funcionários em seu quadro, diretos e indiretos (15% são terceirizados), produzindo em torno de 780 mil peças ao ano – 97% para o mercado interno e 3% para privatelabels no mercado externo, sendo uma delas para os EUA, onde faz desde o processo de criação e desenvolvimento de produto até a lavanderia e a entrega final. De olho em seu crescimento, o Grupo Guermarestá focado na ampliação da participaçãoda AZ Jeans no mercado brasileiro e no projeto de expansão de franquias da Presidium, que possui atualmente três lojas próprias no Espírito Santo.

 

Amabilis: moderna e inspirada nas sutilezas do universo feminino.

Foto: Studio Naipe

 

A Amabilis é outra marca que vem despontando no cenário de moda nacional. Os designers e sócios da grife, Luiz Guidoni e Robson Santos, haviam feito algumas tentativas de confecção de roupas masculinas e, com as sobras, as peças femininas. Contudo, essas eram vendidas mais rapidamente, proporcionando um fluxo ágil de reposição de tecidos. Nascia assim, por acaso, há 15 anos, a Amabilis, grife de moda feminina cujo nome foi inspirado na bisavó de Guidoni, que se chamava Amabile.

“Nós nunca havíamos sonhado ter uma empresa de moda, muito menos voltada para o feminino. Vínhamos de uma área totalmente diversa e a marca surgiu quase como uma brincadeira, sem nenhum capital inicial, somente com a vontade de trabalhar. À medida que começávamos a entender um pouco mais, investíamos mais também. Fomos errando muito, acertando e entendendo melhor o mercado e o que o público desejava. Depois que começamos, não queríamos construir uma marca que durasse apenas cinco anos, por isso sempre trabalhamos focando na qualidade das peças e tendo como parceiros os melhores fornecedores”, explica Guidoni.

O estilo da marca destaca as sutilezas do universo feminino, com estampas exclusivas e a modelagem que prima pelo excelente caimento, usando a técnica de moulage. Hoje, a Amabilis conta com 70 funcionários internos e produz 7 mil peças mensais, distribuídas em 80 multimarcas pelo país, cinco franquias e uma loja própria em Colatina. Entre seus planos, estão a abertura de novas franquias e a análise de outros pontos de atacado no Brasil.

 

LAVANDERIAS

 

Marco Britto, sócio da GB Customização.

Foto: Silvia Boriello

 

Colatina também se tornou uma terra fértil no setor de lavanderia industrial, devido à sua alta produção de jeans. Segundo o presidente da Findes, primeiro surgiu a necessidade de atender a demanda das indústrias da região, mas, com o crescimento e fortalecimento do setor, as lavanderias começaram a prestar serviços a grandes marcas nacionais, especialmente do eixo Rio-São Paulo.

Entre elas, uma das que mais se destacam é a GB Customização, fundada em 1984 e atualmente com quatro unidades industriais, sendo duas no Espírito Santo e duas em São Paulo, próximas ao bairro do Brás. “Começamos com dois colaboradores e 200m2, lavando apenas para Colatina. Após 12 anos, já possuíamos cem colaboradores e nos tornamos referência no estado. Em 2009, com a entrada de SilfarleyPertely como sócio do grupo, a GB se solidificou. Hoje, temos mais de 400 colaboradores e produzimos cerca de 6 milhões de peças customizadas por ano. Somos referência nacional e conhecidos no mundo todo como destaque em nosso segmento”, afirma Marco Britto, sócio-diretor da GB.

Ele conta que seu serviço não é exatamente de lavanderia, mas, sim, de customização, possuindo um departamento interno com 30 estilistas que trabalham no desenvolvimento e inovação de efeitos e beneficiamentos, exclusivamente para jeanswear, buscando tendências e referências em feiras setorizadas no mundo inteiro. O resultado é um trabalho exclusivo parao público-alvo e ação mercadológica de cada cliente.

Marco diz que a expansão das unidades é constante e planejam adquirir e construir novas unidades, além deabrir franquias. “Recentemente, instalamos a Black Dragon, uma máquina de gravação a laser supermoderna, a primeira do continente americano”, conta. A empresa também investe em máquinas atualizadas que utilizam menos água, químicos e energia elétrica, além de consultorias especializadas, a fim de reduzir o impacto ambiental.

 

DE OLHO NO FUTURO

 

Outra recente descoberta da região é a venda no atacado. Um polo confeccionista tão forte precisava melhorar sua forma de distribuição e por isso, em 2011, nasceu o primeiro shopping atacadista do Espírito Santo, o Moda Brasil, que foi palco da edição business do evento Vitória Moda deste ano e que semanalmente se renova com produtos exclusivos, atraindo lojistas e revendedores de todo o país, principalmente de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. São mais de 70 lojas de moda feminina, masculina e lingerie, que vendem, em média, 1 milhão de peças por mês.

Parte do Grupo Moda Brasil, o shopping ganhará, em breve, um “irmão”, por assim dizer: o Shopping Moda Brasil Premium, um complexo atacadista com 50 mil metros quadrados de área total, 167 lojas e restaurantes, lanchonetes e estacionamento coberto, com inauguração prevista para o fim de 2014.

Segundo Julio Cesar Machado Bezerra, diretor administrativo do Grupo Moda Brasil, essa é uma aposta que consolida a cidade de Colatina como o principal polo de compras por atacado do Espírito Santo e o destaca no cenário nacional. “Será mais um canal de distribuição para os confeccionistas comercializarem suas mercadorias em sistema de atacado. Algumas lojas do Moda Brasil também estarão presentes no novo empreendimento”, conta Bezerra.

 http://www.costuraperfeita.com.br/edicao/28/materia/mercado.html

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