Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Por Vanessa Barone | Para o Valor, de São Paulo
DivulgaçãoVestido da grife Têca e costume com saia do estilista Alexandre Herchcovitch: beleza clássica para elas e ousadia para eles deram o tom da semana de moda

Ao completar 40 anos de carreira, a estilista Gloria Coelho declarou que entre os seus sonhos ainda não realizados está o de criar uma roupa que funcionasse como um arquivo infinito de imagens. "Ela seria como uma espécie de iPod e armazenaria todos os desejos de moda das mulheres", diz a estilista.

Com quatro décadas de experiência no mundo do estilo, Gloria sabe que quer o impossível. Satisfazer o consumidor a cada temporada não é uma ciência exata. É questão de sensibilidade para encontrar o "clima" do momento e saber interpretá-lo.

Pelo que mostraram os desfiles de verão 2015, apresentados na semana passada durante a São Paulo Fashion Week, o tempo está para delicadezas. Talvez influenciado pela proximidade do início da Copa do Mundo, o clima é de boa vontade com as coisas do Brasil, com a beleza clássica, com o calor tropical.

E essa valorização da "cor local" é tida como acertada pelos analistas de tendências mundiais. Para a holandesa Li Edelkoort, do escritório de pesquisa de tendências Trend Union, de Paris, os criadores brasileiros devem expressar o que os motiva intimamente - e não ficar buscando referências estrangeiras.

DivulgaçãoDa esq. para dir., maiôs das marcas Movimento e Adriana Degreas: tops chiques para ir da praia ao restaurante.

Em entrevista ao portal FFW, do SPFW, a pesquisadora declarou que para ser global é preciso, antes de tudo, ser local. "Yves Saint Laurent era absolutamente parisiense, Ralph Lauren é completamente americano, Yohji Yamamoto é absolutamente japonês. Então quem tiver raízes, como eles, é capaz de conquistar o mundo", diz Li. Para ela, é preciso deixar de lado o deslumbramento pelo Velho Mundo e olhar para as riquezas que existem aqui.

Durante a SPFW, algumas coleções encontraram um jeito de destacar a beleza do trabalho artesanal oriundos do Norte e do Nordeste.

O aspecto "feito à mão" pode estar somente na aparência - ainda não aboliu-se a produção em série - mas o resultado mostrou outra coisa: um possível retorno a um tempo menos tecnológico, mais humano. Foi assim com as coleções de Paula Raia, Animale, Ronaldo Fraga e até do estreante Wagner Kallieno.

A estilista Priscila Darolt, da Animale, valorizou as tradições têxteis do Norte e do Nordeste brasileiro por meio de cores e de texturas como a da renda Renascença. Essa renda, vinda de Pernambuco, teve a sua releitura feita em couro e seda. Bordados regionais, xilogravuras típicas da literatura de cordel e o trabalho da artista Maria Bonomi completaram o caldeirão de inspirações da Animale - que continua a vestir uma mulher sexy, mas um tanto mais brejeira.

DivulgaçãoA alfaiataria caprichada de Herchcovitch e o costume com pegada esportiva de João Pimenta.

Fiel às referências da cultura e das artes brasileiras, o estilista Ronaldo Fraga apresentou sua coleção de verão 2015 inspirada no artista Candido Portinari (1903-1962). "Como o maior pintor modernista do Brasil, a sua principal contribuição foi justamente o olhar sobre o Brasil e suas mazelas", diz Fraga. "No Brasil-novo-rico, a obra de Portinari ainda grita e seu legado é importante nesses tempos desmemoriados e apáticos."

Para o estilista, passada a euforia da globalização, o mundo se volta a um novo luxo: aquele presente nas coisas genuínas. Na coleção de Fraga, há vestidos de tricô de tramas abertas, peças soltas no corpo, que privilegiam a textura rústica e as cores vibrantes. "As roupas dessa coleção se pintam de laranjas e azuis do céu de Portinari, se desenham em formas e volumes fluídos e se revelam em decotes amistosos", diz Fraga. Apesar de certa rusticidade, são peças alinhadas com a estética contemporânea. Como fez Portinari, que se deixou influenciar pelo surrealismo, pelo cubismo e pela arte muralista mexicana, mas que via no Brasil rural a sua principal inspiração.

Paula Raia optou por uma silhueta fluída, com saias que evidenciam o corpo por meio de transparências. A coleção é resultado da observação da estilista sobre o trabalho manual das mulheres indígenas. A trama da esteira de palha foi a principal textura replicada pela estilista em seus vestidos, que em alguns casos ganharam uma espécie de armadura recobrindo o peito e os quadris.

Mas se o Brasil natural deu o tom de belas coleções, houve também quem apontasse para o presente, com referência ao mundo das máquinas e dos robôs. Os acabamentos metalizados foram destaque nos desfiles da grife Pat Pat's, João Pimenta e Vitorino Campos, mas também apareceram em pitadas menores em outras coleções.

DivulgaçãoDa esq. para a dir., a transparência do vestido de Gloria Coelho, o look artesanal da Animale, as peças de couro de Patricia Motta, o vestido tramado de Ronaldo Fraga, o look jeans da Ellus e costume de João Pimenta.

A transparência, outra tendência apontada pela semana, foi um recurso (bem) usado por Giuliana Romanno e Gloria Coelho, entre outras. No quesito moda praia, nada brilhou mais do que o maiô. Melhor definido pelo apelido "body ostentação", o maiô da temporada é tão sofisticado que extrapola o ambiente praiano e pode ser usado no dia a dia, com saias e pantalonas.

Em termos de inovação têxtil, a SPFW foi marcada pelo lançamento mundial do primeiro fio biodegradável da Rhodia - o Amni Soul Eco, apresentado durante o desfile de Ronaldo Fraga. O estilista foi o primeiro a criar peças com o tecido.

Fruto de três anos de pesquisas, o Amni Soul Eco contém aditivos capazes de se decompor mais rapidamente. "A fibra de poliamida demora, em média, algumas décadas para se desintegrar", explica Francisco Ferraroli, presidente da área de negócios Fibras, do grupo Solvay (dono da Rhodia). Já o Amni Soul Eco se decompõe em menos de três anos, segundo o executivo.

"O lançamento é exclusivo, inédito e tem tecnologia brasileira. Além disso, é uma evolução enorme para a indústria", diz Ferraroli. Em termos de conforto e performance, o novo fio segue os mesmo parâmetros da poliamida: toque macio, absorção de umidade e facilidade manutenção.

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