Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Com consumo de cidades, custo incerto de energia preocupa indústrias abastecidas pela CHESF no nordeste

Contrato com Chesf termina em junho e subsídio para insumo é negociado.
G1 visita planta para saber como cogeração de energia pode ser solução.

Às margens da BR-324, entre as cidades Simões Filho e Candeias, está instalado há quase 50 anos o Centro Industrial de Aratu, com 144 empresas de segmentos diversos, do têxtil ao químico, algumas delas com dimensões de cidades de médio porte. Para produzir matérias-primas como propileno, propilenoglicol, ácido clorídrico, soda cáustica, uma dessas fábricas tem consumo de energia que abasteceria um município de 200 mil habitantes, que não são muitos na Bahia - de 417, apenas Camaçari, Feira de Santana, Itabuna, Salvador e Vitória da Conquista têm mais do que isso. Tendo a energia como insumo estratégico e de alto custo no processo de produção, essas indústrias, chamadas eletrointensivas, estão preocupadas com o preço da compra da eletricidade, já que o contrato com a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, que é renovado há 30 anos, se encerra no dia 30 de junho e não há previsão legal de prorrogação.

Um conjunto de sete indústrias na Bahia e outras três em Alagoas, Pernambuco e Ceará são abastecidas pela Chesf com valor subsidiado. Esses grandes consumidores hoje pagam, em média, cerca de R$ 95 pelo megawatt-hora (MWh), incentivo que apoia a competitividade do setor no mercado internacional, dizem as empresas. Um acordo tem sido negociado entre industriais e Ministério de Minas e Energia (MME) para garantir manutenção da produtividade e de novos investimentos, e ao mesmo tempo evitar impactos como demissões em massa.

Etapas da produção de energia(Fonte: Dow)

CULTIVO DA MATÉRIA-PRIMA 10 mil hectares de eucalipto
PRODUÇÃO DA BIOMASSA Árvores são transformadas em cavaco
TRANSPORTE Madeira sai da fazenda via caminhão/trem
PLANTA DE COGERAÇÃO Cavaco é levado a uma caldeira para geração de vapor a alta pressão
ENERGIA O vapor vai para a Dow; a eletricidade é vendida

“Essa energia entra para fazer eletrólise do sal, que faz cloro, matéria-prima importante para essa e outras fábricas. A gente consome aqui de 100 a 120 megawatt-hora. É um consumo bastante grande. Em vapor, é cerca de 250 a 300 toneladas-hora. A energia elétrica é, sem dúvidas, a maior parte da energia do complexo”, explica o diretor Industrial da Dow Química, Rodrigo Silveira.  Para reduzir o impacto no orçamento, uma das soluções apontadas é aumentar a eficiência enérgetica através da modernização dos equipamentos. Outra saída é a criação de parcerias para a produção independente de energia.

No caso da Dow, parte das máquinas funciona apenas a vapor e, numa iniciativa inédita no ramo petroquímico, há cerca de um ano foi inaugurada planta de cogeração de energia com R$ 250 milhões investidos pela Energias Renováveis do Brasil (ERB) no próprio complexo da multinacional, em Aratu. Lá são produzidas energias térmica e elétrica. O vapor é direcionado para consumo da indústria em contrato exclusivo. A elétrica é vendida pela ERB no mercado livre. Para Silveira, a compra direta deu folga significativa no orçamento da Dow Química ao substituir parcela do gás natural comprado até então com a Companhia de Gás da Bahia (Bahiagás). 

 Mesmo com a parceria considerada inovadora, não é planejada adoção de modelo semelhante para a compra de eletricidade em mercado livre. “Não para o volume que temos. Nosso contrato é com a Chesf”, diz.

(ASSISTA: G1 visitou a planta da ERB e explica, no vídeo ao lado, como se dá processo de produção de energia). saiba mais

As eletrointensivas
As eletrointensivas são aquelas em que parte significativa do custo de produção é voltada para a compra de energia, o que pode chegar a 30% do orçamento. Integrantes da indústria da transformação, essas fábricas produzem matérias-primas nos setores químicos, petroquímicos, siderúrgicos, metalúrgicos, de mineração, dentre outros, que são commodities para a cadeia produtiva em geral. De acordo com a Chesf, elas são alimentadas na potência de 230 kV, com limite total contratado de 900 MW, mas usam em média 760 MW de carga em geral.

Instaladas em diversos pontos do estado, a Braskem concentra as fábricas no Polo Industrial de Camaçari. A Dow tem unidades na Ilha de Matarandiba, em Vera Cruz, e em Aratu. Lá também fica a fabricante de aço Gerdau, que tem ainda usinas em Vitória da Conquista, na região sudoeste. A produtora de ferro Ferbasa explora minas no centro-norte (Andorinha, Juazeiro, Senhor do Bonfim e Euclides da Cunha) e tem fábrica de metalurgia em Pojuca.

Além da Bahia, Alagoas, Ceará e Pernambuco têm contrato com a Chesf

A Mineração Caraíba extrai cerca de 900 mil toneladas de minério de cobre na mina-matriz localizada do distrito de Pilar, que pertence à cidade de Jaguarari, norte da Bahia – há ainda uma mina a céu aberto em Curaçá. A Paranapanema instalou uma de suas quatro unidades industriais na cidade de Dias D´Ávila, onde produz cobre refinado. Já a Vale tem uma planta de manganês na sede de Simões Filho.

“Elas são cabeças de ponta das cadeias produtivas. A Braskem, por exemplo, produz eteno, propeno e uma série de insumos para outras empresas. A Ferbasa fabrica metalurgia e vende para outras empresas e por aí vai. Essas empresas têm como principal insumo – ou um dos principais – a energia. Se você pega a transformação de alumínio, mais de 70% [do custo] é com energia”, explica o economista, colunista e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Armando Avena.

O Produto Interno Bruto (PIB) atribui a maior parte da riqueza da Bahia no setor de serviços, numa fatia de mais de 60%. De acordo com a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), atualmente, o setor industrial, que já representou 18% do PIB em 2003, hoje participa em cerca de 10% da atividade econômica regional. Desse total, metade da riqueza produzida é representada pelas eletrointensivas, aponta o Avena. “Esse assunto é de maior importância porque envolve mais de 50% do PIB industrial”, explica.

Polo Industrial de Camaçari fica na região metropolitana (Foto: Egi Santana/G1 BA)Polo Industrial de Camaçari fica na região metropolitana e abriga a Braskem (Foto: Egi Santana/G1 BA)

Um cenário instável
Apesar do esforço do governo federal e das empresas para tentar achar uma solução viável e pôr fim ao impasse da compra massiva de energia, a proximidade data-limite do contrato tem criado clima de tensão no setor industrial do Nordeste. “É muito pouco tempo. O Ministério de Minas e Energia montou um grupo técnico para propor solução e está caminhando. O tempo suficiente passa por uma série de ações que com certeza ultrapassarão essa data”, relata Marconi Andraos, coordenador do Conselho de Responsabilidade Social da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb).

A prorrogação do contrato até dezembro de 2042 estava prevista como emenda na Medida Provisória (MP) 656/14, inserida pelo senador Walter Pinheiro (PT-BA), que foi vetada pela presidente Dilma Rousseff em janeiro deste ano, com posição ratificada após votação, numa diferença de dois votos (41 a 39), no Senado. “O governo conseguiu manter o veto e diz que está conversando. Isso é vital para a atividade econômica. É necessário ter regra clara para o setor. O primeiro impacto é nas contas do estado, pois é a principal atividade de receita. E poderá não só ter redução de impostos, mas redução nos postos de trabalho. Apresentei em protesto a minha discordância”, diz Pinheiro.

A Chesf explora a bacia do Rio São Francisco e opera usinas hidrelétricas e 1 termoelétrica. É a maior geradora de energia do país.

Já no texto do veto a Presidência indicou a abertura de diálogo para achar “opções viáveis” no contexto do novo modelo do setor elétrico. Em justificativa, argumentou que a manutenção da metodologia hoje adotada pode encarecer o preço da tarifa para o consumidor em geral e ainda comprometer a concorrência no setor. “A proposta teria efeitos lesivos à modicidade tarifária do setor elétrico e à concorrência no setor beneficiado. Além disso, transferiria os riscos hidrológicos e eventuais variações nos custos da geração da energia a outros atores, criando possíveis desequilíbrios no mercado”, escreveu.

No contrato que vigora com a Chesf até junho, as empresas são consideradas consumidores cativos, ou seja, têm contratos com concessionária ou permissionária autorizada a distribuir energia num ambiente regulado. Com base em especialistas e entidades consultados pelo G1, a migração para um mercado livre de comercialização de energia geraria contratos de curtos prazos e poderia encarecer em quatro vezes o custo de produção. “Existe uma situação de impasse hoje. Se deixarem a condição de cativo, eles vão ter que consumir energia a um preço mais alto, de cerca de R$ 388 o megawatt-hora. Vão se ver frente à frente com quase quatro vezes a mais, o que inviabiliza a operação. Alguma solução será dada”, comenta o diretor de Energia da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia, Renato Araújo.

Instalada em 1949, só Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso tem cinco hidrelétricas (Foto: Chesf/Divulgação)Instalada em 1949, só Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso tem cinco hidrelétricas (Foto: Chesf)

Impasse no custo de energia
As indústrias não dizem o quanto poderiam pagar a mais no custo de energia, mas avaliam que taxação adicional significativa poderia provocar impactos como fechamento de unidades de produção, demissão de trabalhadores, suspensão de investimentos previstos e corte na oferta de insumos para as outras empresas. “Está todo mundo estressado, passando para um plano B. Tem repercussão em todo o conjunto da cadeia que consome os produtos. O momento é delicado para todas elas”, afirma Marconi Andraos, da Fieb.

A Mineração Caraíba aponta que o custo da energia abrange 6% de toda a produção, depois das despesas com pessoal e com transporte. Eduardo De Come, diretor de Finanças, afirma que o contexto político de crise da água e necessidade de aumento da oferta no país indicava que a renovação do contrato seria vetada, mas avalia como inviável uma falta de subsídio na aquisição de energia. Segundo o gestor industrial, em caso de aumento, o custo com pessoal seria afetado - a mineradora emprega cerca de 2.300 trabalhadores – entre empregos diretos e terceirizados.

“Não temos interesse em migrar para o mercado livre. O nosso desejo é manter o contrato com a Chesf. Não tenho espaço para arcar com nenhum aumento. Hoje já temos enfrentado redução relevante no preço do cobre. Tenho pouca margem de manobra para outros custos. O aumento de energia começa a criar constrangimentos. Teria que tratar de pessoal, porque, no transporte, a margem é pequena com custo de combustível. Se a energia pressionar, o que sobra é o pessoal”, aponta.

Com atuação no segmento de cobre, na Paranapanema, o consumo de energia representa 1% do custo total de produção. A empresa diz que preço maior pode afetar a competividade dos negócios, só que com efeito menor do que em outras eletrointensivas. “A Paranapanema destaca que se instalou na Bahia, na década de 1970, juntamente com outras indústrias, em função de um conjunto de incentivos que visava ao desenvolvimento industrial baiano, entre eles, o contrato com a Chesf”, destaca.

A busca da Braskem é pela manutenção do contrato com a Chesf. “A companhia entende que o custo e a disponibilidade de energia são requisitos primordiais para a competitividade do setor industrial brasileiro”, relatou à reportagem. A Gerdau também insiste na manutenção do modelo atual. “Uma eventual não renovação dos contratos que a empresa possui com a Chesf poderá trazer significativa perda de competitividade nas usinas da Gerdau na Bahia e em Pernambuco e, consequentemente, uma adequação dos planos de produção dessas unidades”, retrata. A Dow, que também tem a energia como base da cadeia produtiva, defende o direito de ser atendido pelo mercado cativo. “Estamos confiantes de que encontraremos solução que atenda ao governo, às empresas e ao Nordeste e reconhecemos os esforços do MME”, comenta. Procurada, a Ferbasa foi a única que não se posicionou.

Vista de uma das fábricas do Polo Industrial de Camaçari (Foto: Egi Santana/G1 BA)Vista de uma das fábricas do Polo Industrial de Camaçari (Foto: Egi Santana/G1 BA)

O futuro das eletrointensivas
Como opção em longo prazo, o Ministério de Minas de Energia propôs a criação de um fundo de R$ 20 bilhões para aumentar a geração de energia elétrica destinada às eletrointensivas instaladas no Nordeste, mas também consumidores em geral, a partir da liberação de energia hoje usada por essas empresas. Com essa mudança, um novo modelo de financiamento de energia pode ser criado para o setor, informa o Ministério. O projeto está em fase de estudos avançados e vai ser apresentado à presidente Dilma Rousseff. “Com o fundo, o subsídio deixa de ser um peso para o Tesouro e passa a ser uma alavanca para o desenvolvimento do Nordeste”, defendeu Eduardo Braga, em audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado no mês de abril.

De acordo com a  Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), entidade que representa o setor, não somente é preciso encontrar solução para o vencimento dos contratos, como também é necessário construir uma estrutura para que a indústria brasileira tenha acesso à energia competitiva. “Há entendimento sólido sobre a obrigatoriedade do atendimento a essas empresas, uma vez que nunca fizeram a opção de serem consumidoras livres”, avalia. Na opinião da Abrace, a compra direta e subsidiada é “equilibrada” para a Chesf e para os compradores. “As consequências do fim dos contratos têm sido apontadas como muito prejudiciais à economia do Nordeste e absolutamente dramáticas para alguns estados, como Alagoas e Bahia. Ao mesmo tempo, entendemos que há sensibilidade para o problema por parte de lideranças políticas”, destaca. O G1 tentou mais detalhes sobre o projeto do fundo, mas o MME disse que ele está em construção.

FONTE: http://g1.globo.com/bahia/noticia/2015/05/com-consumo-de-cidades-cu...

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