À medida que um visual mais sério e polido ganha força, a moda demonstra uma valorização do “nerd” para além da estética.
A tendência de se vestir com looks que são a cara do escritório já foi chamada de office siren, demure e até “CLT Core”, em alusão à Consolidação das Leis do Trabalho. É fato que, se na pandemia atingimos o ápice de uma moda que buscava o conforto, desde o seu fim houve uma guinada em uma direção mais formal, não apenas em festas e ocasiões sociais, como também no cotidiano.
Esse movimento já tomou diversas roupagens desde então, a principal delas sendo o quiet luxury, que domina a moda desde a temporada de inverno 2022/23 e não dá sinais de deixá-la. Sua mais recente vertente está um pouco mais “caxias”. Mas não pense nos geeks da segunda década dos anos 2000 com suas camisetas gráficas e referências ao universo dos super-heróis.
Se o preppy se originou nos uniformes de escolas preparatórias e internatos, esse novo visual “certinho” é uma versão amadurecida desses adolescentes: pense em suéteres bem engomados de cashmere, cardigãs sobrepostos a camisas de botão e gravatas estampadas – tudo muito bem acompanhado de óculos fundo de garrafa com hastes bold e mocassins ou sapatilhas. As referências aos anos 1990 ganham destaque, evocando o mais tradicional vestuário de escritório, com cores sóbrias, como cinza, marrom e preto, e muitas peças de alfaiataria com cortes retos, saias-lápis, cardigãs e suéteres.
Como não lembrar de Mia Goth, musa do cinema de terror, desfilando para a Miu Miu no inverno 2023/24 a bordo de um cardigã cinza de botão, uma saia-lápis de poás preta e um coque propositalmente cheio de frizz? A estética recordava algo como a clássica imagem de uma secretária do seriado "Mad Men", situado na Nova York dos anos 1960, atrasada para o trabalho. Foi nesta coleção que o Regard, atual óculos hit da marca, com armação tartaruga e lente ovalada, apareceu pela primeira vez.
Em janeiro deste ano, no desfile masculino da Prada, não faltaram gravatas, suéteres e camisas de botão, inclusive com uma combinação de suéter e cardigã em cores complementares que se repetiu em fevereiro, no feminino, entre a multiplicidade de pulôveres de tricô sobrepostos a camisas listradas, saias-lápis e blazers em tom de cinza ou com risca de giz. Na mesma temporada de inverno 2024/25, na Loewe, camisas de botão foram estilizadas com gravatas pretas, sobrepostas a suéteres com gola V e combinadas a calça de alfaiataria oversized – tudo arrematado com o popularmente conhecido corte de cabelo de “cuia”.
Nenhuma tendência vem sem um porquê. Principalmente quando falamos de mentes engenhosas como Miuccia Prada, Raf Simons e Jonathan Anderson. No auge da era da desinformação que vivemos, além das polarizações políticas, um resgate da intelectualidade é muito bem-vindo. A 27ª Bienal do Livro, realizada em setembro em São Paulo, foi a maior dos últimos dez anos, com a venda de mais de 3 milhões de livros e quase 10% mais público do que o esperado (segundo dados da Câmara Brasileira do Livro). De acordo com uma pesquisa do instituto norte-americano Pew Research, a geração Z vem lendo mais do que as anteriores, com 70% dando preferência aos livros impressos – e a moda já se ligou nesse movimento.
Em 2021, a Chanel lançou a primeira edição de seu Clube do Livro, em parceria com Charlotte Casiraghi, e a etiqueta segue publicando anualmente uma lista de sugestões de leitura desde então. Emabril deste ano, a Miu Miu organizou um clube literário em Milão e, em junho, criou o “Summer Reads”, uma iniciativa que montou pop-ups em oito países para distribuir literatura feminista. Dua Lipa, Kaia Gerber e Dakota Johnson são algumas das celebridades que também criaram seus próprios clubes literários online. No fim do ano passado, Jacob Elordi viralizou no TikTok após ser fotografado com livros nos bolsos de sua calça cargo. Além dele, Hailey Bieber, Marc Jacobs e Bella Hadid têm compartilhado suas leituras no Instagram.
A moda sempre teve uma relação com as artes e agora tem se direcionado para a literatura, seja nas roupas ou em suas ações de marketing. Faz sentido: historicamente, o significado da palavra “luxo” tem a ver com desfrutar de uma vida de ócio e tempo livre. Ora, ler um livro não apenas demanda tempo, mas é um convite para pensar.
https://vogue.globo.com/moda/noticia/2024/11/como-a-estetica-e-life...
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