Quando se trata de identificar a inspiração por trás de suas coleções, os designers de moda são rápidos para creditar a arte, a música e as viagens. As feiras têxteis, nem tanto. Ainda assim, em conjunto com destinos como a feira de arte de Frieze, a Bienal de Veneza e Coachella, muitos designers fazem a peregrinação bianual para Paris para a feira têxtil Première Vision, ou ‘PV’ como é carinhosamente conhecida, em busca de ingredientes essenciais que poderão ajudar a diferenciar suas coleções. De fato, algumas das mais fortes tendências na recente estação Outono/Inverno 2015 demonstram terem sido influenciadas pelos tecidos apresentados na PV, da lã e peles até ao veludo, o veludo cotelê e couro tingido.

Duas vezes ao ano, nos 2.647.922 pés quadrados do imenso Parc des Expositions, ao longo de oito galerias catedráticas, resmas de jacquards de seda, laços emborrachados e tecidos técnicos agrupados (para citar apenas alguns) são colocados em exposição por tecelagens disputando a atenção de designers itinerantes.

A Première Vision — a maior feira têxtil do mundo — foi fundada em 1973 por um grupo de quinze tecelões de Lyonnais que buscavam promover seus tecidos. Apesar de o seu tamanho ter inflado desde então (a instalação de fevereiro da feira de Paris atraiu 1.792 expositores e 58.443 visitantes, além de outras feiras PV menores acontecerem atualmente em Nova York, Istambul, Barcelona, São Paulo e Xangai), sua raison d’être não se distanciou muito da ambição original dos tecelões.

Para cumprir sua missão, a Première Vision investe pesado na previsão de cores, design e estilos, definindo e promovendo tendências desenvolvidas em parceria com as tecelagens. “A Première Vision tem um comitê que define as cores para a estação, com os próprios tecelões e os diversos grupos de estilos… grande parte do espaço da galeria em Paris é concedido para estilo e tendência”, diz Peter Ackroyd, vice-presidente do quadro estratégico da Première Vision e consultor estratégico global para a Woolmark Company. A abordagem ajuda a garantir que as tecelagens sigam a tendência e não fiquem com montes de tecidos não vendidos ao final da feira. Outras feiras têxteis grandes, como a Milano Unica e a ISPO em Munique, utilizam uma estratégia similar.

Mas, a cada estação, entre a abundância de tendências têxteis em exibição, somente algumas são realmente seguidas. Então, o que as separa das demais?

O desempenho de vendas é um indicador crítico, obviamente. Edward Crutchley, consultor de design têxtil para a Louis Vuitton e designer de sua própria linha de roupas masculinas, relaciona a popularidade do veludo (um hit das passarelas Outono/Inverno 2015) ao seu sucesso comercial. “Uma parte é marketing e orientação de vendas, como o veludo, por exemplo. O veludo sempre vende bem por ser considerado luxuoso. Você terá um casaco de veludo, e ele venderá, então haverá duas ou três estações em que o pessoal de vendas e marketing dirá, ‘Precisamos realmente de um casaco de veludo, as vendas serão muito melhores’ e veremos veludo por duas ou três estações”.

Apoiados por uma grande demanda, os tecidos podem ser ocasionalmente um sucesso durante anos. Para Pascaline Wilhelm, diretora de moda da Première Vision, a tendência do tecido de neoprene ‘de mergulho’  durou muito mais do que ela esperava. “Às vezes, as tendências duram muito tempo! Temos falado sobre tecido para mergulho por anos — Estou certa que você também considera que este tecido acabou — mas o mercado global ainda precisa dele”.

Marcas de grande influência, que criam seus próprios tecidos internamente, também ajudam a popularizar tendências têxteis que atingem a indústria em geral. Crutchley identificou uma inovação interna da Céline como a origem da onda de tecidos mistos exibidos na Première Vision. “Existem muitas combinações acontecendo — malha com couro, algodão com alguma coisa e etc., pelo fato da Céline estar fazendo isto por tanto tempo. Todo mundo estava lançando suas próprias criações ou pedindo para as tecelagens: ‘Você consegue juntar isso?’. As misturas começaram a aparecer nas coleções têxteis talvez uns dois anos atrás, e havia umas quatro ou cinco pessoas trabalhando nisso. Agora, cada tecelagem encontrou um lugar para fazer isto e todas estão seguindo”.

Nos últimos anos, os designers se voltaram para a diferenciação dos tecidos, gerando o que Wilhelm descreve como uma “revolução industrial” na produção têxtil, “menos produção de tecidos com mais personalização”.

Para o designer Ermanno Scervino, que apresentou laço guipure, xadrez escocês e lã, assim como peles, na passarela para sua exibição de roupas femininas Outono/Inverno 2015, uma seleção apresentada pelas tecelagens como o ponto inicial para o desenvolvimento de tecidos customizados. “Para a Primavera/Verão 2015, por exemplo, eu queria criar os vestidos realizados com alta costura e um tipo original de vime que nós mesmos produzimos com maquinário específico… Trabalhamos com fabricantes e fornecedores italianos e internacionais. Eles nos apresentam os tecidos mais inovadores, que são o ponto inicial para a criação de materiais novos e exclusivos a cada temporada”. 

Do mesmo modo, JW Anderson, que usou veludo, lã e couros tingidos em sua apresentação da linha masculina Outono/Inverno 2015, desenvolve tecidos customizados e recebe sugestões de produtores têxteis. “Depois das feiras, todos os tecidos e pesquisas retornam e partirmos daí para decidir a melhor e nova direção para a temporada,” diz o designer Jonathan Anderson. “Algumas temporadas você consegue tomar uma decisão antecipada — por exemplo, nós queremos estas texturas esta temporada, então vamos em frente e buscamos… Empresas texteis nos apresentam suas novas coleções. No entanto, na JW Anderson estamos selecionando com base em nossas inspirações e climas, e desenvolvemos nossos tecidos com tecelagens alinhadas com nossas inspirações”.

Julie de Libran, em sua segunda temporada como diretora criativa na Sonia Rykiel, também cria tecidos em parceria direta com as empresas têxteis. “Eu forneço uma direção sobre quais tipos de tecidos eu procuro para a temporada e começamos a buscar coleções de tecidos nesta direção… mas geralmente criamos nossos tecidos com as empresa têxteis”

.http://www.abit.org.br/n/como-os-tecidos-orientam-a-moda